O presidente Jair Bolsonaro exonerou o diretor-geral da Polícia Federal (PF), Maurício Valeixo. O decreto que oficializa a mudança foi publicado no Diário Oficial da União desta sexta-feira (24). Outra pessoa ainda não foi nomeada por Bolsonaro para substituir Valeixo. Tradicionalmente, a escolha é feita pelo ministro da Justiça.
Alexandre Ramagem, diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), e Anderson Torres, atual secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, são os mais cotados. Ambos são delegados da Polícia Federal. Corre por fora o nome do diretor-geral do Departamento Penitenciário Nacional, Fabrício Bordignon, também delegado da PF, que seria o favorito de Moro.
De acordo com informações repassadas por interlocutores do ministro a jornais, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, não teria sido avisado de que a exoneração seria efetivada nesta sexta. Por isso, o próprio ministro não assina formalmente a decisão, mesmo que seu nome conste no decreto. No decreto, consta que a exoneração de Valeixo ocorreu “a pedido”, mas isso também não procede. O então diretor-geral da PF também teria sido surpreendido.
A saída oficial de Valeixo aumenta a tensão sobre uma possível saída do ex-juiz da Lava Jato do governo. Na quinta-feira (23), o ministro teria ameaçado pedir demissão ao ser informado de que haveria uma troca de comando na PF e que o novo diretor seria escolhido por Bolsonaro. Valeixo, que comandou a Superintendência da PF no Paraná durante a Operação Lava Jato, era amigo pessoal e homem de confiança de Moro. Ele já havia demonstrado ao ministro o desejo de deixar o posto, mas acreditava que a sucessão ocorreria naturalmente, de forma planejada e sem percalços.
O ministro e o presidente, assim, estariam divergindo quanto a quem deveria ocupar o comando da PF a partir de agora. A assessoria do ex-juiz negou que Moro tivesse pedido demissão. Nos bastidores, a informação é que o ministro teria condicionado sua permanência à possibilidade de escolher o novo chefe da Polícia Federal e quer carta branca para isso.
Ministros da ala militar, como o chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno, entraram em cena para tentar apagar o incêndio, mas o anúncio da saída de Valeixo sem a indicação de outro nome para ocupar o posto complica bastante a situação.
Divergências quanto ao comando da Polícia Federal são mais antigas
Apesar de a PF estar subordinada a Moro, Bolsonaro há tempos vem querendo ditar, ele mesmo, os rumos da instituição. Em agosto do ano passado, o presidente anunciou a saída do então Superintendente na PF do Rio de Janeiro, Ricardo Saadi, e tentou emplacar o nome de Alexandre Silva Saraiva para o posto. A interferência gerou ruídos entre integrantes da corporação e desagradou o próprio ministro Moro.
A PF reagiu negativamente. Informou que a troca no Rio já estava sendo discutida há tempos, que a saída de Saadi nada tinha a ver com questões de produtividade e que seu substituto, na verdade, seria Carlos Henrique Oliveira Sousa, superintendente da PF em Pernambuco – que foi quem acabou assumindo.
Moro não se manifestou publicamente. Bolsonaro continuou a dar declarações e chegou a dizer que se não podia trocar o superintendente do Rio de Janeiro, trocaria o diretor-geral da PF. Em meio à tentativa do presidente de intervir na Polícia Federal, a corporação deflagrou a operação Turbulência, que mirou o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE). A ação colocou o presidente em uma situação delicada e fortaleceu Moro e Valeixo.
Contexto da exoneração de Valeixo na Polícia Federal
A decisão do presidente de mudar o comando da PF ocorre dias depois de o Supremo Tribunal Federal (STF) autorizar a abertura de inquérito para investigar quem organizou e financiou manifestações em defesa da ditadura, no domingo. Bolsonaro participou de um ato com esse teor diante do quartel-general do Exército, em Brasília. Ficou irritado depois que alguns de seus aliados entraram na mira da Polícia Federal.
Há no Planalto o sentimento de que a relação entre Moro e Bolsonaro vem se deteriorando com rapidez. Desde que entrou no governo, o ex-juiz tem sofrido derrotas, como o pacote anticrime travado Congresso. Em janeiro deste ano, Bolsonaro tentou dividir o Ministério da Justiça em dois, tirando de Moro a Segurança Pública. O ministro ficou indignado e ameaçou novamente abandonar o governo. O presidente, então, recuou da ideia.
No auge da crise do coronavírus, Bolsonaro chegou a dizer, em conversas reservadas, que o ministro da Justiça era “egoísta” e só pensava em si próprio. Em outra ocasião declarou que usaria sua caneta contra pessoas do governo que “viraram estrelas”. Para interlocutores do presidente, o recado mirava não apenas o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, demitido do cargo, mas também Moro.
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