Gilmar e Toffoli pensavam (?) que derrotariam a Lava Jato, mas aconteceu o contrário

No final, Toffoli e Gilmar acabaram sendo derrotados pela Lava Jato

Carlos Newton

No início, a Lava Jato só apanhava peixes miúdos – do PT, do PP e do PTB. O ministro Gilmar Mendes dava a maior força. Só começou a mudar de ideia quando os procuradores passaram a mirar importantes políticos do PSDB e do PMDB, entre eles alguns amigos pessoais dele, como Aécio Neves, que ainda era senador, e o presidente Michel Temer, que acabara de assumir o poder e tinha sido gravado no porão do Palácio Jaburu, em tenebrosas conversações com o empresário Joesley Batista.

Foi naquela época que Gilmar Mendes passou a se incomodar com a Lava Jato e colocou em ação sua espantosa criatividade. A pretexto de dar subsídios a uma Reforma Política que jamais foi feita, tornou-se “consiglieri” de Temer e inventou que a Lava Jato precisava ser contida porque visava “a criminalização da política”.

PAR DE ASES – Desde sempre, Gilmar Mendes teve o apoio integral de Dias Toffoli, seu amigo íntimo, com quem costuma fazer viagens ao exterior, e os dois começaram a atuar juntos contra a Lava Jato. Com seu jeito atrevido, Gilmar soltava um preso atrás do outro, e Toffoli o acompanhava.

Conseguiram atingir a perfeição ao soltarem José Dirceu na Segunda Turma, com apoio de Ricardo Lewandowski, sem que a defesa do ex-ministro sequer tivesse impetrado habeas corpus. Foi a primeira libertação “de ofício” da História do Supremo.

Como diria o cantor Johnny Alf, o inesperado então fez uma surpresa e em fevereiro deste ano os nomes de Gilmar, de sua mulher Guiomar Feitosa Mendes, e da mulher de Toffoli, Roberta Maria Rangel, apareceram na lista das 134 personalidades apanhadas na malha fina da Receita, junto com Isabel Gallotti, ministra do Superior Tribunal de Justiça, e com o desembargador Luiz Zveiter, do Tribunal do Rio.

O JOGO MUDOU – Os dois ministros tiveram de agir em causa própria, Toffoli então criou ilegalmente um inquérito interno para apurar ofensas aos ministros do Supremo e suas famílias, vejam que coincidência, e os dois auditores da Receita que estavam à frente da investigação foram afastados.

Em 16 de julho, na calada do recesso do Supremo, Toffoli forçou a barra, aproveitou um recurso do senador Flávio Bolsonaro e suspendeu todos os inquéritos, processos e investigações que tinham origem no antigo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), na Receita Federal e no Banco Central, sem prévia autorização judicial – ou seja, parou inclusive as investigações de Gilmar e das duas mulheres.

Essa liminar de Toffoli foi o grande erro da dupla, que ainda teve um resto de fôlego para aprovar a prisão somente após trânsito em julgado no Supremo.

ENGANAÇÃO – Toffoli prometera mitigar a proposta, sugerindo prisão após condenação no Superior Tribunal de Justiça, mas na undécima hora encerrou abruptamente o julgamento, sem citar o STJ e sem dar direito de Rosa Weber concluir seu voto, que mudaria o resultado do trânsito em julgado após Supremo.

Daí em diante, o caldo desandou no STF e duas semanas depois a liminar do caso Coaf foi derrubada por 9 a 2, com o próprio Toffoli tendo de trocar seu voto, para não perder vergonhosamente a relatoria e o direito de redigir o acórdão. Como personagens teatrais, Gilmar e Toffoli pareciam estar perdidos numa noite suja. E estavam mesmo.

Na teoria, todo plano parece ser perfeito. Os ministros Gilmar Mendes e Dias Toffoli achavam (?) que iriam derrotar a Lava Jato, exatamente como ocorreu na Itália com a operação Mãos Limpas. Mas deu tudo errado para eles.

P.S. 1 – A poeira está assentando, já é certo que o Congresso readmitirá a prisão após segunda instância, e tudo voltará à estaca zero, com a Lava Jato retomando seus dias de glória. E este é o melhor presente de Natal que o Brasil poderia almejar, na situação aflitiva em que nos encontramos.

P.S. 2 – A Lava Jato é um orgulho nacional. As forças-tarefa no Paraná e no Rio de Janeiro, as mais atuantes, já conseguiram devolver aos cofres públicos cerca de R$ 5,05 bilhões.

P.S. 3 – No Rio de Janeiro, que teve como principal alvo o ex-governador Sérgio Cabral, R$ 250 milhões foram liberados para o pagamento do 13º atrasado de 146 mil aposentados e pensionistas do Rio de Janeiro, garantindo a eles um Feliz Natal. (C.N.).

Confira matéria do site Tribuna da Internet.

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