Essa súbita polarização na política, que deve estar assustando muita gente, é na realidade um fim de ciclo.
O poder reinante nesse pais nos últimos 25 anos está sucumbindo, lutando com todos os seus meios para impedir o inevitável.
Usam jogo sujo sim, mas é por puro desespero acreditem.
Quem está perdendo miseravelmente nesses últimos 30 anos é a indústria, os sindicatos, os trabalhadores chão de fábrica, as grandes cidades, os industriais cada vez mais falidos e subsidiados.
Quem está crescendo e ganhando é a Agricultura.
A agricultura por si só já representa 25 % do PIB, contra 10% anos atrás.
O Agronegócio, que incorpora as indústrias que a fornecem, como mineração de fertilizantes, a indústria de tratores, os bancos, as seguradoras, as transportadoras passa a ser 40% do PIB, tranquilo.
Ter 40% do PIB significa dinheiro, crescimento, poupança, prosperidade.
Significa crescente poder político, que ao contrário que a maioria das pessoas pensam, o setor Agrícola não tinha comensurável a esses 40%.
Foi sempre a agricultura que gerou exportações e superávit no câmbio, foi sempre a indústria que importava máquinas estrangeiras.
A Indústria sempre foi muito mais forte politicamente do que a Agricultura, mas agora ela definha, não apresenta lucros, não tem mais poder financeiro.
Foi sempre a Indústria que indicava os Ministros da Fazenda, normalmente economistas ligados a Fiesp como Delfim Neto e Dilson Funaro, por exemplo.
Foi esse total descaso pela nossa Agricultura que resultou no enorme êxodo rural, que tanto empobreceu o país e fortaleceu justamente partidos que atendiam as demandas dos bairros pobres.
Nada menos que 45% de nossa população teve que abandonar a agricultura, abandonada que foi pelos Ministros da Fazenda.
Que nem sabem mais o significado de “Fazenda”, apropriado para um país destinado a agricultura, como o Brasil e a Argentina.
Foi Raul Prebish, que convenceu economistas argentinos e brasileiros como Delfim, Celso Furtado, Jose Serra, FHC e toda a Unicamp, a esquecerem nossa agricultura a favor da “industrialização” para o mercado interno, a famosa “substituição das importações ”.
Por isso investirem fortunas em “incentivos”, leis Kandir, subsídios via o BNDES em indústrias antigas mas que “substituiriam as nossas importações”, importações que geralmente eram dos mais ricos, produzir produtos populares para classe C e D nem pensar.
Somente a partir de 1994 , que passaram a produzir para a Classe C e D, movimento do qual fiz parte.
Além das milícias que invadiam terras, a luta por reservas, contra a ampliação de terras produtivas, destruição de pesquisas de aprimoramento genético .
Nossos industriais perceberam tardiamente que foi justamente essa “substituição das importações” que iria gerar nossa estagnação e não inovação, e lentamente destruímos a nossa indústria nascente a partir de 1987.
De 27% do PIB, 45% com seus agregados, a Industria entrou numa espiral descendente para 14,5% hoje.
Que reviravolta.
Essa atual crise política no fundo é a crise da indústria e das famílias ricas desesperadas, empobrecidas mas ainda com certo poder político.
É a crise dos sindicatos trabalhistas que viviam dessas contribuições sindicais.
Perdem poder econômico e percebem que estão perdendo o político, da qual nunca mais se recuperarão a curto prazo.
Quem acha o contrário que pense nos números.
Isso explica o desespero da imprensa, dos artistas subsidiados, dos intelectuais das grandes cidades.
Ela é violenta por ser desesperada.
Mas é simplesmente o canto da sereia desse grupo que vivia da indústria e de seus impostos.
Os números que apontei são inquestionáveis e só tendem a crescer.
A Agricultura, justamente por ter sido esquecida pelo Estado, venceu a Presidência e 15 Estados.
Ronaldo Caiado, representante eterno dos agricultores, vence em Goiás. As grandes cidades foram contra, elegendo Doria e Witzel.
“Bolsonaro é quase unanimidade no setor”, disse Bartolomeu Braz Pereira, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja).
Mais Brasil Menos Brasília, é na realidade o brado
“mais campo e comunidade e menos cidades gigantes e em decadência moral.”
Bolsonaro foi eleito não pelos liberais nem pelos conservadores das grandes cidades, que hoje se sentem enganados e só falam mal dele.
Com o Covid, haverá uma fuga das grandes cidades para o campo, dos apartamentos para casas, dos escritórios para o Zoom.
E em mais 4 ou 5 anos, a Agricultura terá provavelmente o poder político que merece, elegerá quem quiser, com ou sem Bolsonaro candidato em 2022.
E todos sabemos que no Brasil “dinheiro é poder”.
“Follow the money”, como diria Sérgio Moro.
Moro não percebeu infelizmente que não foi o combate a corrupção que elegeu Bolsonaro.
Foi o apoio à Agricultura.
Na cidade Agronômica, Bolsonaro ganhou com 79% dos votos.
Na cidade de Sorriso teve 74% dos votos.
Na cidade Rio Fortuna teve 68% dos votos.
Em Mato Grosso do Sul teve 61% dos votos.
Vejam os mapas da fronteira agrícola e os votos dados ao Bolsonaro em 2018.
Quem elegerá os nossos Presidentes em 2022, 2026, 2030 será provavelmente a bancada agrícola, não a bancada industrial , sindical, nem urbana.
A tese que Bolsonaro não foi eleito, mas que foi Haddad que foi rejeitado, não se sustenta numericamente.
Haddad tinha 41% de rejeição contra 40% de Bolsonaro. Ou seja a diferença é de somente 1%.
Ricardo Salles é que está dando um chega para lá aos ecologistas que querem destruir nossa agricultura, e foi quem ajudou termos esse superávit colossal em 2020.
Ele demonstra que conseguem colocar pessoas além do Ministério da Agricultura, dando suporte a essa tese.
Bolsonaro colocou uma engenheira agrônoma como Ministra Da Agricultura, em vez de um político e advogado como Wagner Rossi, indicado por ambos Lula e Dilma.
Será o constante crescimento do Comunitarismo da pequena cidade daqui para a frente, em detrimento das ideologias do passado, que fracassaram.
É o crescimento do interior Comunitário e Solidário.
Uma batalha que será violenta sem dúvida nos próximos anos, mas tudo indica que o Brasil agrícola será a vencedora.
Stephen Kanitz. Consultor de empresas e conferencista brasileiro, mestre em Administração de Empresas da Harvard Business School e bacharel em Contabilidade pela Universidade de São Paulo.
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