Nome forte da reforma da Previdência do governo Bolsonaro, Rogério Marinho foi nomeado nesta quinta-feira (6) ministro do Desenvolvimento Regional, no lugar de Gustavo Canuto. Marinho deixa o cargo de secretário especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, onde estava desgastado, para assumir uma pasta que tem um orçamento total de R$ 17,78 bilhões (incluindo gastos com pessoal) para este ano.
No Desenvolvimento Regional, ele vai ser o responsável por tocar temas que estavam em segundo plano no governo Bolsonaro: saneamento, habitação e mobilidade. Ficará responsável pelos programas Minha Casa Minha Vida (MCMV) e de transposição das águas do Rio São Francisco. Cuidará, ainda, da Defesa Civil e da articulação do governo federal com os prefeitos para ações de desenvolvimento regional e urbano.
A pasta tem forte atuação no Nordeste, estado de origem de Marinho. O novo ministro é natural de Natal, no Rio Grande do Norte. Pelo seu estado, foi secretário de Desenvolvimento Econômico e eleito deputado federal por três vezes. O governo Bolsonaro enfrenta uma forte oposição na região, liderada por governadores, prefeitos e parlamentares que são de partido de oposição.
Marinho foi a aposta do governo para a Previdência
Não é a primeira vez que Bolsonaro escolhe Marinho para liderar temas sensíveis. Em janeiro de 2019, ele foi nomeado secretário especial de Previdência e Trabalho justamente para cuidar da articulação política da reforma da Previdência. A reforma, após oito meses de tramitação, foi aprovada com uma economia de R$ 800 bilhões aos cofres públicos ao longo de dez anos.
Marinho foi apresentado ao ministro Paulo Guedes pela deputada federal Bia Kicis (PSL-RJ), ainda durante o governo de transição. Em pouco tempo, o seu nome ganhou força e ele foi escolhido para ser um dos secretários especiais do Ministério da Economia, respondendo diretamente a Guedes.
Inicialmente, Guedes ia manter a área de Previdência junto com a Secretaria Especial da Receita Federal. Mas o ministro se convenceu ser necessário criar uma secretaria especial para cuidar do tema, e que o comando da secretaria deveria ficar a cargo de alguém que tivesse conhecimento técnico e tático político.
Economista de formação, Marinho é considerado um exímio articulador político e tem apreço por temas da área econômica. Ele foi o relator da reforma trabalhista do governo Michel Temer e conseguiu a aprovação do seu substitutivo no Congresso em tempo considerado recorde. O texto também saiu mais robusto do que o apresentado pelo governo inicialmente.
Marinho já esteve cotado para a Casa Civil
Devido ao sucesso que teve na articulação da reforma da Previdência, em especial na Câmara dos Deputados, o nome de Marinho já vinha sendo cogitado para ser ministro. Em duas oportunidades no ano passado, foi cotado para assumir a vaga de ministro-chefe da Casa Civil, no lugar de Onyx Lorenzoni (DEM-RS), que estava tendo dificuldades na articulação política.
Em junho do ano passado, Bolsonaro chegou a dizer que Marinho morava em seu coração. “Acabando a reforma da Previdência e havendo possibilidade, nós vamos dar o posto de destaque que ele merece”, disse o presidente em 18 de junho. A Casa Civil, contudo, continuou com Onyx e a articulação política foi para a Secretaria de Governo, que passou a ser ocupada pelo general Luiz Eduardo Ramos.
Em novembro, com a Previdência já promulgada, Marinho voltou a ser cotado para ser ministro-palaciano, o que não aconteceu. Em dezembro, Guedes disse em entrevista coletiva que o seu time de sete secretários especiais tinha fechado um contrato de quatro anos com ele.
Insatisfação com o Minha Casa Minha Vida
A promoção de Marinho aconteceu agora em fevereiro, diante das insatisfações do presidente com a gestão de Gustavo Canuto à frente do programa Minha Casa Minha Vida, segundo apurou a Gazeta do Povo com uma fonte do Ministério da Economia. Também foi uma forma de premiar Marinho pelo seu bom desempenho na reforma da Previdência, disse essa fonte.
Bolsonaro prometeu reformular o MCMV ainda em 2019, o que não saiu do papel. O programa de habitação, inclusive, chegou a suspender por alguns meses novos financiamentos de clientes das faixas 1,5 e 2 por causa da restrição orçamentária.
Marinho estava em baixa
Até ser promovido nesta quinta-feira, Marinho enfrentava um inferno astral no pós-Previdência. Ele vinha sendo criticado pela MP do Programa Verde Amarelo, pelo projeto de lei que acaba com a política de cotas para contratação de pessoas com deficiência e pela fila do INSS, que penaliza milhares de brasileiros e desgasta o governo.
Um dos últimos atos de Marinho como secretário especial de Previdência e Trabalho foi defender a MP do Programa Verde Amarelo em audiência no Senado, na quarta-feira (5). A MP foi publicada com a intenção de estimular a geração de empregos para os mais jovens, mas saiu como um tiro no pé ao compensar o custo do programa com a taxação do seguro-desemprego. Além disso, estudo do próprio Ministério da Economia revelou que o programa é caro e pode ter efeitos limitados.
Pouco antes, no fim de janeiro, Marinho decidiu demitir o então presidente do INSS, Renato Vieira, para tentar dar uma resposta à crise do instituto. Oficialmente, Vieira pediu para sair com o objetivo de se dedicar a projetos pessoais. No seu lugar, foi nomeado Leonardo Rolim, que era o secretário de Previdência do Marinho.
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