Agora é nos EUA: redes sociais censuram Madonna, filho de Trump e médica de Houston

Cantora Madonna teve uma publicação apagada do Instagram sob acusação de conteúdo falso

A censura contra Madonna, o filho de Trump e uma médica de Houston, todos de alguma forma impedidos de se comunicar livremente com seus seguidores nas redes sociais esta semana, é a versão internacional do ataque à liberdade de expressão que estamos vendo também aqui no Brasil.

É um ataque sórdido, não só pela violência de usurpar o direito fundamental à livre expressão do pensamento, garantido a todos os cidadãos em qualquer democracia que se preze, mas porque vem travestido de defesa. Seria cômico se não fosse trágico: ataque fantasiado de defesa!

Lá, como cá, os inquisidores alegam estar tirando o direito de determinadas pessoas se manifestarem publicamente, porque o que elas dizem é mentira, ou “fake news”, para usar o termo genérico (e vago) adotado pelas plataformas digitais americanas que administram as redes sociais e até pelo Supremo Tribunal Federal brasileiro.

Entenderam a jogada? Como Madonna, Donald Trump Jr. e a Dra. Stella Immanuel emitiram opiniões apontadas por alguns como questionáveis era preciso que alguém tomasse uma atitude. Assim, atacar a liberdade de expressão deles foi mera consequência da defesa da suposta verdade dos fatos.

Mas quem tem sabedoria suficiente, afinal, para definir o que é verdadeiro ou falso na formulação de uma opinião?

Censura à brasileira

Já falei sobre censura por duas vezes esta semana aqui na coluna. Na segunda (27) ao entrevistar o advogado criminalista Elias Mattar Assad, lembrei dos 16 perfis bloqueados pelo Twitter e pelo Facebook dias antes, a mando do ministro Alexandre de Moraes.

Todos os punidos com o impedimento de falar a seus seguidores nas redes sociais são apontados como disseminadores de informações falsas, embora não haja qualquer acusação formal contra nenhum deles.

Na terça (28) voltei ao assunto fazendo uma analogia entre a escancarada ditadura da toga, que censura para amedrontar, e aquela implantada pelos porcos que lideraram A Revolução dos Bichos, no clássico da literatura de George Orwell. O autor também foi, aliás, alvo de censura, já que vários editores recusaram-se a publicar sua sátira aos tiranos da revolução russa, alegando que causaria constrangimento.

E não é que me vejo obrigada a voltar ao tema por causa dos arroubos autoritários dos empresários americanos Mark Zuckerberg (dono do Instagram, Facebook e WhatsApp) e Jack Dorsey, Evan Williams, Biz Stone e Noah Glass, fundadores e proprietários do Twitter?

Os mesmos que há poucos dias se viram obrigados pelo STF a bloquear contas de usuários de suas plataformas digitais agora resolveram, eles próprios, promover censura a pessoas que publicam coisas com as quais não concordam. Quem diria que Alexandre de Moraes faria escola tão rápido!

Censura à moda americana

Nos Estados Unidos o problema não foram críticas a autoridades ou instituições, classificadas como fake news, mas apoio ao uso de hidroxicloroquina e outros remédios no tratamento precoce de Covid-19 e afirmações de que isso é a cura para a doença.

O primeiro alvo da censura foi a médica nigeriana Stella Immanuel, que trabalha num hospital em Houston, no estado do Texas, quarta cidade mais populosa dos Estados Unidos. Na segunda-feira um vídeo postado por ela no Instagram desagradou aos administradores da plataforma, que classificaram o conteúdo como falso e apagaram a publicação.

No vídeo, que você pode conferir logo abaixo, a médica descreve os resultados que teve ao tratar centenas de pacientes de Covid-19 com o mesmo remédio que usava no atendimento a doentes de malária na Nigéria: hidroxicloroquina, só que alidada a azitromicina e zinco.

“Tratei pessoalmente 350 pacientes com Covid. Pacientes que tem diabetes, pressão alta, asma, pessoas idosas.Meu paciente mais velho tem 92 anos, outro tem 87. E o resultado tem sido o mesmo. Prescrevi hidroxicoloquina, zinco e azitromicina e todos estão bem. Nos últimos meses tratei 350 pacientes e não perdi nenhum, nem mesmo os diabéticos, os hipertensos, os asmáticos, ninguém. Nós não perdemos um único paciente.”

Dra. Stella Immanuel, clínica geral de um hospital em Houston, EUA

A médica também relata que ela e vários outros médicos e enfermeiros tomaram o coquetel de remédios preventivamente e, mesmo atendendo de 10 a 15 pacientes de Covid-19 por dia, não ficaram doentes. E levanta suspeitas sobre pesquisadores que afirmam que a hidroxicloroquina não funciona no combate à doença na fase inicial.

“Se algum falso cientista, patrocinado por essas falsas farmacêuticas, vier dizer que fez estudos e descobriu que não funciona, posso dizer categoricamente que é ciência falsa. Vou querer saber quem está patrocinando esses estudos, quem está por trás disso, porque não existe a possibilidade de eu tratar mais de 350 pacientes, nenhum morrer, todos melhorarem e virem me dizer que a verdade está com quem testou com 20 ou 40 pessoas e diz que não funcionou.”

A parte final do vídeo não é um relato médico, mas opinião – um tanto polêmica, porém, opinião. A médica diz que o coquetel de remédios é a cura para Covid-19 e diz considerar desnecessários o fechamento de escolas, o lockdown e até mesmo o uso da máscara, já que os medicamentos, todos baratos e com rara contra-indicação de uso, pode ser usado de forma preventiva.

Provavelmente por não concordarem com essa parte final da fala, os administradores do Instagram decretaram censura ao vídeo, que foi apagado da conta da médica e também do perfil da cantora Madonna, uma das que compartilharam o relato da Dra. Stella Immanuel.

E não foi só o Instagram que implantou a censura, nem só Stella ou Madonna as censuradas. O Twitter fez o mesmo com Donald Trump Jr., que escolheu a rede de microblogs para compartilhar o vídeo da médica de Houston. O filho do presidente ainda sofreu a punição de ser impedido de postar na plataforma por 12 horas.

Assim como Trump Jr., aliás, Madonna também foi punida pelo Instagram, não com a proibição temporária de novas postagens, mas com a exposição à execração pública. No dia em que o vídeo foi apagado de sua conta, quem tentasse clicar no post era direcionado para um link informando que o conteúdo foi apagado por ser falso, ou seja, a plataforma julgou, censurou e ainda difamou, tentando induzir 15,4 milhões de seguidores da cantora a acharem que ela é realmente mentirosa.

Em sua postagem Madonna chamava a médica nigeriana de heroína e dizia que “a verdade vai nos libertar, mas algumas pessoas não querem ouvir a verdade, principalmente pessoas no poder, que só querem ganhar dinheiro com essa demorada busca pela vacina, que já foi comprovada e está disponível há meses. A elite global controla as pessoas através do medo para deixar os ricos mais ricos, enquanto os pobres e doentes ficam mais doentes.”

Cristina Graeml

Cristina Graeml é jornalista formada pela UFPR (1992). Trabalhou como repórter de TV por 26 anos, fazendo coberturas nacionais e internacionais. Em 2010 fez parte da equipe que ganhou o Prêmio Esso e o Prêmio Tim Lopes de Jornalismo Investigativo, entre outros, pela série Diários Secretos da Assembleia Legislativa do Paraná. Está na Gazeta do Povo desde 2018. **Os textos da colunista não expressam, necessariamente, a opinião da Gazeta do Povo.

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