O tempo de resposta sobre os casos suspeitos é um dos gargalos no combate à doença. A Sesa aguarda para essa semana a chega de testes rápidos
Além do isolamento social, para tentar barrar a transmissão da Covid-19, outra estratégia indicada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é a aplicação massiva de testes para diagnosticar a doença. No Ceará, em 15 dias, há 5 mortes por coronavírus e outras 359 pessoas estão contaminadas. Uma das justificativas para a alta quantidade, apontam especialistas, é a possível realização de muitos testes. Mas, esse tem sido um dos pontos frágeis no combate à doença: a incapacidade de ofertar testes para todas as suspeitas atrelada à demora na disponibilização das respostas. O tempo de espera para confirmação ou descarte da Covid 19, segundo o Conselho de Secretarias Municipais de Saúde (Cosems) do Ceará, pode chegar a 17 dias. Moradores de 68 cidades aguardam resultados, conforme a entidade.
No Ceará, há casos confirmados de Covid-19 em 11, dos 184 municípios, são eles: Fortaleza (338), Aquiraz (7), Sobral (5), Quixadá (2), Caucaia (1), Fortim (1), Itaitinga (1), Juazeiro do Norte (1), Maranguape (1), Maracanaú (1) e Mauriti (1). Conforme o Cosems, nas 68 cidades que aguardam resultado, o tempo de espera tem variado entre 3 e 17 dias.
A presidente do Cosems, Sayona Cidade, ressalta que essa demora é uma “dificuldade generalizada. O interior inteiro está sem resposta”. Ela explica que os municípios receberam kits que fazem a coleta para os testes moleculares chamado RC-PCR (reação em cadeia da polimerase em tempo real), que faz a detecção específica do coronavírus a partir de amostra de secreção nasofaríngeo coletada por uma espécie de cotonete pelo nariz ou pela boca.
As equipes municipais de saúde, diz Sayonara, fazem a coleta e enviam o material nos transportes das próprias prefeituras para análise do Laboratório Central de Saúde Pública do Ceará (Lacen), em Fortaleza. De acordo com ela, cada município se abastece de kits nas sedes das regiões de saúde e sendo recomendado buscar a quantidade demandada para testar as suspeitas e uma pequena reserva, para o caso de outras necessidades. “A gente vem nesse sufoco pedindo porque ficamos na desconfiança. Nos municípios, as pessoas acham que estamos escondendo alguma coisa. Gera o medo de uma coisa nova que estamos vivendo agora”, ressalta. O Cosems está fazendo ainda um levantamento da quantidade de exames que estão em espera por resultados.
Demora
Fortaleza não consta na lista do Cosems. Mas, um dos casos de espera relatados ao Sistema Verdes Mares é da idosa Gonçala Calixto Morais, de 87 anos, moradora da Capital. De acordo com a família, desde o dia 22 de março ela estava na UPA de Messejana, com quadro clínico de insuficiência respiratória grave e suspeita de Covid 19. A idosa precisava realizar alguns exames. A família chegou a acionar à Defensoria Pública para garantir a transferência da paciente para o leito em uma das unidades de retaguarda.
Conforme a neta da paciente, Joélia Lima, a família, inicialmente, teve negativas quanto à internação, pois era alegado pela rede de saúde que para garantir a internação em um dos hospitais de retaguarda seria necessário a confirmação para coronavírus. Nesse intervalo de tempo, foi concedida uma liminar para que o Estado garantisse o leito.
No entanto, um erro do setor jurídico da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa) apontava o óbito da paciente. “O jurídico da Sesa pediu desculpa pelo erro. Peguei um documento na UPA atestando que ela está viva”, conta a neta. À tarde a Sesa informou que o exame feito pela idosa para confirmar ou descartar Covid-19 ainda aguardava resultado e acrescentou que a paciente deveria ser transferida para o IJF 2, no Centro. A família segue aguardando o resultado do exame realizado no dia 22 de março. Segundo a neta da paciente, ela foi internada na UTI em estado grave.
Até ontem, conforme a Sesa, foram realizados 4.664 exames laboratoriais para o diagnóstico da infecção pela Covid-19 no Ceará. Ao todo, 372 confirmaram o adoecimento. A diferença entre o total de exames positivos e os casos confirmados, informa a Sesa, leva em consideração a duplicidade de 13 amostras entre os laboratórios. Em 2.262 casos suspeitos não foi detectado o vírus e 1.840 aguardam resultado laboratorial.
A secretária executiva de Vigilância e Regulação da Sesa, Magda Almeida explica que há demora e dificuldades devido à quantidade de kits de reagentes para a testagem. O Estado tem um convênio com BioManguinhos (Fiocruz), que produz reativos como o teste para detecção do coronavírus, que, conforme Magda permitia a realização de análise de 100 exames por dia no Lacen. Contudo, esclarece, essa quantidade não significa total de pacientes testados, pois, em alguns casos, a amostra de uma pessoa precisa ser testada mais de uma vez. Isto entra na contagem de reagente.
Com o recente empréstimo de dois aparelhos, sendo um do Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos (NPDM) e outro do Instituto de Ciências do Mar (Labomar), ambos da Universidade Federal do Ceará (UFC), a capacidade de análise do Lacen aumentou para 320 exames por dia. A Sesa também tenta, conforme Magda, organizar a ampliação da rede de testagem, inserindo o Centro de Hemoterapia e Hematologia do Ceará (Hemoce) e a Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Cariri (Famed/UFCA) na realização de testes de RC-PCR. Outra possibilidade é a aquisição de uma máquina já solicitada pelo Governo do Estado ao Ministério da Saúde que conseguiria realizar 1.000 exames por dia.
Prioridades
Além disso, devido à demora no tempo de resposta a Sesa, neste momento, trabalha com alguns critérios de prioridade. Os resultados dos exames dos pacientes internados nas UTIs e em seguida os das enfermarias passam na frente na fila de espera. Caso haja procedimentos de transplantes, tanto doadores quanto receptores devem fazer o teste para a Covid-19 e esse resultado também tem preferência. Outra situação são os óbitos em que haja suspeita de coronavírus. Os resultados desses exames também são priorizados.
A situação dos profissionais da saúde e da segurança também tem prevalência sobre os demais da fila de espera. Pois, segundo Magda, nesse momento de gargalo na disposição dos resultados, foi necessário diferenciar os grupos que estão na linha de frente de serviços públicos e, no caso da saúde, da assistência à população. “Temos que liberar esses exames o mais cedo possível. Temos alguns profissionais da saúde afastados porque estão com sintomas gripais. Nós temos que saber qual a situação deles para saber se eles continuam ou não”, enfatiza. Esses quatro grupos têm prioridade ante os pacientes que tenham sintomas mas estejam clinicamente estáveis, acrescenta ela.
Teste rápido
Magda também explica que os testes rápidos adquiridos pelo Governo do Estado e previsto para chegar hoje ao Ceará são distintos dos testes realizados atualmente não só pelo tempo de resposta, que pode chegar a minutos. O RT-PCR detecta, a partir da amostra, a presença do vírus no organismo. Já os testes rápidos verificam a resposta do organismo ao vírus, com por exemplo, a presença de anticorpos contra o microorganismo invasor. “Nesse teste rápido é feita coleta de uma pequena amostra de sangue. Vai dizer se você está com a infecção aguda ou se você já teve. Diz se a pessoa tem anticorpos. Diz se está com a infecção, mas não diz se você está transmitindo ainda”, explica.
No primeiro momento, o Governo do Estado comprou 50 mil testes. Ao todo deverão ser, na primeira fase, 350 mil. Mesmo com a aquisição desses testes, eles não serão feitos massivamente no sentido de testarem toda e qualquer suspeita. “É preciso esclarecer que quando a gente fala de testagem massiva não estamos falando de todas as pessoas. Até para coletar o teste que fazemos hoje, o RC-PCR, o paciente que é assintomático ele não tem vírus exalando. Geralmente os exames dão inconclusivo. Então, o teste massivo é para as pessoas que tenham sintomas gripais”, esclarece.
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