Lula, coronavírus e as origens do discurso de ódio na política brasileira

Lula: patrulha virtual contra adversários políticos nasceu com o PT| Foto: Divulgação/Instagram

“”O que eu vejo? Quando eu vejo os discursos dessas pessoas, quando eu vejo essas pessoas acharem bonito que ‘tem que vender tudo o que é público’, que ‘o público não presta nada’, ainda bem que a natureza, contra a vontade da humanidade, criou esse monstro chamado coronavírus. Porque esse monstro está permitindo que os cegos comecem a enxergar que apenas o Estado é capaz de dar solução a determinadas crises. Essa crise do coronavírus, somente o Estado pode resolver isso, como foi a crise de 2008.”

A fala acima é de autoria de Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente do Brasil e corrupto condenado pela justiça. Como convém a um bandido, a fala reflete o pensamento de um criminoso, que exalta uma desgraça porque ela prejudica seus adversários políticos.

A tropa de choque petista saiu logo em defesa de Lula, usando a velha e manjadíssima desculpa de que ele foi mal interpretado. Gleisi Hoffmann, sua fiel escudeira, foi logo às redes sociais passar pano. “Há dois meses Lula fala sobre coronavírus, prega solidariedade e ação do Estado para salvar pessoas, mas isso não é notícia. Agora, de forma oportunista e desleal, exploram frase mal formulada em que Lula só quis mostrar que com o coronavírus temos chance de repensar o papel Estado!””

Lula e Gleisi Hoffmann são figuras da política brasileira que deveriam pertencer ao passado. Mas essa atenção momentânea que estão recebendo serve para relembrarmos como viemos parar aqui.

“Passar pano”, “discurso de ódio”, “robôs de redes sociais”, nada disso nasceu com o governo Bolsonaro. O antepassado dos atuais sites governistas é o Conversa Afiada, de Paulo Henrique Amorim; os robôs que defendem Bolsonaro noite e dia são versões aprimoradas dos famosos MAV (Militância em Ambiente Virtual, que até recentemente distribuía dinheiro para influenciadores digitais falarem bem do governo do Piauí) do PT. Se hoje todos que se opõem ao governo Bolsonaro são tachados de comunistas – até o ministro Sergio Moro, que fez mais contra a corrupção em quatro anos de Lava Jato que Bolsonaro jamais fez em trinta anos como deputado, já entrou para a lista -, é necessário lembrar que o PT chamou praticamente qualquer um que não fosse um radical de esquerda de fascista.

Durante anos, Lula sacou a carta do nazismo a todo momento para atacar seus adversários. “(…)o preconceito contra nós, as injustiças… parece que estão agredindo a gente como os nazistas agrediam no tempo da Segunda Guerra”, afirmou Lula, se referindo aos tucanos, durante a campanha de 2014, quando Dilma foi reeleita. Ele não parou por aí. “Eles são intolerantes. Outro dia eu disse para eles: vocês são mais intolerantes que Herodes, que matou Jesus Cristo por medo de ele se tornar o homem que virou. Querem acabar com o PT, querem acabar com a presidente Dilma, achincalhar ela, chamar de leviana.” Nazistas e piores que Herodes: para Lula, estes são os tucanos, que por coincidência hoje viraram alvo dos bolsonaristas.

Em janeiro deste ano, a nazista da vez, para Lula, foi a TV Globo. “O que a Globo está fazendo com o Intercept, era capaz que o nazismo não fizesse. Ela só teve coragem de citar o Intercept duas vezes: quando o Intercept publicou o nome do Faustão, que acho que tinha dado aula pro Moro, e quando foi citar o nome do Roberto D’Ávila, que tinha trabalhado para arrecadar dinheiro para o meu filme”, afirmou o ex-presidente, se referindo a uma bobagem em voga na época. A Globo, por sinal, também virou alvo de ataques bolsonaristas.

Gleisi, em 2018, chamou o dono da Havan, Luciano Hang, de “nazista” e “canalha”. Gleisi também já disse que Bolsonaro é pior que Hitler. “O discurso de Bolsonaro foi pior do que o discurso de Hitler na Alemanha em situação semelhante antes da eleição.”

Não é preciso reforçar, em 2020, que essas comparações não fazem sentido e o único efeito prático delas é diminuir o horror nazista e fazer pouco caso das milhões de vítimas do Terceiro Reich. Aliás, não é o único efeito prático. Durante anos figuras-chave do PT acusaram praticamente todos os brasileiros de serem piores que Hitler, inclusive os que se indignaram com a ruína econômica causada pelo desastroso governo Dilma. Quando Bolsonaro foi eleito, muito em parte ao sentimento anti-PT que cresceu entre a população, houve quem viesse a público dizer que o povo não sabe votar. Aparentemente o povo só tem valor quando o PT é beneficiado.

Em 2011, a falta de qualquer pudor era tanta que a Militância em Ambientes Virtuais do PT não era algo secreto. Pelo contrário, davam entrevistas em jornais falando das intenções escusas. A criação dos MAVs foi feita abertamente em um congresso do partido, com a aprovação do então presidente do partido, Rui Falcão. Em entrevista à Folha de S. Paulo, um militante afirmou que “quando sai algo contra um governo petista, a mídia faz escândalo, dá página inteira no jornal. Temos que ir para cima“.

Esse discurso violento migrou do virtual para o real em outubro de 2014, quando 200 militantes picharam e depredaram a entrada da editora Abril, em São Paulo, por causa de uma capa de Veja com denúncias contra a então presidente e candidata à reeleição, Dilma Rousseff. Mais uma vez, não por coincidência, atualmente a revista também virou alvo dos bolsonaristas.

Em março de 2016, militantes petistas se reuniram na frente da sede da TV Globo, no Rio de Janeiro para denunciar “a perseguição dos meios de comunicação” contra Lula. Para esses militantes, toda a história da corrupção na Petrobras era conspiração da mídia contra o PT e Lula. “Se atacarem Lula, estão me atacando”, era o grito de guerra. É chover no molhado lembrar que também hoje Bolsonaro e parte de seus apoiadores também de consideram perseguidos injustamente pela imprensa malvadona.

Lula e Bolsonaro têm muito mais em comum do que ambos gostariam. O já infame “E daí?” de Bolsonaro ao menosprezar as mortes pela Covid-19 foi chocante. O “ainda bem que a natureza, contra a vontade da humanidade, criou esse monstro chamado coronavírus” de Lula serviu para nos lembrar que nada do que está acontecendo atualmente é acaso ou coincidência.

Confira matéria do site Gazeta do Povo.

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