Psicologia da crise e negócios

Numa crise, a necessidade de inovação começa pela mudança na mente. A psicologia daqueles que desenham as estratégias tem grande impacto no sucesso ou fracasso da empresa/ do projeto.  Da psicologia, já conhecemos as etapas de superação de crise/ luto, que tão bem se aplicam a situações de ruptura, como a que estamos enfrentando. Gostaria de colocar o conhecimento dessas fases e reações para gerar sucesso e sobrevivência. Nossa melhor chance sempre passa pelo autoconhecimento.

São 8 mudanças mentais que podem ajudar a sua empresa a sobreviver momentos de ruptura.  Uma vez que você consiga fazer essas mudanças mentais, estará mais bem posicionado para fazer a gestão do negócio e atravessar períodos de instabilidade ou de crise.

A principal mudança mental é ver a realidade e continuar a acreditar.  

Entender completamente a realidade e ainda manter o entusiasmo. Acreditar em seu propósito.  As crises são momentos em que o que conhecíamos ou como víamos as coisas não funcionam mais; é uma oportunidade para testar; explorar e ser criativo.

Mudança Mental #1: Perceba que sua própria psicologia é ‘tudo ou nada’ para sua empresa.

Cuidar da psicologia dos líderes é um assunto pouco comentado fora de conversas mais pessoais com mentores ou pares. Nos dias mais difíceis, os líderes precisam buscar aconselhamento e ter tempo para estar com as pessoas que se mais importam com eles.  Antes de entrar em contato com a criatividade, essencial para gerar saídas e estratégias, você vai passar pelos 5 estágios da crise/ luto. Não tem como pular etapas.

É muito libertador compreender como a mente reage a crises, pois faz a diferença ter um roteiro para acompanhar. A escolha está entre mover-se mais ou menos rapidamente pelas fases de adaptação, e, quando se enfrenta cenários de crise, mover-se rapidamente é melhor. Entender que você é parte da situação e lidar consigo próprio, além das outras variáveis, é ajustar as lentes para enxergar com mais nitidez. Como disse Otto Scharmer em seu seminário Gaia Journey, “Em momentos disruptivos, é melhor estar ACORDADO. “

Mudança Mental #2: Reconheça que pode ser pior do que você pensa

Depois de investir tempo para ter crescimento, desenvolvimento, fica mesmo difícil imaginar o contrário. Quando algo dá errado, os problemas se aglutinam de tal forma que parece que quase tudo dá errado de uma só vez, e a duração e intensidade dos problemas pode ser maior que a estimativa inicial da mente.  Assim, seja mais conservador em suas estimativas de recuperação. Duplique ou triplique seus prazos. Seja otimista em sair da situação, mas realista e/ou conservador nos cenários, podendo assim usar sua capacidade de resolução para estratégias mais sustentáveis.

Mudança Mental #3: Jogar para não perder em lugar de jogar para ganhar

Quando as coisas não estão dando certo, a mentalidade de sobrevivência deve prevalecer.  O antigo CFO da Oracle, Jeff Epstein, oferece uma ótima analogia: “É como correr uma maratona com mais 1.000 pessoas e você estar na liderança. Daí você sofre uma queda terrível do nada. Você se senta no meio-fio dolorido e machucado, os outros ainda estão correndo, e seu instinto de luta lhe diz para levantar e terminar e ganhar a corrida. Mas o que de fato você precisa fazer é ir ao hospital para se curar e aguardar a próxima maratona.” Ele está certo. Dá para vencer a prova no futuro. Mas ninguém vence uma corrida logo após sua queda. Faça saia do foco de vencer para o ajuste mental de sobreviver para lutar num outro dia.

Mudança Mental #4: Aceite e abrace a Crise

Entender que há crise certamente ajuda a passar mais rapidamente pelo arco que vai da negação para aceitação e, finalmente, dar o salto para a criatividade.

Além do mais, a oportunidade que a crise oferece é de alinhar todos os envolvidos, cortar as coisas menos importantes que em outros momentos atrasam decisões importantes.  Nas palavras de Churchill, “Nunca desperdice uma boa crise.”

Quando existe acordo sobre a existência de uma crise externa, a fricção interna normalmente cede. A politicagem que não encaminha para soluções que gerem receitas ou cortem custos pode perder força. Os acionistas vão querer proteger seu investimento; fornecedores vão se redobrar para entregar o melhor; clientes fiéis talvez se preocupem que sua empresa sobreviva, pois gostam/ precisam de seu serviço.  A crise ajuda que os envolvidos foquem no que é importante. As relações com isso podem se tornar mais agradáveis e alinhadas a um resultado único – sobreviver – situação em que todos farão seus ajustes que, em outras épocas, seriam impossíveis.

Mudança Mental #5: Refaça (emocionalmente) seu compromisso com seu propósito

Em tempos de ambiguidade e desarticulação, o medo pode tomar conta. As pessoas ficam desorientadas, confusas e paralisam.

Para não ficar paralisado, é sempre bom reconectar com o propósito que gerou toda a jornada. É momento de reconectar com a missão – mesmo que haja pouco caixa e pareça que tudo vai desabar. O propósito é um norte que traz a energia daquilo que é importante e gostaríamos de estar fazendo para além da motivação financeira. Lidere com esse espírito, pois ele trouxe investidores/ clientes e colaboradores para a empresa; esse é o espírito que pode ajudar a mantê-los também.

Mudança Mental #6: Retorne à criatividade para encontrar os fluxos mais rápidos

Encontrar o fluxo mais rápido em seu mercado é crucial numa crise.  Se necessário, mude o foco de sua empresa para áreas (emergentes) de maior energia e demanda de mercado. Aqui importa a agilidade em mudar a mentalidade, o foco, e redirecionar os esforços do time na nova direção.

Mudança Mental #7: Fazer o maior esforço onde outros não fazem

Para percorrer uma montanha, o senso comum diria para se fazer o maior esforço na subida. Nas descidas, todo santo ajuda, não é? E se, exatamente nesse momento em que todos gerenciam (controlam) a velocidade da descida, você contrariar a prática e acelerar, aproveitar o efeito da gravidade?

Em seu negócio talvez consiga encontrar esses lugares contra intuitivos para seus esforços. Quais áreas lhe oferecem um ancoradouro durante a crise?  Por que treinar os melhores vendedores durante a crise? Quem precisa de mais um blog? Por que facilitar as transações se ninguém está comprando? Pequenos passos que podem significar mais vantagem competitiva após a crise.

Mudança Mental #8: Dizer “Dane-se!” e fazer algo que desafia a lógica e criativo

Por vezes a criatividade desafia a lógica, e, em momentos de crise, talvez seja a criatividade que realmente deva prevalecer. Há momentos em que os riscos são bem-vindos. Onde, em seu negócio, há espaço para não ser ortodoxo? O que nesse momento dá para testar? Arriscar?

Aqui temos que realmente calar o mental que provavelmente quer fazer tudo certinho, gastando energia em coisas que não fazem tanta diferença, na esperança de que o “esforço” seja recompensado. Depois que conseguir se livrar das barganhas, das meias medidas, que provavelmente não ajudarão a sair do outro lado, é o momento de abraçar novos testes. Qual o melhor jeito de se lidar com o coas e complexidade? Acrescentando elementos novos. Ouvi de Nora Bateson esse exemplo incrível que torna a frase anterior menos esquisita: Como corrigir o excesso de sal na sopa (complexidade)? Não podemos tirar o sal da sopa…mas podemos acrescentar mais ingredientes e assim reequilibrar o sabor.

Em que fase da psicologia da crise você está? Como pode acelerar seu caminho para chegar na fase da criatividade?

Claudia Gonçalves


Confira matéria do site Estadão.

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