Brasileiros que estudam em locais afetados relatam como está sendo o dia-a-dia com o avanço da epidemia
A epidemia de coronavírus já atinge mais de 110 países e está levando governantes a tomarem uma série de medidas como quarentena de cidades inteiras, fechamento de escolas e proibição de eventos públicos. Em Portugal, país com pouco mais de dez milhões de habitantes, foram registrados 59 casos da doença, o que levou à suspensão de aulas em 13 dos 37 institutos de educação superior do país, além do cancelamento de eventos.
Na Universidade do Porto, a Faculdade de Farmácia (FFUP) e o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) estão com as aulas suspensas. Isso aconteceu depois de uma aluna da FFUP ser diagnosticada com a doença.
Natural de Nova Iguaçu (RJ), Juliana Lopes está fazendo intercâmbio em Medicina Veterinária no ICBAS. Ela conta que o clima da cidade do Porto está “estranho”. “Os moradores daqui aparentam estar mais contidos e as ruas estão um pouco mais vazias do que o normal”, observa. “Algumas pessoas que não tiveram as aulas suspensas têm deixado de ir à faculdade por medo”, relata.
A mudança também é perceptível no transporte público. Juliana fala que as pessoas estão evitando segurar nas barras e encostar nos assentos. As portas do metrô da cidade só abrem se o usuário apertar um botão e até este gesto está diferente. “As pessoas estão usando os cotovelos e telefones celulares ao invés das mãos para apertar o botão”, fala.
Com o avanço da doença, os mercados estão ficando cada vez mais cheios e as prateleiras, vazias. “Vi muita gente fazendo compras grandes e de produtos enlatados como feijão e atum”, conta a estudante. “As garrafas de água estão diminuindo mais rapidamente das prateleiras, mas não há produtos esgotados”, diz. Nas farmácias, já não há máscaras e álcool em gel à venda.
Além da suspensão das aulas em alguns cursos da Universidade do Porto, eventos estão sendo cancelados para evitar a aglomeração de pessoas. As festas voltadas a intercambistas foram canceladas até, pelo menos, 22 de março. Teatros e museus suspenderam eventos públicos.
A universitária compara a epidemia de coronavírus em Portugal à pandemia de gripe A H1N1 registrada em 2009. “A reação que a população está tendo é bem parecida com a que os brasileiros tiveram em 2009”, compara.
O medo do novo coronavírus fez a intercambista pensar em voltar ao Brasil. “Conversei com os meus familiares sobre isso, mas por enquanto eu não chegaria a esse ponto. Estar aqui hoje foi um esforço muito grande de todas as partes”, fala. “Se a situação do país e do continente se tornar insustentável, é um caso a se pensar novamente”, complementa.
A Universidade de Lisboa decidiu cancelar as aulas presenciais de todos os cursos. Na capital portuguesa, o uso de máscaras pela população já se tornou comum. Quem conta é a brasileira Adriana Antonino, de 25 anos, que estuda na capital. “Eu espirrei no transporte público e já me olharam feio por isso”, relata. Ela conta também que nos mercados as prateleiras já começam a ficar vazias.
Adriana se divide entre Lisboa, onde tem aulas nos finais de semana, e a cidade de Coimbra, onde mora, no centro de Portugal. Na segunda-feira, 9, a Universidade de Coimbra anunciou um plano de contingência suspendendo todas as atividades letivas presenciais e os eventos científicos, culturais e esportivos. Foram fechados os prédios turísticos, o Estádio Universitário e o Teatro Acadêmico, o principal da cidade. “Hoje saí à rua e vi muitas pessoas usando máscaras e menos gente circulando”, fala.
A mineira Milena Anício, de 21 anos, também estuda na Universidade de Coimbra e se diz “chateada” com a suspensão das aulas. Ela observa que a atitude da universidade de cancelar todas as atividades letivas presenciais acendeu um alerta na população do município. “Já disponibilizaram álcool em gel em locais como academias, escolas e na universidade”, conta.
Para não haver prejuízo ao calendário acadêmico, Milena conta que as atividades estão sendo feitas a distância. “Alguns professores darão trabalhos para enviar pela internet. Outros farão aulas por Skype ou grupos do Facebook”, explica.
As atitudes tomadas pela Universidade assustaram a estudante. “No começo eu acreditava que ia passar rápido, mas, pelo jeito que andam as coisas, imagino que a situação vá continuar assim por pelo menos mais um ano”, projeta.
Impacto
Quase todas as instituições de ensino superior de Portugal criaram planos para conter o coronavírus e cancelaram eventos. Algumas implementaram salas de isolamento para tratar os casos suspeitos.
Além das universidades de Coimbra, de Lisboa e do Porto, as aulas foram suspensas nas Universidades do Minho, na Universidade Nova de Lisboa, na Universidade Lusíada – Norte, na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, na Universidade Lusófona do Porto, no Instituto Universitário de Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida, na Cooperativa de Ensino Superior Politécnico e Universitário, na Escola Universitária Vasco da Gama, no Instituto Superior de Ciências da Saúde Egas Moniz e no Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes.
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