O legado do Troféu Sereia de Ouro

Criada em 1971, pelo industrial Edson Queiroz, a principal comenda do Ceará se reinventa, traduzindo o espírito pioneiro, inventivo e solidário do povo cearense

Aos leitores,

Neste ano, entregaríamos pela quinquagésima vez o Troféu Sereia de Ouro, motivo de grandes emoções em nossa família e de enorme responsabilidade perante a sociedade. Contudo, o momento é excepcional. Levar adiante a premiação, com respeito e honradez, no nível de exigência que temos com a comenda, requeria mudanças. 

Nasceu assim uma campanha em homenagem ao cearense, enaltecendo a força, a luz e a garra de nosso povo. Reunimos histórias de 50 personagens que transmitem a toda sociedade o nosso sentimento diante dos desafios atualmente impostos ao mundo. Somos fortes! Temos tenacidade, presença de espírito e bom humor para vencer as adversidades que nos sejam apresentadas. 

O nosso povo não se dobra. Através destes exemplos de superação e ação, veremos o quanto devemos ter orgulho da nossa terra, do nosso sangue e das contribuições do nosso povo. Quando um cearense ganha o mundo, o mundo ganha. 

Assim, o evento que já aconteceu por 49 vezes deu lugar, neste ano, a uma campanha que vem sendo vista na TV Verdes Mares e na TV Diário durante o mês de setembro e que será publicada, a partir de hoje, no Diário do Nordeste. 

Agradecemos aos nossos convidados pelo apoio e exemplo, com suas histórias de cearensidade que estimulam a trilhar o sucesso com perseverança renovada, pois essa é uma característica marcante de quem somos e que nos dá orgulho. 

Obrigado a todos os cearenses, por existirem e resistirem. Contamos com nossa força sempre!

Abelardo Rocha 
Presidente-executivo do Grupo Edson Queiroz

Abelardo Rocha
Legenda: O presidente-executivo do Grupo Edson Queiroz, Abelardo Rocha, no palco do centenário Theatro José de Alencar, na edição de 2019

O legado cearense

Destacar o mérito de cearenses vitoriosos em suas atividades profissionais: foi com essas palavras que Dona Yolanda Vidal Queiroz definiu, com precisão, o objetivo do Troféu Sereia de Ouro, na apresentação do livro editado por ocasião dos 40 anos da comenda. A condecoração foi instituída por seu marido, o industrial Edson Queiroz, em 1971, um ano depois da fundação da TV Verdes Mares. O troféu foi inspirado no símbolo da emissora, a sereia desenhada pelo artista Mino Castelo Branco.

Por causa da pandemia e da exigência de serem adotadas medidas de proteção para minimizar riscos de contágio, neste ano não será realizada a premiação do Troféu Sereia de Ouro. Por consequência, não haverá entrega de comendas nem sereiados. Ainda assim, o Sereia de Ouro se reinventou em sua edição 2020. Ao longo de setembro, uma campanha especial tem destacado 50 personagens, referências do povo cearense. 

Os critérios da honraria

“Ao instituir a comenda, o chanceler Edson Queiroz estabeleceu como critérios para escolha dos agraciados a honradez, o talento e o sucesso profissional, qualidades que constituem um modelo cívico para novas gerações”, relembrou Dona Yolanda Queiroz, na entrega da honraria de 2009.“A galeria dos sereiados apresenta um perfil abrangente do caráter e da genialidade do povo cearense, podendo-se dizer que uma grande parte da história do Estado é traçada pelas realizações das personalidades detentoras do Troféu”, delineou.

Com edição anual, a comenda do Sistema Verdes Mares premiou, anualmente, a partir de sua primeira edição, quatro personalidades notáveis, de áreas diversas, convergindo num espírito de civismo, de inquestionável talento e capacidade de transformação em benefício da sociedade – não apenas da comunidade cearense, diga-se.

Ao longo dos anos, o Troféu também trouxe para primeiro plano pessoas que, nascidas em outros estados, deram importante contribuição para o Ceará; e cearenses que, fixando-se em outras partes do Brasil e do mundo, levaram consigo a tenacidade e a criatividade que são marcas do povo dessa terra. 

Dona Yolanda Queiroz
Legenda: Dona Yolanda Queiroz, lendo o tradicional discurso em homenagem aos agraciados, na edição do ano de 1998 do Troféu Sereia de Ouro

A definição do que leva alguém a ter seu nome escolhido encontra uma fórmula precisa em outro discurso de Dona Yolanda Queiroz, proferido na cerimônia de 1990:“Temos exaltado, pelo merecimento, destacadas figuras da vida brasileira, notadamente aquelas cujas atividades transcenderam interesses pessoais e particulares e espalharam benefícios, favores e notoriedade à terra alencarina e ao seu povo”.

A cerimônia

Em 49 edições presenciais, o Troféu Sereia de Ouro destacou a trajetória de sucesso de 196 personalidades cearenses. A seleção de cada ano traduz a pluralidade do talento cearense – contempla homens e mulheres das ciências, das artes, dos negócios, da iniciativa privada, do serviço público, além de figuras abnegadas, reconhecidas por sua doação aos mais necessitados.

Edson Queiroz
Legenda: Edson Queiroz instituiu a comenda em 1971, com o objetivo de destacar personalidades do Ceará, celebrando honradez, talento e sucesso profissional

A primeira cerimônia de entrega foi realizada nos jardins da TV Verdes Mares e repercutiu instantaneamente. “Foi uma festa que tomou uma dimensão tão grande na cidade, à época, de maneira tal que foi se avolumando o número de convidados, de pessoas interessadas em participar da comenda. Em pouco tempo, Dona Yolanda achou que a solenidade estava muito informal e sugeriu reformular tudo”, reconstitui o jornalista Pádua Lopes, ex-diretor superintendente do Diário do Nordeste, que esteve presente na ocasião. 

“Dona Yolanda era a alma mater das cerimônias da Sereia de Ouro”, precisou a escritora Ângela Gutiérrez, agraciada na edição de 2016 do Troféu, em seu discurso de agradecimento. “Durante quase cinco décadas, Dona Yolanda dignificou a entrega do Troféu Sereia de Ouro com a fortaleza dos cearenses que enfrentam a vida de cabeça erguida e a gentileza dos filhos de nossa terra acolhedora”, relembrou, na ocasião, a atual presidente da Academia Cearense de Letras (ACL).

Foi em 1975 que a cerimônia ganhou sua forma definitiva. O Troféu passou a contar com um roteiro bem urdido e seguido à risca. É conhecido pela elegância, uma marca de seus organizadores. Um novo espaço foi necessário para receber a cerimônia que havia se transformado em festa, com jantar de gala. Nos próximos anos, o Troféu Sereia de Ouro passou a ser entregue no salão nobre do Ideal Clube, onde ficou até 2006. 

Sereia de Ouro
Legenda: Dona Yolanda Queiroz, ao lado do filho, o chanceler Airton Queiroz, na recepção dos convidados da cerimônia de 2012

A única exceção aconteceu no ano de 1982, por causa da morte de Edson Queiroz. Chegou-se a aventar a possibilidade de adiar a edição daquele ano, mas a família do industrial não teve dúvida em mantê-la, mesmo no momento de luto. A entrega do Troféu foi mantida, mais uma vez destacando quatro importantes personalidades. Contudo, o momento exigiu uma cerimônia mais restrita, realizada no antigo Centro de Convenções.

O crescimento de Fortaleza e a dificuldade de operacionalizar um evento de tal dimensão motivaram sua mudança de local. Depois de duas edições no La Maison Dunas, a solenidade foi levada para o centenário Theatro José de Alencar, em seu palco nobre e nos jardins. 

Edson Queiroz Filho
Legenda: O industrial Edson Queiroz Filho faz o discurso de homenagem aos agraciados de 1987

Panteão

Uma forma privilegiada de se reconstituir as últimas cinco décadas do Ceará, no que elas tiveram de melhor, é a partir da lista de personalidades agraciadas com o Troféu Sereia de Ouro. Para o jornalista Pádua Lopes, ao rememorar os nomes dos agraciados, é possível se ter a noção exata da “evolução do pensamento e do sentimento da sociedade cearense em cada época”, pois a comenda “acompanha os tempos e os fatos positivos que estão em maior evidência”.“A lista de agraciados com o Troféu Sereia de Ouro é um verdadeiro panteão, ou seja, estão ali heróis do Ceará. Pode-se contar a história do Estado, a partir da comenda, na arte, na literatura, no empresariado, na vida militar e na religiosa. Todas as profissões estão contempladas, de alguma forma, nessa relação. É um caleidoscópio que você pode olhar e se encher de orgulho”, define.

Sobre o momento da outorga, Pádua Lopes não titubeia: “a força da festa está no brilho dos próprios escolhidos. Eles são as estrelas que iluminam o palco naquele dia”.

Sentimento comum entre os agraciados é justamente o de se felicitarem com admirável companhia. “A comenda oportunizou, de maneira irrestrita, aos cearenses conhecerem irmãos e irmãs responsáveis por soerguer a reputação do Estado. Ela aproximou o legado destes conterrâneos à memória da sociedade local”, avalia o professor e ex-reitor da Universidade Federal do Ceará (UFC) Roberto Cláudio Frota Bezerra, agraciado com a distinção em 2002.

“O Sereia de Ouro é um troféu que todos nós, empresários, almejamos”, explica Beto Studart, um dos quatro homenageados de 2018. “O desejam, principalmente, aqueles que são trabalhadores, que vivem para o negócio e são preocupados com seu Estado. Eu sempre o almejei”, revela o empresário, que já esteve à frente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec).

Exemplo

Reconhecido internacionalmente pelo trabalho à frente do Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos (NPDM), que desenvolveu um curativo para queimados a partir da pele de tilápia, o cientista Odorico de Moraes afirma que a projeção dada à carreira pela comenda é sem par. “Continua repercutindo até hoje”, conta ele, outro dos agraciados de 2018.

Em sua sala, o Troféu fica ao lado da Ordem Nacional do Mérito Científico (2010), mais alta distinção dentre os cientistas brasileiros. Odorico explica que viu, em sua homenagem, uma aclamação à ciência, por parte da sociedade. “É o reconhecimento de um trabalho que faço há mais de 40 anos nesse ramo da pesquisa. Demonstra a valorização da sociedade e também sublinha o nosso trabalho”, explica o cientista.

“Se espelhar no criador do Troféu Sereia de Ouro é bom. É fazer uma transformação enorme para si e pelos demais”, ensina o empresário Honório Pinheiro, homenageado em 2009. “Para os cearenses é um destaque singular. Para mim, não foi diferente. É uma escolha que, além de nos deixar honrado, nos faz crescer pelo ponto de vista da responsabilidade que você assume, como cidadão e cearense”, enaltece.

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