Em depoimento à força-tarefa da Operação Lava Jato Rio, o empresário José Antunes Sobrinho, delator da investigação, relatou que, durante um almoço no Palácio do Jaburu, no primeiro semestre de 2014, o então vice-presidente Michel Temer (MDB) lhe disse que o coronel reformado da Polícia Militar João Baptista Lima Filho, o coronel Lima, ‘seria apto a tratar qualquer tema, sendo homem de sua confiança’. O delator contou que o ex-ministro Moreira Franco (Minas e Energia) também estava no almoço.
Temer e Moreira Franco e o coronel Lima foram presos nesta quinta-feira, 21, na Operação Descontaminação – desdobramento da Lava Jato. Os aliados são suspeitos de receberem propina sobre as obras da usina de Angra 3.
AVAL DE TEMER – José Antunes Sobrinho, ligado à empreiteira Engevix, prestou depoimento em 25 de fevereiro. “Gostaria de ressaltar um almoço que teve no âmbito do Palácio do Jaburu, no primeiro semestre de 2014, com Moreira Franco e Michel Temer; que no decorrer do almoço entre amenidades que eram conversadas, Michel Temer falou que o coronel Lima ‘seria apto a tratar qualquer tema, sendo homem de sua confiança’; que o colaborador entendeu a referida frase como sendo um aval para que atendesse o que fosse solicitado por Lima”, relatou.
“Moreira Franco não era pessoa íntima de Lima; que o colaborador acredita que no citado almoço Temer deu a real expressão de sua relação com Lima a Moreira Franco; que após o almoço todas as partes envolvidas tiveram a real dimensão dos seus papeis a fim de viabilizar a vantagem financeira solicitada por Lima ao PMDB.”
PEDIDO DO CORONEL – O empresário se referiu a um suposto pedido do coronel, no segundo semestre de 2013, por ‘contribuição financeira ao PMDB’. Naquele ano, contou José Antunes Sobrinho, as relações entre ele e Lima ‘se intensificaram bastante’.
O delator disse ao Ministério Público Federal que percebeu que o coronel tinha ‘uma ascendência muito forte’ sobre o então presidente da Eletronuclear, Almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva.
“Em certa oportunidade, o empreendimento necessitava de aditivo contratual para se adequar à realidade econômica; que o citado aditivo não estava sendo assinado no tempo devido e que o colaborador ouviu de Lima: ‘se o Othon não resolver o assunto rápido, farei gestões para retirá-lo da presidência da Eletronuclear; que Othon sabe a quem ele deve o cargo’; que Lima se referia a Michel Temer”, afirmou José Antunes Sobrinho.
NOMEAÇÃO DE OTHON – “Lima deixava claro que Othon Pinheiro foi nomeado em razão da influência do então vice-presidente Michel Temer; que a relação entre Lima e Michel Temer era bastante clara.”
José Antunes Sobrinho declarou que foi apresentado a Temer pelo coronel Lima no segundo semestre de 2013. O delator contou que esteve no escritório político do emedebista ‘próximo à Praça Panamericana em São Paulo’.
“Na mesma época, Lima informou ao colaborador que era necessário que a Engevix fizesse contribuição financeira ao PMDB sem especificar valores; que ressalta que o referido pedido não se deu na presença de Temer; que, ao ouvir o pedido de Lima, o colaborador respondeu que não teria condições de fazer qualquer tipo de contribuição ao partido, em razão do contrato de Angra 3 não ter muita margem de lucro”, contou.
ÁREA DE MOREIRA – O empresário disse que ‘sugeriu que se buscasse nova alternativa para viabilizar o pagamento’. Uma delas, contou, seria firmar um contrato entre o Governo Federal e a Engevix ‘na área de infraestrutura aeroportuária’.
“O colaborador sugeriu a Lima dois projetos, de responsabilidade da Secretaria de Aviação Civil, na época comandada por Moreira Franco: 1) a construção do Centro Nacional de Aviação (empreendimento que implicaria a construção de prédio para a Infraero, Anac e Secretaria de Aviação Civil), que custaria aproximadamente R$ 250 milhões. 2) Contrato de consultoria para definição do futuro da área aeroportuária no Brasil, no valor estimado de R$ 16 milhões”, relatou.
“As duas sugestões foram desenvolvidas no decorrer de 2014 pelo ex-ministro Moreira Franco”, acrescentou.
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Numa secretaria mixuruca como a Avião Civil, Moreira Franco já aprontava. Imagina-se o que teria feito se ficasse mais tempo no Ministério de Minas e Energia. Seria um arraso. (C.N.)
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