Além de drogas, cartéis mexicanos disputam o domínio do comércio de abacate

No México, comércio de abacates causou 19 mortes| Foto: Pixabay

O abacate mexicano corre o risco de se tornar a próxima “mercadoria de conflito”, semelhante aos “diamantes de sangue”, em Angola e Serra Leoa, conforme estudo feito pela Verisk Maplecroft, uma empresa com sede no Reino Unido especializada em consultorias estratégicas e em avaliações de risco, publicou o jornal The Guardian, nesta segunda-feira (30).

O conflito pelo produto, de acordo com a reportagem, já é apontado como o responsável pela morte de 19 pessoas, encontradas mutiladas na cidade mexicana de Uruapan, no Estado de Michoacán, em agosto deste ano. Nove corpos estavam pendurados seminus em uma ponte. Inicialmente, havia a suspeita de que os assassinatos tinham ocorrido por causa de uma disputa de gangues rivais de drogas. No entanto, afirma o The Guardian, a chacina, promovida pelo Cartel de Jalisco Nova Geração, é pelo domínio do comércio local de abacate.

O México é o maior produtor mundial do fruto. As exportações do que tem sido chamado de “ouro verde” do estado de Michoacán, que produz a maioria dos abacates do México, geraram uma receita de US$ 2,4 bilhões no ano passado, afirmou o jornal.

Conforme o periódico, o estudo da empresa britânica examinou uma série de fatores que contribuem para o crescente perfil de risco do produto, incluindo o envolvimento de cartéis e a violência associada a eles, bem como o uso de trabalho forçado e infantil na agricultura.

Problema social e ambiental
O levantamento da Verisk Maplecroft também avaliou o desmatamento ilegal, a extração ilegal de madeira e a derrubada de florestas para cultivo de abacates. De acordo trecho do relatório da empresa publicado pelo The Guardian, com a atividade ilegal dos cartéis, a degradação ambiental aumentou “conforme os grupos criminosos desmatam as florestas protegidas para dar lugar a seus abacateiros”.

“O crescimento exponencial da popularidade do abacate é uma bênção mista para as comunidades e agricultores do México”, afirmou Christian Wagner, analista da Verisk Maplecroft nas Américas, no relatório, segundo o jornal. “Embora a maioria tenha se beneficiado com preços recordes, muitos atraíram a atenção de grupos do crime organizado.”

Wagner afirmou ainda em seu relatório que “do cultivo ao transporte, a violência e a corrupção agora permeiam a cadeia de suprimentos de abacate do México, particularmente em Michoacán, um antigo viveiro de violência criminal”.

“As semelhanças com os minerais que já geraram conflitos são impressionantes para as empresas que fornecem abacates da região. A associação com assassinatos, escravidão moderna, trabalho infantil e degradação ambiental está se tornando um risco crescente ao lidar com fornecedores e produtores de Michoacán, especialmente quando o estabelecimento de rastreabilidade é cada vez mais difícil.”

De acordo com o especialista, os cartéis se voltaram para outras atividades, principalmente abacates, por causa da guerra do governo contra as drogas. “Eles (grupos criminosos) se envolvem tanto em extorsão quanto em cultivo direto, geralmente em terras tomadas de agricultores locais ou em florestas protegidas”.

Pelo menos 12 cartéis estão operando no México hoje, segundo o estudo. O levantamento observou que “2019 viu o surgimento de organizações criminosas que se comportam de todos os modos como cartéis de drogas, mas nem mesmo estão envolvidas no tráfico de drogas”. “Em Michoacán, a indústria do abacate está fornecendo a renda diversificada que os grupos criminosos obtêm com o roubo de combustível em outras partes do México.”

Exportações
O México lidera a lista de exportadores mundiais, à frente da Holanda, um importante centro exportador não produtor, e do Peru. De acordo com o The Guardian, a maioria dos abacates do México vai para os EUA, apesar da produção doméstica na Califórnia e na Flórida. Os abacates nos supermercados do Reino Unido vêm principalmente da Espanha, Israel, África do Sul, Peru e Chile. A fruta também está em alta demanda na China, que importou mil vezes mais do produto em 2017 do que há seis anos.

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