A Rússia está tentando deixar 4 milhões de inocentes na Síria passando fome

Família deixa a cidade controlada por jihadistas Maaret al-Numan, em Idlib, Síria, que estava sendo bombardeada, 20 de dezembro. Dezenas de milhares de civis estão fugindo de bombardeios em Idlib, agravando a situação humanitária| Foto: Omar HAJ KADOUR / AFP

Enquanto o regime de Assad abre caminho para a vitória na Síria, sua parceira Rússia está usando a Organização das Nações Unidas para tentar cortar a ajuda humanitária crucial para milhões de sírios inocentes que ainda vivem fora do controle do governo. O governo Trump está tentando – mas até o momento não conseguiu – impedir o plano sinistro de Moscou.

Na sexta-feira passada, a Rússia e a China vetaram uma Resolução do Conselho de Segurança da ONU que renovaria parcialmente a autorização internacional para rotas transfronteiriças que permitem que alimentos, água e remédios sejam transportados às partes da Síria que estão fora do controle do governo sírio. As rotas, da Turquia, Iraque e Jordânia, receberam aprovação da ONU nos últimos seis anos.

Mas agora Moscou está tentando desativá-las. O governo russo considera que o regime de Assad está vencendo a guerra e acredita que negar comida às pessoas que ainda resistem ao regime é uma maneira eficaz de ajudar Assad.

“Para a Rússia e a China, que escolheram fazer uma declaração política ao se opor a esta resolução, vocês têm sangue nas mãos”, disse o secretário de Estado americano Mike Pompeo em comunicado na sexta-feira. “Não há substituto para entregas transfronteiriças da ONU e não há alternativas viáveis ​​para alimentar milhões de sírios até que o regime sírio cesse sua guerra contra o povo sírio”.

Todos os outros 13 membros do Conselho de Segurança, fora Rússia e China, votaram a favor de uma resolução para preservar três das rotas. A resolução foi oficialmente patrocinada pela Alemanha, Bélgica e Kuwait e apoiada pelos Estados Unidos. Moscou propôs uma resolução para reduzir a ajuda para apenas duas rotas aprovadas. Essa versão da resolução obteve apenas cinco votos.

A autorização para as remessas de ajuda pelas fronteiras expira em 10 de janeiro. Agora, o governo dos EUA está lutando nos bastidores para encontrar uma maneira de evitar mais um desastre humanitário na Síria.

Um alto funcionário do Departamento de Estado me disse que o esforço de Moscou para eliminar as rotas de ajuda foi deliberado e bem planejado. O governo russo está intensificando as ações para ajudar Assad a garantir uma vitória militar e expulsar os Estados Unidos do país.

“Por todos os lados, estamos vendo um forte endurecimento das posições pelos russos”, disse a autoridade. “É um grande alerta vermelho de que esses caras querem nos desafiar.”

No início, os russos “deixaram claro aos mais altos níveis do governo dos EUA” que este ano desafiariam o que costumava ser uma renovação rotineira da resolução, segundo o funcionário.

Inicialmente, a Turquia queria que a resolução reconhecesse uma nova passagem de fronteira nas partes recém-conquistadas do nordeste da Síria agora controladas por Ancara. Mas Moscou rejeitou a proposição, porque não quer reconhecer o papel da Turquia nessa região.

“Erdogan foi a Putin duas vezes e Putin acabou com ele”, disse a autoridade.

Os Estados Unidos e seus parceiros propuseram o encerramento da travessia da Jordânia, como uma concessão, mas Moscou também rejeitou essa oferta. A Rússia insiste em fechar as rotas da Jordânia e do Iraque, o que efetivamente bloquearia o fornecimento de alimentos ao sudoeste da Síria, uma das últimas áreas liberadas restantes.

Os Estados Unidos têm uma pequena base militar chamada Tanf, a poucos quilômetros da fronteira entre a Síria e o Iraque. A Rússia quer isolar essa base para pressionar as forças dos EUA a deixar o local. O regime já está matando de fome milhares de sírios que vivem na miséria perto da base de Tanf, em um acampamento chamado Rukban.

Moscou acredita que o comprometimento dos Estados Unidos com a Síria está diminuindo – uma impressão reforçada pelas políticas caóticas do presidente Donald Trump para a região, incluindo sua recente esquizofrenia sobre as tropas americanas no local. Moscou e Assad estão pressionando mais agressivamente por uma solução militar para a guerra e, consequentemente, reduzindo a diplomacia internacional. Eles também estão intensificando seus ataques a civis.

Na província de Idlib, o poder aéreo russo está ajudando o massacre de civis em um novo avanço militar. O regime de Assad, a Rússia e o Irã usaram a fome como arma de guerra durante todo o conflito. Os Estados Unidos continuam negociando com Moscou sobre as rotas de ajuda, mas as chances de um avanço são pequenas.

“Isso é um horror… Existe um risco real de escalada e o custo humano é muito alto”, disse a autoridade, acrescentando: “Os EUA estão comprometidos em encontrar uma maneira de manter o fluxo da ajuda”.

Grupos humanitários estão pedindo às partes que voltem à mesa de negociações e encontrem uma solução antes que a resolução expire em janeiro.

“Milhões de sírios contam com a Resolução 2449 do CSNU, que permite que os humanitários cheguem aos necessitados pelas rotas mais diretas e eficientes”, disse Wolfgang Gressmann, diretor da Mercy Corps para a Síria. “Desde 2014, este simples pedaço de papel salvou inúmeras vidas. É difícil imaginar o que aconteceria sem ele.”

O plano de Moscou de cortar a ajuda humanitária é parte de um esforço maior para forçar todos os grupos de ajuda humanitária a trabalhar com o governo de Damasco. Isso dá a Assad controle sobre a ajuda que salva vidas, permitindo que ele alimente seus apoiadores e mate de fome qualquer um que resista ao seu governo cruel, enquanto ele se afasta de ações diplomáticas internacionais.

Se a Rússia não mudar de posição, os Estados Unidos e outros governos com consciência devem garantir que a ajuda humanitária continue a ser levada aos civis que ainda resistem ao regime. A guerra da Síria ainda não acabou. Não podemos permitir que Assad e Moscou usem a fome de milhões de sírios inocentes para que eles se submetam ao seu governo.

Confira matéria do site Gazeta do Povo.

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