Rescisão do acordo, que previa a compra da área da aviação comercial da Embraer, foi anunciado no último sábado (25) pela empresa norte-americana.
A Embraer informou na manhã desta segunda-feira (27) que abriu procedimentos arbitrais após a Boeing rescindir o negócio avaliado em US$ 5,2 bilhões entre as duas empresas.
A arbitragem é um mecanismo usado na solução de conflitos em negociações sem envolver a Justiça. O modelo é mais rápido e dispensa alguns protocolos do judiciário. Ao invés de um juiz, o processo é julgado por uma pessoa eleita pelos envolvidos e especialista na área, no caso, a aviação. O processo de arbitragem é sigiloso.
A medida é uma tentativa da Embraer em reaver perdas sofridas com o cancelamento do negócio. Só em 2019, a empresa brasileira investiu R$ 485 milhões para preparar a venda da divisão comercial à Boeing.
A informação foi dada durante conferência com jornalistas e foi publicada em comunicado direcionado ao mercado e acionistas (veja abaixo).
Durante a conferência, a Embraer informou a necessidade de economia na ordem de US$ 1 bilhão em custos em 2020.
A empresa brasileira afirma que trabalha para ajustar os níveis de produção e despesas para economia dos recursos.
A Embraer informou ainda que terminou 2019 com uma “sólida posição de caixa” e que não tinha “dívida significativa” para os próximos dois anos.
Questionado sobre a busca por um outro parceiro na aviação, o CEO da Embraer, Francisco Gomes Neto, afirmou que a fabricante aérea brasileira segue atraente para outras empresas, mas deve focar inicialmente em uma reestruturação interna.
“Nós vamos fazer primeiro a lição de casa, e nós precisamos de algum tempo para isso. Vamos pensar sobre próximos passos estratégicos para nossa aviação comercial”, afirmou.
Governo avalia cancelamento
Questionado por jornalistas, o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, afirmou na manhã desta segunda-feira que o governo brasileiro acompanha os desdobramentos do cancelamento do negócio entre a Boeing e Embraer.
“Estamos avaliando. Tem golden share minha, eu assino. E se o negócio realmente for desfeito, talvez se recomece uma negociação com uma outra empresa”, afirmou Bolsonaro.
Em 2019, o governo brasileiro aprovou o acordo entre as duas empresas. O planalto havia informado que a proposta final preservava a soberania e os interesses nacionais e que, diante disso, não exerceria o poder de veto ao negócio.
Negócio cancelado
A rescisão do acordo, que previa a compra da área da aviação comercial da Embraer pela Boeing, foi anunciado no último sábado (25) pela empresa norte-americana com a alegação de “a Embraer não ter atendido as condições necessárias”.
A Embraer afirma que a Boeing rescindiu “indevidamente” o acordo entre as empresas na área comercial e que a empresa norte-americana “fabricou falsas alegações como pretexto para tentar evitar seus compromissos de fechar a transação”.
Firmado em 2018, o negócio – então avaliado em US$ 5,26 bilhões – previa a criação de uma empresa conjunta que ficaria sob comando da Boeing, com 80% de participação. A Embraer ficaria com os 20% restantes, e poderia vender a sua parte para a americana.
Mercado
O cancelamento ocorre em meio aos impactos causados pelo coronavírus no mercado de aviação. A queda nas ações da Embraer e preocupações com dinheiro na Boeing, impulsionadas pelo impacto do coronavírus nas viagens aéreas, foram um golpe para a transação nos últimos dias.
As ações da terceira maior fabricante de aviões do mundo chegou a cair dois terços desde que o acordo foi divulgado em 2018, segundo dados da Refinitiv.
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