Uma família de vírus que causa infecção respiratória está deixando o mundo em estado de pânico. Sabe-se que os coronavírus são conhecidos desde 1960, e são comuns, causando de infecções leves a moderadas, com os mesmos sintomas de um resfriado, porém alguns podem causar infecções graves, levando a óbito.
Justifica-se o rebuliço em torno do assunto? Em parte. Principalmente no Brasil.
É importante lembrar alguns dados: são, em média, 25 mil pessoas infectadas pelos virus e aproximadamente 500 mortas desde o final do ano passado. A preocupação é evitar que os vírus se espalhem pelo mundo, causando uma epidemia fora da China.
Mas, por que esses dados são tão importantes?
Porque há semanas falamos muito no contagio pelos coronavirus, nos sintomas, nas pessoas infectadas, nas que estão isoladas. Agora, com as proximidades do carnaval, o alerta a aumenta. São reuniões, avaliações de secretarias de saúde por todo o país, num planejamento poucas vezes visto, inclusive, para vírus que não chegaram ao Brasil.
Vale lembrar que aqui no país, até hoje, são 11 casos suspeitos, mas nenhum confirmado. E que, fora da China, os casos são bastante isolados. Vide as Filipinas, com um 1 caso confirmado.
Mas o que chama a atenção e leva esse texto a estabelecer uma rápida comparação é: o machismo mata mais do que coronavirus. Mata todos os dias. Mata por minuto. E continuará matando, porque não há planejamento, não há empenho, não há preocupação de que a morte de mulheres contamine ainda mais outras mulheres, outras famílias, estimulando outros machistas a matarem, diante da sensação de impunidade.
Se apresentamos os dados sobre os coronavirus, vamos a algumas informações sobre casos de feminicídios. O Brasil é o quinto maior país do mundo em taxa de feminicídio (que, de acordo com a lei penal, é “o assassinato de uma mulher cometido por razões da condição de sexo feminino”, ou seja, quando o crime envolve: “violência doméstica e familiar e/ou menosprezo ou discriminação à condição de mulher”.
E os feminicídios têm algo em comum… são cometidos por companheiros ou ex-companheiros que não aceitam o fim do relacionamento. São cometidos por homens que ainda acreditam que a mulher seria objeto de posse, fruto do pensamento machista, tão arraigado na sociedade, tão presente em nossas vidas, tão difícil de mudar.
Mas se os dados mostram que o machismo mata mais, muito mais do que os coronavirus, por que ele recebe menos, bem menos atenção? Onde estão a preocupação social e a urgência em resolver ou prevenir novos casos? Quais são as políticas públicas para combater o machismo em casa, na escola, nas ruas? Do contrário, a violência é cada dia mais estimulada, o armamento da população também, em troca de uma pseudo-segurança.
A Lei Maria da Penha é uma esperança para a as mulheres, mas infelizmente, não consegue garantir o direito à vida. Diariamente vemos casos brutais nos jornais, mas eles se juntam a outros casos e vão todos fazer parte das estatísticas.
Se você está preocupado com a proximidade do carnaval e a possível entrada dos vírus no país, acho sensato. Mas penso que metade da preocupação dedicada agora a essa epidemia local, que está, por ora, tão longe de nós, se dedicada às mulheres vítimas de assassinatos, permitiria que muitas delas permanecessem vivas, ou permaneçam, porque nesse momento, enquanto essas palavras são escritas, mulheres estão sendo violentadas e mortas, e novamente, pouco será feito (ou nada) para que nos sintamos donas da própria vida, do nosso corpo, das nossas vontades, sem por isso, corrermos o risco de sermos assassinadas.
Fica o alerta: o machismo mata muito e mata todos os dias.
E quem se preocupa com isso?
*Emanuela Carvalho, professora e autora dos livros A Terceira Pessoa Depois de Ninguém e Antes Feliz do que Mal Acompanhada
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