Um caminhão pode levar até um dia inteiro, a depender da mercadoria, para transportar carga entre os portos do Pecém e do Mucuripe, aponta presidente do Conselho de Infraestrutura da Fiec. Percurso poderia ser feito três vezes ao dia
O transporte de cargas no Ceará acaba perdendo, em média, dois dias em processos de entrega de produtos devido à qualidade das estradas. A perspectiva é de Heitor Studart, presidente do Conselho de Infraestrutura da Federação das Indústrias do Ceará (Fiec), e se baseia na avaliação do Anuário dos Transportes da Confederação Nacional dos Transportes (CNT). O estudo, divulgado ontem (19), apontou que mais de três quartos (75,55%) da extensão das rodovias estaduais foram classificados com qualidade regular, ruim ou péssima em 2019. O dado representa a piora do cenário, se comparado ao do ano passado.
Em 2018, o levantamento da CNT apontava que 72,32% das rodovias estaduais estavam em condições regular, ruim ou péssima. Já neste ano, dos 3.608 quilômetros (km) de estradas cearenses, 1.545 km foram indicadas como em situação regular. 848 km estão em condições ruins e 193 km em péssimas. Pelo lado positivo, 927 km foram considerados como tendo boas condições. O restante, 95 km, foi considerado ótimo.
As condições das estradas, segundo Studart, têm afetado a competitividade do Estado, uma vez que as empresas de transporte perdem tempo considerável em processos corriqueiros. Ele afirmou que, dependendo da carga, um caminhão, hoje, pode levar até um dia inteiro para fazer a rota que liga os portos do Pecém (São Gonçalo do Amarante) e Mucuripe (Fortaleza).
O trajeto poderia ser feito até três vezes durante um mesmo dia, caso as condições das estradas fossem melhores. “O resultado de 2019 é pior e agravado em relação ao do passado. Temos obras que não terminam, de baixa qualidade e que impactam profundamente a competitividade cearense porque concentramos mais de 70% das cargas em transportes rodoviários e, com essas péssimas condições, nós estamos perdendo em competitividade para Maranhão, Pernambuco”, disse Studart.
“Nós estamos perdendo principalmente no transporte de cargas para portos e no setor de distribuição de logística, como o abastecimento do comércio”, completou.
O presidente do Conselho de Infraestrutura da Fiec ainda defendeu que o valor dos fretes no Estado acabam ficando de 20% a 30% mais caros em relação aos mercados vizinhos no Nordeste. Além disso, sem melhorias nas rodovias locais, ele indicou que há também um represamento da geração de novos empregos nos setores de logística e construção civil, o que acaba reduzindo o potencial econômico do Ceará.
“É difícil mensurar o quanto a gente perde em logística e potencial, porque é um negócio que depende de diversas variáveis, mas o preço do frete acaba aumentando de 20% a 30%. E ainda temos a perda de produtividade pelas dificuldades, com aumento de prazos e toda uma demanda de geração de novos empregos que acaba ficando congelada”, disse Studart.
Turismo
Apesar das preocupações logísticas, o turismo no Ceará não deverá ser impactado neste fim de ano pela condição das estradas. De acordo com a vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (Abih) no Ceará, Ivana Bezerra, pelo menos nas praias – destinos mais buscados –, a procura por leitos não foi reduzida em comparação com o ano passado. A expectativa da Associação, na verdade, é que a ocupação em 2019 supere a de 2018 em pelo menos 2 pontos percentuais.
“Como usuária, eu frequento muito os dois lados e confesso que não vejo as nossas estradas em qualidades ruins e atrapalhando as viagens. As nossas praias estão todas lotadas. Não ouvi na Abih e dos hoteleiros com quem estive reclamações de turistas deixando de viajar por conta das qualidades de estradas. Para o turismo, essa não é uma preocupação relevante”, disse.
Bezerra destacou a implantação do hub aéreo no Aeroporto Internacional de Fortaleza como um dos principais pontos de justificativa para o aumento do número de turistas. Além disso, ela reforçou que as estradas ligando as praias cearenses estão em boas condições. “A ocupação tem crescido a cada semana, e esse ano deve passar de 95%. Desde a chegada do hub, a gente vê que o crescimento do turismo tem sido constante, e a perspectiva é crescermos mais em 2020”, afirmou.
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