Liliana Segre, de 89 anos, recebeu uma escolta policial depois de ser ameaçada. A demonstração de solidariedade ocorreu em Milão.
Uma sobrevivente do Holocausto de 89 anos, que precisou receber uma escolta policial depois de ter sido ameaçada em redes sociais, na Itália, ganhou nesta terça-feira (10) uma homenagem de milhares de pessoas e centenas de prefeitos em Milão.
Liliana Segre ficou rodeada por pessoas que se juntaram atrás de um cartaz em que se lia: “o ódio não tem futuro”. Enviada ao campo de extermínio nazista de Auschwitz quando criança, ela é senadora vitalícia
As pessoas marcharam pela cidade até a praça em frente à prefeitura enquanto cantavam a música “Bella Ciao”, hino antifascista italiano.
Liliana passou a contar com escolta policial no mês passado depois que uma série de posts antissemitas e ameaças foram contra ela por defender um novo painel parlamentar contra racismo, discriminação, antissemitismo e ódio on-line.
Durante a homenagem nesta terça, ela disse à multidão: “Eu conheci o ódio. Eu soube o que significa ser um rejeitado da sociedade à qual acreditava pertencer”.
“Ouvi as palavras de ódio, odiosas e ofensivas, e vi com meus olhos a realização de um programa feroz preparado a partir do ódio”, afirmou Liliana.
Ela também contou que, agora, busca esperança nos olhos das crianças em idade escolar quando fala de sua história – e nos olhos dos prefeitos e cidadãos comuns “que vieram aqui para gritar: ‘Chega de ódio'”. “Vamos deixar o ódio para os anônimos nos teclados”, disse, em meio a aplausos.
Liliana afirmou que a história dos judeus no país estava representada em cada uma das 8 mil cidades da Itália, “nos nomes das ruas, nas lápides, nos raros vestígios judeus”, que permanecerão quando não houver mais sobreviventes do Holocausto para servir de testemunha do extermínio nazista.
Ela apoia um Museu Nacional da Resistência na Itália, anunciado nesta semana para ser construído em Milão. “É um compromisso moral apoiar e levar adiante a memória”, disse Liliana.
Antissemitismo na Europa
O prefeito de Milão, Giuseppe Sala, disse à multidão nesta terça que manifestações como essa continuariam “até que esse clima de ódio mude ”.
A iniciativa foi organizada pela associação de prefeitos da Itália e tinha intenção de ser multipartidária. Mas o prefeito de Bolonha, Virginio Merola, que compareceu à manifestação, disse à AP que o crescente racismo no país podia ser atribuído à longa crise econômica e à retórica provocativa da Liga, partido de Matteo Salvini, ex-ministro de Interior italiano que é contra imigrantes.
Bolonha é a maior cidade da Emília-Romanha, tradicional reduto de esquerda, que no próximo mês irá enfrentar duras eleições regionais, nas quais Salvini deve obter grandes ganhos.
“Há muito racismo, ódio e antissemitismo na Europa e na Itália”, disse Merola. “Precisamos reagir e mostrar aos cidadãos que a maneira de viver juntos é através da coabitação civil.”
Em Schio, cidade ao norte de Vicenza, o conselho municipal bloqueou, no mês passado, a decisão do prefeito de erguer pedras para lembrar as vítimas do Holocausto locais. A iniciativa foi classificada como “divisiva”.
Em Roma, placas de rua dedicadas a homenagear duas acadêmicas judias e uma professora antifascista foram desfiguradas. Antes, as ruas eram nomeadas em homenagem a cientistas antissemitas.
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