Líderes do agronegócio, que responde por um quinto do PIB brasileiro, abrem espaço para seus herdeiros perpetuarem o legado da família
Uma nova geração de agricultores está assumindo os negócios de suas famílias e também começa a ganhar voz no setor, desbravado nas últimas décadas por seus pais e avós e que responde hoje por um quinto do PIB nacional. A sucessão familiar no agronegócio começou a ficar mais estruturada nos últimos anos e tem levado de volta ao campo uma safra de herdeiros que foi se preparar nas melhores universidades do País e trazem na bagagem também experiências do exterior.
O mandato desse grupo de herdeiros é perpetuar os negócios da família, aliando a tradição do campo à realidade tecnológica. “Nunca me senti pressionado. A sucessão não me foi imposta goela abaixo”, diz Fabio de Rezende Barbosa, 44 anos. Fabio administra as terras agrícolas de cana-de-açúcar e de soja em São Paulo, que pertenciam ao empresário Roberto de Rezende Barbosa, que já foi um dos principais usineiros do País, dono da NovAmérica, e hoje é acionista da empresa. As usinas do grupo, que chegou a ser dono da marca de açúcar União, foram incorporadas pelo grupo Cosan em 2010.
Antes de assumir os negócios da família, Fabio “fugiu” aos 19 anos para Santa Catarina para estudar economia. “Criei uma startup com um amigo, quando nem era moda ainda: montamos casas de sucos nas praias de Florianópolis, mas depois voltei para São Paulo. Passei por várias áreas na NovAmérica e depois fui trabalhar em Paris na trading de açúcar Sucden. De lá, fui para a Tailândia, Austrália e Coreia do Sul”, disse.
De volta ao Brasil em 2005, Fabio desembarcou direto para Tarumã, interior de São Paulo, onde fica a sede das fazendas de sua família. “Não dava para administrar as fazendas da Faria Lima”, brinca. No fim do ano passado, Fabio e seu irmão concluíram a compra das propriedades agrícolas de seu pai, que ficou no conselho da empresa. “Nosso desafio hoje não é a tecnologia no campo. Isso nós temos. A meta é fazer com que as diversas tecnologias falem a mesma língua.”
Especialista em sucessão familiar, Fábio Matuoka Mizumoto, coordenador acadêmico do MBA do Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas (FGV), diz que esse processo ainda é incipiente no País. “Em 2015, criei um clube de herdeiros para que essa nova geração pudesse trocar experiências práticas.” Bancos com tradição no campo, como o Rabobank, têm intensificado consultorias às famílias para perpetuar o negócio. Fabiana Alves, que coordena há 12 anos a área de agronegócio do banco holandês, estima que há cerca de 4 mil famílias, com faturamento acima de R$ 10 milhões, dentro desse espectro.
Em um movimento mais recente, o Itaú criou uma base para avançar em agricultura e vê um potencial de cerca de 20 mil agricultores em todo País como potenciais clientes. “Mas ainda há muito grau de frustração nesse processo. Quando a família começa a discutir a sucessão, muitas vezes fica evidente que o sucessor não quer ser sucedido e o herdeiro não tem a menor ideia dos negócios que tem nas mãos”, observa Denis Arroyo, sócio da consultoria Markestrat.
Mas nem sempre a passagem de bastão é vista como uma tarefa árdua. Filho único de um dos principais pecuaristas do Estado de São Paulo, Bento Mineiro, 29 anos, também está se consolidando como uma nova liderança do setor. Formado em ciências sociais pela PUC-SP, ele diz que o processo de sucessão em sua família foi feito com intuição e bom senso. Há cinco anos, Bento decidiu fazer apostas em queijo artesanal, unindo a pecuária, que já estava no DNA da família, à gastronomia, outro forte interesse dos Mineiro. Hoje, a Pardinho Artesanal, em Botucatu (SP), é uma das referências do País. Filho de Jovelino Mineiro, um dos principais criadores de gado da região do Pontal do Paranapanema, Bento também faz parte da diretoria da Sociedade Rural Brasileira (SRB).
Em 2009, quando tinha 19 anos, Bento foi o primeiro herdeiro a ser convidado pela SRB para fazer parte da ala jovem da entidade centenária. Hoje, Bento está em seu terceiro mandato. Ele também é diretor da Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ), entidade da qual seu pai também fazia parte.
A renovação de lideranças no campo é uma demanda que tem ganhado força. Na segunda-feira, dia 10, a SRB elegeu sua nova diretoria, que inclui uma nova safra de herdeiros do agronegócio. Além de Bento Mineiro, faz parte do colegiado Azael Pizzolato Neto, 29 anos, que responderá pela área de agroenergia da entidade.
Formado em engenharia agrônoma pela Esalq/USP, de Piracicaba (SP), Azael se viu, há seis anos, no olho do furacão, com a cisão dos negócios de sua família. “Meu pai tem 53 anos. É novo, tem muita lenha para queimar ainda. Mas, quando meu avô morreu, meus pais decidiram separar os negócios do restante da família. Então, ficamos com propriedades rurais de cana. Meu irmão não quis participar da gestão”, disse.
Antes de assumir as fazendas do pai, Azael criou em 2015 uma empresa com dois amigos para plantar soja em áreas de cana. Sem abandonar sua empresa, Azael também faz a gestão das fazendas. Seus pais se dedicam exclusivamente à incorporadora residencial da família na região de Jaboticabal e deram liberdade para o filho tocar os negócios. Mas ainda fazem marcação cerrada. “Meu pai é ainda um pouco controlador. Me liga para entender como estão as coisas.”
De uma família tradicional de cafeicultores no sul de Minas, Marcus Vinícius Falleiros, 26 anos, é representante da nona geração desse negócio.Com fazendas em Capitinga (MG) e Restinga (SP), Marcus Vinícius conta que está nos negócios da família “desde menino pequenino”. Associado à SRB há sete anos, foi eleito diretor este ano, seguindo uma tradição que vem desde o seu bisavô. “O produtor tem de buscar o associativismo para ter voz mais forte e uníssona, e também o cooperativismo para fortalecer o setor.”
ESPAÇO PARA AS MULHERES
Ainda que este seja um setor predominantemente masculino, uma geração de mulheres também começa a ganhar mais espaço no campo. É o caso de Bárbara Lorenzetti, 28 anos. Formada em administração de empresas, decidiu há um ano e meio se inteirar dos negócios da família. Filha de um dos principais plantadores de cana da região de Lençóis Paulista (SP), Bárbara participou de um curso de sucessão coordenado por Denys Arroio aos produtores de cana do grupo Zilor. Foi lá que entendeu que o agronegócio estava em suas veias. “Eu não sabia exatamente qual carreira seguir. Mas fui percebendo que o negócio do meu pai é o meu futuro.”
É em uma fazenda a 60 quilômetro de Palmas (TO) que Caroline Schneider Barcellos, 33 anos, decidiu fincar seus pés, junto com sua família. Herdeira do grupo Wink, fundado pelo avô de Caroline, que saiu do Rio Grande do Sul para desbravar as terras do Centro-Oeste, a advogada até tentou seguir carreira solo, mas percebeu que trabalhar em um escritório a céu aberto poderia ser mais gratificante. Os pais de Caroline dividiram as propriedades agropecuárias espalhadas entre Chapadão do Céu (GO) e Porto Nacional (TO) para os três filhos. “Minha irmã e meu cunhado estão administrando os negócios em Goiás. Eu, meu marido e meu irmão mais novo estamos aqui em Tocantins. Meus pais não fizeram faculdade e nos deu a liberdade para escolhermos a nossa carreira.”
Manter um legado nas mãos da família nem sempre é uma tarefa fácil. Mas a tradição fala mais alto na família do ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues. Um dos maiores produtores de cana e soja do Centro-Sul, os Rodrigues estão em sua quarta geração. “Meu bisavô perdeu tudo na crise de 1929 dos Estados Unidos. Meu avô, formado engenheiro agrônomo pela Esalq, começou a construir tudo de novo”, contou Paulo Rodrigues, 52 anos, também formado pela Esalq e gestor do condomínio de fazendas Santa Izabel, que inclui propriedades agrícolas em São Paulo e Minas Gerais. Ele foi o único dos quatro filhos de Roberto que decidiu administrar o negócio. “Todos eles, junto com meu pai, estão no conselho.”
Se depender dele, o negócio continuará se perpetuando. “Meu filho Antônio me perguntou o que era preciso para trabalhar com a gente: Respondi: precisa estar muito bem preparado para disputar a vaga”, disse Paulo Rodrigues. Muita coisa mudou desde que Paulo assumiu os negócios nos anos 1990. “Além dos avanços tecnológicos, há o grande desafio da questão ambiental. Nossa visão é buscar o melhor sistema de produção agrícola, com rotação de cultura. Parece uma coisa simples, mas não é.”
CONHEÇA AS HISTÓRIAS DE SETE HERDEIROS QUE DECIDIRAM SEGUIR O DNA DA FAMÍLIA
‘FUGA’ PARA FLORIANÓPOLIS
FABIO DE REZENDE BARBOSA
Fabio de Rezende Barbosa, 44 anos, diz que até tentou fugir do campo quando, aos 19 anos, desembarcou em Florianópolis para estudar economia. “Lá tem praia”, brinca. Nos quatro anos do curso na Universidade Federal de Santa Catarina, chegou a montar uma cadeia de quiosques de suco nas praias, junto com um amigo. Mas, quando voltou para São Paulo, no início dos anos 2000, começou a trabalhar em diversos setores da empresa de seu pai, Roberto de Rezende Barbosa, um dos maiores empresários do setor sucroalcooleiro do País.
Quando decidiu que iria seguir carreira nas empresas da família, Barbosa foi trabalhar em uma das maiores tradings de açúcar do mundo, a Sucden, em Paris. De lá, seguiu para Tailândia e Austrália, importantes produtores globais de açúcar. Ele também passou pela Coreia do Sul.
De volta ao País, no início de 2005, a NovAmérica, empresa até então comandada por seu pai, estava em ebulição: tinha recém-comprado a marca de açúcar União, que pertencia à Copersucar. Com os negócios da família crescendo, Fabio decidiu mudar de vez para Tarumã, interior de São Paulo, sede das fazendas do grupo. “Alguém tinha de sujar as botinas. Não dava para administrar o negócio da Faria Lima.”
Em 2009, quando o grupo Cosan comprou as usinas da NovAmérica, a família Rezende Barbosa decidiu se dedicar integralmente aos negócios agrícolas. A NovAmérica é uma das maiores produtores de cana do Estado de São Paulo e também produz soja.
No ano passado, Fabio e seu irmão concluíram a compra das fazendas que pertenciam ao seu pai, que está no conselho e se mantém como acionista da empresa. “Nunca me senti pressionado para assumir os negócios da família. Mas o plano de sucessão foi um processo longo. Não vou dizer que foi fácil.”
Com a experiência do exterior que trouxe na bagagem, Barbosa ajudou a integrar a cadeia dos negócios da família. “Meu maior desafio hoje não é a tecnologia. Isso nós temos no campo. A dificuldade maior é fazer a conexão entre todos os sistemas.”
O desafio também é pensar a empresa, que foi fundada por seu avô há 75 anos, para os próximos 75 anos.
LIDERANÇA NA VEIA
BENTO MINEIRO
Formado em ciências sociais pela PUC-SP, Bento Mineiro, 29 anos, começou muito cedo a participar de conversas setoriais do agronegócio. Filho do pecuarista Jovelino Mineiro, dono de propriedades agropecuárias em São Paulo e Minas Gerais, ele foi convidado a fazer parte da ala jovem da Sociedade Rural Brasileira (SRB), entidade centenária que reúne as principais lideranças do agronegócio do País, quando tinha 19 anos.
“Fui o primeiro integrante dessa nova geração. Daí, fui chamando os meus amigos”, conta. Ainda na faculdade, Mineiro começou a organizar debates para discutir o código florestal. “Era preciso se organizar para entender o tema.”
No início desta semana, Bento foi eleito pela terceira vez diretor da SRB. Ele participou da chapa que elegeu a pecuarista Teresa Vendramini presidente da entidade, com mandato até 2022. “É a primeira vez que uma mulher assume o comando da SRB”. Bento também faz parte da Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ). Apesar da pouca idade, ele é considerado uma liderança influente entre seus pares e representantes da “velha guarda”.
O processo de sucessão foi intuitivo e com bom senso, diz. Visto como uma jovem liderança do setor agronegócio, Mineiro também é um empreendedor do setor. Em 2014, decidiu investir em queijos artesanais. Hoje, a Pardinho Artesanal, em Botucatu (SP), é referência no setor. “Gastronomia sempre esteve muito presente em nossa família. Levamos uma equipe para entender do negócio na França e decidimos ampliar o negócio.”
Mineiro vai investir em produção de embutidos em Botucatu e vai se dedicar à produção de vinhos. A família já é dona de vinhedos na região de Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul.
TRADIÇÃO EM FAMÍLIA
PAULO RODRIGUES
Na família Rodrigues, ser engenheiro agrônomo formado pela Esalq/USP, em Piracicaba (SP), é uma tradição. Paulo Rodrigues, 52 anos, filho do ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, está preparando o terreno para que seu filho Antonio, assuma o legado da família. Será a quarta geração no agronegócio.
“Meu pai, minha mãe e meu avô sempre respiraram agro. Quando meu filho Antonio perguntou o que precisava para trabalhar na nossa empresa, fiquei aliviado. Eu disse que era preciso estar preparado para disputar a vaga.”
A sucessão nos negócios foi uma coisa natural. “Antonio já se apresentou para jogar cedo, nada foi imposto.”
Paulo acredita que seu filho assumirá os negócios da família com desafios diferentes de sua época. Ele assumiu a gestão dos negócios da família em 1993. “De lá para cá, muita coisa mudou. Não falo somente de tecnologia. A gestão de pessoas e a questão da sustentabilidade foram ganhando importância.”
SEM PRESSÃO FAMILIAR
BÁRBARA LORENZETTI
Foi durante um seminário sobre a importância de manter as parcerias entre usinas e produtores de cana que Bárbara Lorenzetti, 28 anos, despertou sobre a importância dos negócios de seu pai. Até então, a filha de um dos principais plantadores de cana da região de Lençóis Paulista, no interior de São Paulo, não tinha uma ideia clara sobre qual carreira iria seguir.
“Quando comecei a fazer administração de empresas, não sabia exatamente onde eu iria trabalhar. Não havia uma pressão da família para seguir na agricultura. Minha irmã, por exemplo, se formou em arquitetura. Em casa todo mundo sempre foi muito mente aberta”, disse.
O pai de Bárbara, Paulo Lorenzetti, de 59 anos, saiu de uma usina da região para se tornar fornecedor de cana para o grupo, quando o processo de mecanização dos canaviais ficou mais intenso há cerca de 20 anos junto com um sócio. Hoje, administram uma área de 10 mil hectares de cana.
“Estou há um ano e meio trabalhando na empresa e cuidando da área administrativa. Foi muito gratificante participar daquele seminário e entender a importância do trabalho do meu pai. É o meu futuro. Eu preciso preservar o negócio.”
ESTÁGIO DE FÉRIAS NA INFÂNCIA
AZAEL PIZZOLATO NETO
Foi durante as férias escolares que Azael Pizzolato Neto, 29 anos, começou a tomar gosto pelo agronegócio. “Desde os oito anos idade meu pai já me levava para as fazendas para fazer estágio de férias”, diz o engenheiro agrônomo formado pela Esalq/USP.
O processo de sucessão na família Pizzolato, contudo, começou a ganhar forma há seis anos, quando o avô dele faleceu. “Ali houve uma cisão dos negócios. Meus pais decidiram separar as fazendas das propriedades do restante da família. Como meu pai ainda é muito novo, ele foi tocando o negócio.”
Azael decidiu seguir carreira solo. Depois de formado, foi fazer uma especialização em Ohio, nos EUA. Chegou a trabalhar em uma multinacional de sementes, em uma empresa de óleo e gás e, em 2015, decidiu criar uma empresa de agronegócio especializada em rotação de cultura de cana em lavouras de soja, junto com dois amigos. Foi com esse passo que se tornou uma das referências da nova geração em agroenergia. Hoje, ele também faz parte da diretoria da Sociedade Rural Brasileira (SRB), que está renovando os seus quadros.
Mas, em 2018, passou a dividir a gestão de sua empresa com os negócios da família. Seu pai, o empresário Azael Pizzolato Júnior, 53 anos, decidiu que era hora de se concentrar na administração de sua incorporadora residencial em Jaboticabal (SP).
“Começamos a dividir a gestão, mas aos poucos estou ficando com a administração das fazendas”, diz. A família administra propriedades agrícolas nas cidades de Jaboticabal, Taquaritinga e Araraquara, reunidas no grupo Ipê Agrícola. Nesta divisão dos negócios, o irmão de Azael decidiu ficar de fora da gestão, permanecendo apenas como acionista. “Ele é mais urbano.”
INVESTIMENTO EM VERTICALIZAÇÃO DOS NEGÓCIOS
CAROLINE SCHNEIDER BARCELLOS
A família de Caroline Schneider Barcellos, 33 anos, saiu muito cedo do Rio Grande do Sul para desbravar as terras agrícolas do Centro-Oeste. “Eles se estabeleceram em Chapadão do Céu (GO) com a produção de soja e de milho. Foram anos de muito trabalho suado até a gente se estabelecer nos negócios”, conta.
Sem curso superior, os pais de Caroline decidiram proporcionar estudos aos filhos, sem colocar pressão para que eles assumissem as empresas da família. “Eu me formei em direito em Campo Grande (MS) e cheguei a montar um escritório de advocacia, mas não levei adiante. É muito mais gratificante trabalhar em um escritório a céu aberto.”
Caroline decidiu participar da gestão dos negócios da família junto com seus irmãos. “Meus pais ainda são muito ativos e continuam como executivos da empresa, mas delegaram desde muito cedo funções para minha irmã Carine, meu cunhado e meu irmão.”
Donos do grupo Wink – o nome é em homenagem ao avô materno de Caroline -, eles administram cerca de 10 mil hectares de terras de grãos (6,5 mil hectares são de área própria) em Chapadão do Céu (GO) e Porto Nacional, a 60 quilömetro de Palmas (TO). As funções estão bem definidas.
Caroline cuida da área administrativa e jurídica das propriedades em Tocantins. “Meu marido é o braço operacional da fazenda.” Já as áreas agrícolas e de pecuária de Chapadão do Céu estão sob a responsabilidade de Carine, irmã de Caroline, e seu marido.
“Meus pais não tiveram muito estudo, mas trazem um conhecimento técnico do negócio que a gente está aprendendo. Acho que a nossa geração tem muito a agregar em gestão de pessoas e tecnologia. Meus pais faziam a linha: eu mando e vocês obedecem. Hoje não é mais assim.”
Segundo Caroline, a expansão do grupo passa também pela verticalização dos negócios. “Temos investido na armazenagem dos grãos e em transporte próprio para o escoamento dos grãos.”
LINHAGEM NA CAFEICULTURA HÁ QUASE DOIS SÉCULOS
MARCUS VINÍCIUS FALLEIROS
De uma tradicional família de cafeicultores do Sul de Minas, Marcus Vinícius Falleiros, 26 anos, tem o desafio de perpetuar os negócios da família. “São nove gerações de produtores.”
A família de Marcus Vinícius, de origem portuguesa, fez questão de perpetuar a cafeicultura para as novas gerações. Ele entende que a sucessão familiar tem de ser um trabalho combinado entre pai e filho. Foi exatamente assim no seu caso. “Não fiz nenhum curso específico de sucessão.” Com propriedades em Capitinga, no sul de Minas, e Restinga, interior de São Paulo, o cafeicultor tem participado da gestão das áreas rurais com mais intensidade nos últimos cinco anos. “Meu pai me colocou para participar do negócio desde menino, bem pequenininho. Nos últimos anos, ele tem se dedicado à filantropia em um hospital psiquiátrico de Minas.”
Desde muito cedo também Marcus Vinícius é ativo em entidades de classes, seguindo os mesmos passos de seu avô e bisavô. Ele está associado há sete anos à Sociedade Rural Brasileira (SRB) e vê nessa iniciativa uma forma de o produtor ter voz mais forte e uníssona. Também apoia o cooperativismo, por fortalecer comercialmente os agricultores.
Produtor de café arábica, as fazendas de sua família estão se preparando para lançar uma marca de café especial. Antenado com os desafios tecnológicos do campo, Marcus Vinícius conta com drones em seus cafezais e vê na tecnologia o principal instrumento para melhorar a produtividade de seus cafezais “da porteira para dentro”. Os drones, por exemplo, ajudam a pensar novas práticas de manejo nas lavouras.
PROFISSIONALIZAÇÃO
Instituições financeiras estão ajudando a estruturar a sucessão no campo
O processo de sucessão no agronegócio começou a ganhar corpo há não muito tempo, quando os tradicionais agricultores começaram a perceber que as novas gerações não estavam muito engajadas nos negócios da família.
“O programa de sucessão na agricultura não é muito diferente de um processo de grandes empresas”, explica Fábio Matuoka Mizumoto, coordenador acadêmico do MBA do Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e sócio da consultoria Markestrat.
Nos últimos dez anos, Mizumoto tem recebido muitos alunos de MBA interessados em discutir governança em empresas familiares e em processo de sucessão. “Em 2015, criei um clube de herdeiros para que essa nova geração pudesse trocar experiências práticas. Participaram muitos filhos de empresas de diversos setores da economia que acumulavam um bom conhecimento acadêmico, mas não tinham a vivência real do negócio.”
Esse formato já não existe mais, porque hoje é muito difícil reunir presencialmente executivos que moram no exterior. Para suprir essa demanda, Mizumoto tem promovido debates virtuais.
Com o avanço do processo de profissionalização de empresas familiares, instituições financeiras começaram a ficar atentas a esse movimento.
No início dos anos 2000, o banco holandês Rabobank, especializado em agronegócio, identificou que importantes grupos familiares do agronegócio não tinham um programa de sucessão definido. “Em conversas com os nossos clientes, percebemos que muitos agricultores tinham filhos em idade de decisão de carreira que não tinham uma postura clara sobre assumir os negócios da família”, explica Fabiana Alves, diretora executiva do banco.
O banco, então, criou em 2007 o programa Agrolíderes, que passou a discutir desde questões práticas de gestão financeira até governança para grupos que pretendem migrar para o mercado de capitais. O Rabobank tem hoje em sua carteira cerca de 1,6 mil clientes. Mas Fabiana acredita que há entre 3 mil a 4 mil grupos, com faturamento acima de R$ 10 milhões, dentro desse espectro para serem trabalhados.
Mais recentemente, o Itaú começou a elevar suas apostas no agronegócio. No ano passado, o banco decidiu estruturar uma área dedicada ao setor. “Até 2014, o banco não atendia financiamentos agrícolas”, afirmou Pedro Fernandes, diretor de agronegócio do banco. De 2015 para cá, a instituição passou a mapear o setor. O time do banco saltou de 30 para 140 pessoas. “Vemos os grupos familiares como parceiros para toda vida. Mas essa relação não pode ficar só no financiamento. Também começamos a acompanhar o processo de sucessão nas empresas que têm relacionamento com o banco.”
Antes, esse processo era conduzido pela equipe de private banking do banco, que conta com uma equipe pequena de advogados. O banco estima que há um potencial de quase 20 mil grupos familiares que podem ser assessorados neste processo sucessório.
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