Resposta pode ser uma saída politicamente palatável de novos confrontos que o presidente americano parece inclinado a adotar
O Irã respondeu com ataques de mísseis contra duas bases militares iraquianas que abrigam soldados americanos na terça-feira à noite ao assassinato de uma de suas principais figuras militares pelo governo dos EUA. E embora alguns estejam considerando isso uma escalada – e muita coisa ainda pode mudar – parece que o Irã pode estar dando ao presidente Donald Trump uma saída politicamente palatável de novos confrontos.
E é uma saída que Trump, de acordo com seus comentários iniciais, parece inclinado a adotar.
O presidente anunciou na quarta-feira, em um discurso na Casa Branca, que não havia baixas americanas e apenas danos “mínimos” nas bases, e o governo do Iraque diz que também não sofreu nenhum dano. O Irã acompanhou seus ataques, dando sinais conflitantes sobre se esse poderia ser o fim de sua resposta militar à morte do general Qassim Suleimani.
O ministro iraniano das Relações Exteriores, Mohamed Javad Zarif, disse que o Irã “tomou e concluiu medidas proporcionais em legítima defesa, de acordo com o Artigo 51 da Carta das Nações Unidas, a partir do qual foram lançados ataques armados covardes contra nossos cidadãos e altos funcionários. Não buscamos escalada ou guerra, mas vamos nos defender de qualquer agressão”.
O uso da palavra “conclusão” por Zarif sugere que essa será a extensão da retaliação, e seu comentário sobre não buscar uma “escalada” sugere que ele está disposto a deixar o assunto morrer. O líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, ofereceu um sinal um pouco diferente, chamando os ataques de “um tapa na cara” dos Estados Unidos e dizendo que aquilo “não foi suficiente”.
Ainda não se sabe se os líderes iranianos serão capazes de convencer seu povo sobre o sucesso da retaliação. Se for amplamente encarada como uma resposta fraca, pode haver pressão para que se faça mais. É claro que o Irã controla fortemente a mídia por meio da qual seus cidadãos saberão sobre os ataques.
Se este é o fim da retaliação – e essa é uma questão muito em aberto, dada a história de provocações do Irã e os comentários de Khamenei -, isso significa que a resposta do Irã ao assassinato de sua figura militar mais poderosa será infligir danos às bases militares iraquianas. Se essa troca tivesse sido apresentada no início da semana, antes de Trump tomar a decisão de se livrar de Suleimani, é muito difícil dizer que alguém não o faria em um piscar de olhos.
E Trump parece que vê isso dessa forma. Em um tuíte na noite de terça-feira, Trump começou com “Tudo está bem!” – talvez revelando sua satisfação com a falta de uma resposta iraniana mais séria. Em seus comentários na Casa Branca na quarta-feira, Trump também sugeriu que o Irã havia se retraído.
“Nossas grandes forças americanas estão preparadas para qualquer coisa”, disse Trump. “O Irã parece estar resignado, o que é uma coisa boa para todas as partes envolvidas e uma coisa muito boa para o mundo”. Ao mesmo tempo, Trump anunciou que novas sanções serão apresentadas contra o Irã, o que poderia aumentar as tensões.
É importante enfatizar o quanto Trump vê os assuntos internacionais em termos de vitórias e derrotas. Não apenas Trump poderia dizer que matou um homem que teria matado centenas de americanos sem uma resposta mais séria dos iranianos, como o presidente também poderia dizer que nefastas previsões democratas e previsões de especialistas falando em guerra iminente com o Irã – ou mesmo numa terceira guerra mundial – haviam passado do ponto.
Isso será recebido como uma vitória dupla por um homem que se esforça em “humilhar os liberais”. Combine isso com o desejo aparentemente sincero de Trump de sair do Oriente Médio, e parece haver pouco incentivo para Trump responder com qualquer força.
A situação é, obviamente, fluida. Mesmo se o Irã não retaliar mais, o assassinato de Suleimani poderia pesar sobre possíveis provocações militares e sobre potenciais negociações. O Irã ainda está sofrendo vigorosamente com as sanções dos EUA, que são a razão de suas provocações em primeiro lugar, e esse atrito não desaparecerá da noite para o dia, mesmo que haja uma atenuação momentânea.
Trump continuará tendo de lidar com o Irã pelo restante de sua presidência, seja um ano ou cinco anos. Por enquanto, no entanto, talvez possamos estar otimistas de que essa situação não tenha piorado ainda mais. Trump parece estar. / TRADUÇÃO DE CLAUDIA BOZZO.
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