Caso algum dia, nessas viagens que você faz por aí, se sentasse ao lado de um ministro do Supremo, o que faria?
Ficaria em silêncio admirando o ministro?
Puxava um papo sobre judiciário? Pediria um autógrafo?
Tiraria uma foto?
E aí, o que faria?
Vou sugestionar: Você falaria umas verdades para ele. Né? Tiro por base o que aconteceu com o advogado Cristiano Caiado de Acioli, ao viajar de São Paulo para Brasília. Adivinha quem sentou ao lado dele? Ricardo Lewandowski.
O advogado remoeu por um tempo, sabia que nunca mais veria o ministro pessoalmente, então resolveu opinar:
“Ministro Lewandowski, o Supremo é uma vergonha, viu? Eu tenho vergonha de ser brasileiro quando vejo vocês”.
Claro, foi preso assim que saiu do avião. Pois é, não pode emitir opinião desse tipo a um ministro. Dá cadeia mesmo.
Responda amigo: se a fala fosse direcionada ao Presidente da República o advogado seria preso?
Ainda dentro da aeronave, Acioli, questionou os passageiros mais ou menos assim:
“Quem está acima do Supremo para responder caso mande prender quem opine, onde poderemos recorrer?” Boa pergunta! Demorou um pouco, mas, quase dois anos depois, tivemos a resposta.
Domingo passado o jornalista Oswaldo Eustáquio foi liberado após dez dias preso. Foi liberado, mas proibido de trabalhar. O cara é jornalista e trabalha emitindo opinião, não pode. Contra os ministros, não pode. Foi preso e não se sabe porquê.
Isso mesmo que você leu: ficou preso dez dias, mas não se sabe o porquê! Talvez, a prisão seja devido a denúncia contra a esposa do Alexandre de Moraes no Twitter. O jornalista disse que a esposa do ministro atendia políticos condenados do PSDB. Eustáquio, ainda Twittou sobre as esposas de Wilson Witzel e Sérgio Moro.
Na opinião do jornalista essas mulheres não deveriam advogar em casos de suspeição devido a função do marido. Provavelmente, isso magoou Moraes, que sem explicação, mandou prender o jornalista. No entanto, existe outra explicação para a prisão, de repente pode ter sido por que o ministro foi chamado de apelidos horríveis: “Cabeça de ovo”, “Cabeça de piroca”. Ei Oswaldo! Faz isso não mano. Sei lá, você pode ter sido preso por isso.
E aí? Das duas alternativas qual você escolhe?
Bom, segundo o ministro a prisão não foi nem por uma, nem por outra, nas entrelinhas, se deu por causa dos atos antidemocráticos que o jornalista participou. Sim, o jornalista não poderia cobrir aquela matéria, entende?
As manifestações feita nas muitas cidades do país, foram classificadas pelo ministro como perigosa. Imagine que o povo saiu às ruas armado com bandeiras do Brasil, vestindo roupas verde e amarela e gritando a frase do Acioli:
“Supremo é uma vergonha”.
Lembra da pergunta no avião? Se o ministro comete o crime contra opinião, onde recorrer? Pronto! Mandou prender o jornalista e o advogado dele recorreu onde? Peço por favor que não ria: o advogado recorreu ao próprio STF. É Acioli, tá aí a resposta: você recorre ao próprio ministro que o prendeu. Entendeu ou não?
Acaso não deveria iniciar uma investigação a partir da denúncia do jornalista? Se fosse outro sendo acusado, sim. Mas, no caso a esposa do ministro… Oh! Locô!
Foi o Eustáquio quem denunciou o hacker sobre o caso Greenwald, o hacker foi investigado e preso. Mas, sendo mulher do ministro, adivinha quem tá sendo investigado?
Quem foi preso?
Novos tempos no jornalismo investigativo, agora deve ser medido quem está na ponta. Caso Eustáquio, falasse apenas sobre a esposa do Wilson Witzel e do Sergio Moro, certamente, não teria puxado essa cana de dez dias.
Agora é fácil, a partir desses acontecimentos, a gente responde: se o advogado no avião tivesse dito ao Presidente:
“Tenho vergonha de você”
Seria preso? Claro que não! Contra político pode.
Ponha na sala outro caso recente para provar: o sujeito preso na frente do Palácio do Planalto. O camarada xingou o presidente, meteu fogo no ônibus com dez passageiros dentro, foi preso em flagrante e saiu dois dias depois. Não importa, se o manifestante colocou em risco a vida de dez pessoas, se causou dano material e ameaçou de morte o Presidente da República, isso não importa, a manifestação não foi contra os ministros do Supremo, então é tolerável.
Entretanto, se a manifestação realizada, ainda que pelo povo, sem registro de ato violento, ninguém metendo fogo em nada, os xingamentos sendo sarcásticos, a arma bandeira brasileira, mas, sendo contra os ministros do Supremo, já era, é antidemocrático. Não pode falar que os ministros têm envergonhado sua gente. Xingar o presidente com ódio, espumando pela boca, pode. Xingar alguém do Supremo mesmo por sarcasmo, é crime. Ah! Cabeça de ovo. Cabeça de…. Contenha! Isso dá cadeia! Fique esperto! Hoje o Eustáquio, amanhã, você.
Caso sente ao lado do ministro numa viagem, tire uma foto. Não opine.
Josinelio Muniz. Formado em Teologia pela faculdade Teológica Logos – FAETEL, matéria que leciona na Comunidade Internacional da Paz, Porto Velho – RO. Bacharel em Direito pela Uniron e Docente Superior pela Uninter.
Be the first to comment on "Cuidado! Falar mal dos ministros do Supremo é quase crime"