Médico explica ao G1 que, na maior parte dos casos, o vírus permanece nas vias aéreas superiores, como nariz e garganta, e não causa complicações mais graves. Segundo ele, a menor parte dos casos o Sars-Cov-2 avança às vias aéreas inferiores (traqueia, brônquios e alvéolos).
Nem todos os os casos de Covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus, se manifestam da mesma forma. Para ter consequências mais graves, o vírus Sars-Cov-2 precisa percorrer um longo caminho até chegar ao pulmão, explica o médico pneumologista José Eduardo Afonso Jr., do Hospital Albert Einstein.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou pandemia pelo surto de coronavírus, que até o fim tarde desta terça-feira (17) tinha 291 casos confirmados no Brasil pelo Ministério da Saúde. A primeira morte no país por causa da Covid-19 ocorreu nesta segunda-feira (16) no estado de São Paulo.
Segundo Afonso Jr., o Sars-Cov-2 atua da mesma forma que outros vírus respiratórios, como o da gripe, por exemplo.
A porta de entrada do novo coronavírus no corpo se dá pelas vias aéreas superiores — nariz e garganta, por exemplo. “Então, é comum o paciente manifestar sintomas nesses lugares, como coriza e dor de garganta”, diz o pneumologista ao G1. “E a maior parte dos casos termina por aí.”
É na menor parte dos casos que o coronavírus avança e chega às vias aéreas inferiores: traqueia, brônquios (onde ele pode causar inflamação) e alvéolos. Os alvéolos são pequenas estruturas que compõem o pulmão, e funcionam levando o oxigênio à corrente sanguínea.
“Nos casos graves, que são mais raros, ele causa insuficiência respiratória, por conta do comprometimento dos alvéolos”, diz Afonso Jr. “O vírus age fazendo com que se acumule líquido nos alvéolos, no lugar de ar, e causando insuficiência respiratória.”
O médico completa: “A situação pode variar de quadros mais leves, em que uma pequena parte do pulmão é afetada, até casos mais graves, quando uma grande parte dos dois pulmões fica comprometida”.
Ele explica que a resposta médica também varia de acordo com a gravidade, podendo exigir um cateter ou até ventilação mecânica.
Pulmões prejudicados em pacientes recuperados
Apesar de a Covid-19 nem sempre atingir os pulmões, alguns pacientes recuperados tiveram danos na função pulmonar, de acordo com os médicos do Hospital Princess Margaret, de Hong Kong.
As informações publicadas pelo jornal “South China Morning Post” mostram redução de 20% a 30% na capacidade respiratória de pacientes que se recuperaram do novo coronavírus.
Isso pode fazer as pessoas ficarem ofegantes ao andar mais rapidamente, por exemplo.
Tomografia não é usada em diagnóstico
A tomografia computadorizada pode ser utlizada para avaliar a extensão da infecção nos pulmões e orientar a ação do médico, mas o exame não é usual para o diagnóstico da Covid-19, segundo José Eduardo Afonso Jr.
“A confirmação diagnóstica é feita por meio de um exame chamado PCR para Covid-19, que é feito com um swab [uma espécie de cotonete estéril] que se passa no nariz e na garganta do paciente”, afirma.
“O médico pode considerar fazer uma tomografia em algumas situações, para estimar a gravidade do caso.”
O pneumologista aponta que os primeiros exames podem não ser conclusivos nos casos em que, por exemplo, o paciente chega ao consultório se queixando de sintomas compatíveis com doenças respiratórias.
“Muitas vezes, a ausculta [uso do estetoscópio para verificar a atividade dos pulmões] pode ser normal, e o paciente ter mesmo assim acometimento pulmonar. “
A dúvida sobre a necessidade ou não de uma tomografia veio à tona com a circulação de um áudio em grupos de WhatsApp atribuído ao cirurgião Fábio Jatene, gravado após uma reunião no InCor, em São Paulo, com médicos que discutiam a situação do coronavírus.
Jatene cita, em um momento do áudio, o caso de um paciente que teve a gravidade da infecção descoberta após passar por uma tomografia, sendo que o exame de raio-X não mostrava a extensão das lesões no pulmão.
Afonso Jr. relata, sem citar o caso específico descrito no áudio, que o raio X produz uma imagem bidimensional, enquanto a tomografia “pode mostrar camadas de até 1 milímetro de espessura, se for de alta resolução”.
“Para os pacientes que você já sabe que têm o pulmão acometido, já sabe que são quadros mais graves, a tomografia ajuda a ver a evolução da doença.”
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