Cristofobia explícita no Chile e o silêncio da esquerda

Cristofobia explícita no Chile e o silêncio da esquerda

Cristofobia foi uma palavra que invadiu as redes sociais recentemente, depois de mencionada no discurso do presidente Jair Bolsonaro na ONU, que alertou o mundo para o crescimento de crimes contra religiões e pessoas que seguem os ensinamentos de Cristo.

Na época políticos de partidos de esquerda foram rápidos em dizer que isso não existia, como se não houvesse casos e mais casos pelo mundo de perseguição a cristãos e de destruição de igrejas católicas e protestantes. Aqui mesmo no Brasil, em protestos feministas, vimos o desprezo a símbolos do cristianismo.

Há poucos dias o Chile viu a cristofobia ao vivo, cometida à luz do dia, de forma explícita. O mundo inteiro viu, aliás, porque não demorou para as imagens do vandalismo contra igrejas católicas correrem soltas pela internet.

Quem não foi tomado por profunda tristeza ao ver a cena daquela torre da igreja chilena de La Asunción caindo é qualquer coisa, menos tolerante e empático. Quem não se viu consumido por imensa revolta diante da imagem dos manifestantes celebrando a vitória das chamas é tudo menos um defensor de justiça social, paz, igualdade e democracia, bandeiras que os manifestantes diziam defender.

Tão grave quanto a violência dos manifestantes chilenos, que para reclamar do governo, de direita, descambam para a intolerância religiosa é a hipocrisia dos que se calam diante de tamanho absurdo, simplesmente porque seguem a mesma ideologia política dos vândalos.

Por que as igrejas cristãs são alvos de ataques da extrema-esquerda?

O porquê dos protestos

O que ocorreu na capital do Chile no último domingo (18) já chamava a atenção antes mesmo de descambar para a depredação de igrejas, consolidando o crime de cristofobia que muitos insistem em não ver.

Praticamente todas as publicações mencionavam “celebração” do aniversário de um ano dos protestos no país que, em 2019, começaram por causa do aumento nas passagens de metrô em Santiago, parecido com o que ocorreu no Brasil em junho de 2013.

Só que os protestos chilenos do ano passado já tinham sido extremamente violentos, com saques, depredações e até mortes durante os tumultos, reprimidos pela polícia. “Celebração” é uma palavra que não combina com a lembrança de dias de terror e caos.

5 pontos para entender os protestos violentos no Chile

Mas vamos falar dos alvos escolhidos para extravasar esse repúdio ao governo de direita de Sebatián Piñera. Os vândalos, que em 2019 já tinham incendiado igrejas, acharam de novo que atos de cristofobia eram demonstrações de busca por justiça social e paz! Como é possível exigirem paz promovendo violência? Que oposição, em sã consciência, acha que o caminho para o diálogo com o governo é queimar igrejas?

Algumas publicações tentaram minimizar o ocorrido dizendo que a cristofobia foi praticada por terroristas de esquerda, um pequeno grupo em meio a milhares de manifestantes pacíficos, mas não eram indivíduos isolados. Quando as chamas se alastraram e a torre de uma das igrejas incendiadas caiu, dezenas comemoraram diante das câmeras (e centenas aos gritos, ao redor) como se tivessem vencido uma batalha. Quem é o inimigo? Pelo que foi divulgado os manifestantes querem mudanças na Constituição. É atacando igreja que se consegue isso?

Reações à Cristofobia do Chile

Além das notícias de “celebração” de aniversário de protestos e das imagens de manifestantes comemorando a queda da torre da igreja de La Asunción, o que se ouviu a respeito desses episódios foi apenas o repúdio dos conservadores e liberais, que sempre defendem as liberdades, inclusive a de crença religiosa, embora normalmente sejam acusados de intolerantes.

Chamou a atenção o silêncio por parte da turma que se diz a grande protetora dos direitos humanos, das minorias e até da democracia. Aqui no Brasil os declarados “progressistas”, autoproclamados ícones de tolerância e empatia, ficaram quietos, completamente alheios ao que aconteceu no Chile. Seria porque as manifestações tinham bandeiras dos movimentos associados à esquerda e eram contra um governo de direita?

Fico imaginando como estaria a indignação nas redes sociais se em vez de igrejas os ataques tivessem sido, por exemplo, a templos budistas ou a terreiros de candomblé. Por acaso igreja católica ou protestante, sinagoga, templo budista, terreiro de candomblé, de umbanda, da crença que for, pode ser destruído conforme a irritação de quem sem manifesta na rua, seja lá com qual propósito?

E por acaso repudiar atos assim é pauta de Direita ou de Esquerda? Paz e justiça social deveriam ser o foco de toda e qualquer corrente política; assim como o respeito e a tolerância a todos os seres humanos, independentemente de idade, raça, cor, sexo, orientação sexual ou religiosa, como, aliás, está na nossa Constituição. Perante a lei são todos iguais. Ou deveriam ser.

É bom a gente refletir sobre essa “meia tolerância” de parte da sociedade e essa empatia selecionada, que se coloca a favor de manifestantes violentos alegando que a causa é justa e fecha os olhos para o crime de cristofobia dos vândalos, desde que estejam alinhados no pensamento político.

Os sequestradores dos termos “tolerância” e “empatia” são os mesmos que chamam de democráticas e “comemorativas” manifestações como essas do Chile e de antidemocráticas, as passeatas pacíficas aqui do Brasil, onde famílias vão unidas para a rua, levando suas reivindicações e sua indignação apenas em faixas e cartazes, sem paus, pedras, bombas de fabricação caseira e um ímpeto destruidor.

Está mais do que na hora de tratar as coisas pelo que elas realmente são: tolerância e empatia, termos que a esquerda tenta monopolizar, não são conceitos que permitem meias interpretações.

Quem vai para a rua pedir justiça social, como dizem ter ido os manifestantes chilenos contrários ao governo de centro-direita, não comete a injustiça de sair depredando patrimônio público, lojas, meios de transporte e destruindo templos religiosos considerados sagrados por quem segue aquela religião.

Também não existe empatia verdadeira se a aceitação é apenas dos semelhantes e prega-se repúdio a quem segue ideias e crenças diferentes.

A raiz do ódio religioso

Esse episódio do ataque a igrejas no Chile, celebrado por muitos (ou simplesmente ignorado por muitos), me fez lembrar não só dos antifas brasileiros, que na época em que abandonaram a quarentena para cometer atos de vandalismo chegaram a ser descritos como pró-democracia, mas também de dois casos em que não houve depredação ou violência física, mas muito deboche ao mais seguido de todos os líderes espirituais e a uma de suas seguidoras, apenas por ela acreditar nele.

O líder a que me refiro é Jesus Cristo. E os dois casos que mencionei são aquele vídeo de Natal do Porta dos Fundos, que mostra um Jesus homossexual, algo considerado ofensivo pela maioria dos cristãos, e as piadinhas e comentários maldosos tentando ridicularizar a ministra Damares Alves, simplesmente por ela ter dito que, quando criança, viu uma imagem de Jesus num momento de muito desespero e foi salva por essa visão.

Não foi um relato qualquer. A ministra, que é pastora evangélica, estava num culto, conversando com pessoas que compartilham das mesmas crenças. Fez um desabafo sobre um momento muito sofrido da sua infância, em que ela dizia estar prestes a tentar cometer suicídio jogando-se da goiabeira onde buscava refúgio depois de sofrer violência sexual. Na hora de fazer piadas ignoraram tudo isso.

Eu não tenho dúvidas de que quem debochou daquele relato da ministra, da fé que ela demonstrou ter, da imagem que ela acredita ter visto, espalhou intolerância religiosa e ódio ao diferente. Tiraram o relato do contexto, jogaram na mídia e deixaram rolar solto o discurso de desprezo, sem qualquer compaixão pela dor de uma criança que sofreu abusos, que pensou em se matar e se apegou a uma imagem de um guia espiritual para buscar salvação. E sem qualquer respeito à mulher que ela se tornou, ao trabalho que faz por outras pessoas, muito por causa do que viveu.

Falam tanto de discurso de ódio, mas fingem ignorar que a raiz do ódio está nas próprias falas. Cheguei a ouvir gente assumindo que tem preconceito contra “evangélicos radicais” citando esse caso da ministra, como se fosse radical uma criança acreditar em Cristo como caminho para a salvação ou a cura de um sofrimento psicológico muito grande, ou como se fosse radical uma adulta, na condição de pastora, durante um culto religioso, fazer um relato daqueles para fieis da mesma igreja.

Radical é debochar dos outros por não acreditar nas mesmas coisas. E botar fogo em igreja para mostrar indignação com a política. Aliás, isso é muito mais que radical, é criminoso mesmo.

Vale lembrar que tempos atrás, aqui no Brasil, exigiram da Justiça um posicionamento sobre homofobia. Por falta de legislação específica o STF decidiu legislar, igualando homofobia a racismo. E a cristofobia, que a gente tá vendo agora, não deveria ser considerada crime?

A violência contra cristãos e o ataque a símbolos religiosos, a locais de oração e a templos não podem ser tolerados. É preciso repudiar todo e qualquer ato de ódio ou intolerância religiosa. Ficar em silêncio não é apenas sinal de hipocrisia, mas também de conivência. Como diz o ditado, quem cala, consente.VEJA TAMBÉM:

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Cristina Graeml

Cristina Graeml é jornalista formada pela UFPR (1992). Trabalhou como repórter de TV por 26 anos, fazendo coberturas nacionais e internacionais. Em 2010 fez parte da equipe que ganhou o Prêmio Esso e o Prêmio Tim Lopes de Jornalismo Investigativo, entre outros, pela série Diários Secretos da Assembleia Legislativa do Paraná. Está na Gazeta do Povo desde 2018. **Os textos da colunista não expressam, necessariamente, a opinião da Gazeta do Povo.

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