Frederic Bastiat, liberal francês do século XIX, falava daquilo que se vê e daquilo que não se vê, para chamar a atenção para a miopia ou o oportunismo de quem analisa medidas sempre com foco no curto prazo, ignorando seus efeitos secundários. É a postura típica dos demagogos.
Essa tem sido, aliás, a postura da esquerda há anos: aponta para os miseráveis, exige ações estatais imediatistas (que agravariam o problema), acusa a direita liberal de insensível por ser contra, e soma as mortes dos pobres como responsabilidade do “sistema”, do capitalismo. É triste ver liberais agindo assim agora.
Questionar os dilemas diante do coronavírus é postura de gente séria, madura, honesta. Focar nas tragédias de curto prazo como se não houvesse custo para qualquer medida drástica hoje é a postura dos míopes ou oportunistas demagogos.
Vamos supor que o governo decrete isolamento total. Aí uma pessoa morre porque estava isolada e não conseguiu ajuda. Essa morte seria colocada na conta do governo também? Todos que demandaram o isolamento assumiriam a responsabilidade por tal perda? Viram como o debate adulto é mais complicado?
A verdade inapelável é uma só, e triste: tem muita gente feliz de certa forma com o coronavírus porque ele serve para atacar governantes como Trump e Bolsonaro. Não conseguem esconder a alegria! O oportunismo salta aos olhos, e isso revela o lado mais podre da natureza humana.
A pressão dos “radicais de centro” contra qualquer um que não aderiu à histeria e não está usando o coronavírus para pedir o impeachment do presidente é intensa. Em bando, perguntam o que aconteceu, alertam para a mancha na trajetória, alguns chegam a insinuar que você é um vendido.
A tática é pérfida. Eles provocam, acusam de vendido, perguntam quanto você ganha para “defender o governo fascista”, aí você perde a calma, dá uma resposta atravessada, e logo marcam o seu empregador pedindo sua cabeça. Ou seja, no fundo sabem quem paga a conta, e não é o governo!
Eu costumo ser muito tolerante com críticas e até ataques, e é raríssimo eu bloquear alguém nas minhas redes sociais. Tem que ter aprontado muito! Mas se tem uma coisa que eu não tolero é gente que acusa de forma leviana de ser vendido só por pensar diferente. Isso é “block” na hora, até porque é pura projeção de quem, na verdade, está à venda!
Dennis Prager, um dos analistas americanos mais sérios, seria um bolsominion fanático? Ridículo, certo? Pois em seu novo texto ele questiona se os remédios para o coronavírus não serão piores do que a própria doença. É uma dúvida pertinente! Diz ele:
Só podemos ter certeza de que o fechamento de praticamente todas as partes da sociedade resultará em um grande número de pessoas economicamente arruinadas, a economia de vida esgotada, décadas de trabalho construindo um restaurante ou outras pequenas empresas destruídas”.
Só podemos ter certeza de que o fechamento de praticamente todas as partes da sociedade resultará em um grande número de pessoas economicamente arruinadas, a economia de vida esgotada, décadas de trabalho construindo um restaurante ou outras pequenas empresas destruídas”.
Só podemos ter certeza de que o fechamento de praticamente todas as partes da sociedade resultará em um grande número de pessoas economicamente arruinadas, a poupança de uma vida esgotada, décadas de trabalho construindo um restaurante ou outras pequenas empresas destruídas.
O coronavírus impõe decisões difíceis, escolhas de Sofia. Por isso é um dilema: não tem resposta fácil. Chamar de “fantasia” é revoltante mesmo, e a postura de Bolsonaro até aqui foi irresponsável, em que pese o seu governo estar fazendo o que pode ser feito, por meio dos seus ministros.
Mas esse uso político indigesto por parte do centrão “moderado”, alinhado ao esquerdismo radical, é lamentável demais. Voltem a Bastiat, liberais!
Rodrigo Constantino
Economista pela PUC com MBA de Finanças pelo IBMEC, trabalhou por vários anos no mercado financeiro. É autor de vários livros, entre eles o best-seller “Esquerda Caviar” e a coletânea “Contra a maré vermelha”. Contribuiu para veículos como Veja.com, jornal O Globo e Gazeta do Povo. Preside o Conselho Deliberativo do Instituto Liberal.
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