Empreendedoras conquistam mais espaço no mercado de trabalho

Meiriane Nascimento, Carina Santos e Jaqueline Lima desenvolveram suas próprias empresas Fotos: Rodrigo Gadelha

Maioria entre os microempreendedores, mulheres insatisfeitas com exigências e padrões, normalmente definidores para contratação no mercado de trabalho, desenvolvem suas próprias empresas

Elas são um pouco mais da metade quando o assunto é empreendedorismo. Em Fortaleza, há em torno de 109.720 microempreendedores individuais (MEI) e, desse total, 56.367 são mulheres.Das 10 primeiras atividades mais numerosas registradas na Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), sete têm a maioria de empreendedoras, segundo os dados do Portal do Empreendedor Individual (MEI).
Para muitas delas, inclusive, ser uma microempreendedora é uma forma de entrar no mercado de trabalho, seja porque não conseguiu emprego ou porque não se sentiu integrada aos modelos formais.Para a professora Josemeire Gomes, da Universidade Federal do Ceará (UFC), o MEI representa uma importante alternativa para aqueles que desejam ser pequenos empresários para exercer alguma habilidade ou conhecimento.
No entanto, empreender pode ir além do que simplesmente obter renda. A bailarina Carina Santos sempre trabalhou como professora de dança e, com o intuito de preencher uma lacuna no processo de criação e designer enquanto artista, ela desenvolveu sua loja, a Ocre, em 2015, que possui relação direta com a dança. A marca carrega um vínculo com a essência da artista, uma investigação de suas origens luso-afro-indígenas.
As joias são feitas de modo artesanal, tendo como matéria-prima a argila. Carina procura, através da estética do movimento por meio do manuseio, moldar essa reconexão consigo e assim criar novas narrativas, em que cada peça é uma metáfora de arte.

“Já nos primeiros contatos eu via a argila dançando junto com minhas mãos e meu corpo, ainda que em passos descompassados”, diz.

Inicialmente, a loja começou de modo tímido, em feiras de pequeno a grande porte, com um investimento de R$ 3 mil para a compra da matéria-prima. Hoje, a artesã tem um ateliê conjunto com sua mãe, que produz roupas. Entre os desafios encontrados estão a conciliação dos dois trabalhos, a rotina familiar e a manutenção de seu negócio.
Há alguns anos fora do mercado de trabalho tradicional, Carina percebe que para as mulheres não se tem uma valorização devida e, em algumas empresas, há uma certa opressão com o gênero feminino, além dos salários mais baixos e maiores cobranças.
Em relação ao futuro, ela tem uma expectativa positiva de expansão e conta que ainda este ano suas joias serão vendidas em outros dois países.

Além do produto

Segundo o CNAE, o comércio varejista de artigos do vestuário e acessórios contabiliza a primeira atividade com mais participantes em Fortaleza. Ao todo são 11.182, dentre esse número, 8.233 MEIs são mulheres e atuando de modo formal há 7.948.
Para a designer Meiriane do Nascimento, a experiência empreendedora se deu de modo diferenciado. Com duas experiências profissionais desinteressantes, ela apostou na criação de uma marca, a Menah Acessórios – na qual atua de forma profissional desde 2016.
Sem acesso à linha de créditos e sem muito incentivo familiar, Meiriane fez um investimento de R$ 500, dinheiro que era da saída de um de seus empregos e, assim, deu início àquilo em que acreditava. A escolha por empreender foi uma saída para não se submeter às condições do mercado e de fazer não só o seu próprio dinheiro, mas também seu próprio tempo.
A marca tem como objetivo passar uma mensagem que vá para além da oferta de um produto.

“O meu desafio de hoje é levar para as pessoas o que faço não só como produto, mas também como inspiração, como mudança de vida, lifestyle, ser além do acessório e ao mesmo tempo vender”.

Para a designer, a marca não impede outras experiências profissionais, mas conta que já chegou a ser eliminada de muitas entrevistas de emprego pela sua forma de ser, por ter uma marca e por não ter tido tantas experiências no mercado formal.
Apesar de ainda estar modelando seu negócio, ela já está em duas lojas colaborativas da cidade e em duas fora do Estado. Além disso, Meiriane está em processo de abrir uma loja física com outras sócias.

Sem química

Foi no desmanchar e refazer de uma trança que Jaqueline Lima, ou Jack Tranças, remodelou sua vida profissional. Mãe solteira de dois filhos e sem nenhum auxílio dos pais, a cabeleireira nunca teve medo do trabalho. E, ao mudar o próprio cabelo, Jaqueline virou vitrine de seu empreendimento. O segmento de cabeleireiros é a segunda atividade em que as mulheres lideram, segundo dados do Portal do Empreendedor-MEI.
Antes de empreender, Jaqueline trabalhou em uma empresa de ônibus, onde a maioria dos funcionários eram homens e relata que as diferenças eram perceptíveis, desde a remuneração até o reconhecimento. O salário mínimo que recebia não dava para manter os filhos, e assim, com os ‘bicos’ que fazia das tranças, que muitas vezes chegava a ser um valor superior ao salário, complementava a renda.
A princípio, a empreendedora teve inúmeras inseguranças para investir no seu próprio negócio. A responsabilidade de sustentar a casa e o medo de fazer novas dívidas fazia o trabalho de carteira assinada ser um caminho seguro, enquanto empreender era incerto.
No entanto, com o aumento da procura por seus serviços, Jaqueline percebeu uma oportunidade para fazer o que realmente gostava e, com o dinheiro da saída de seu último emprego, ela investiu em torno de R$ 3 mil para abrir o próprio salão em 2017.
Hoje, sua renda provém exclusivamente do salão, que possui um público-alvo segmentado, atendendo prioritariamente pessoas de cabelos crespos e cacheados. Além de não trabalhar com nenhum tipo de química em seus procedimentos.
“Eu sempre quis um salão diferenciado, em que crespas e cacheadas tivessem o direito de sentar no salão e fazer o que realmente querem no cabelo”, conta Jaqueline.
Na visão dela, o mercado de trabalho para as mulheres ainda está muito precário, pois ainda há muita exploração e conta que já viu casos em que pessoas começam a trabalhar sem ao menos receber o salário devido. Apesar, de considerar seu negócio ainda “prematuro”, a cabeleireira espera ampliar o salão e gerar emprego para outras meninas, além de compartilhar seu conhecimento e amor por tranças através de cursos.

Formalidade

A professora da UFC explica que há duas maneiras de empreender, por necessidade e por oportunidade. Para aqueles que estão fora do mercado e precisam de algum modo obter renda, se enquadram no perfil de empreendedor por necessidade. Já os empreendedores por oportunidade são aqueles que analisam as tendências de mercado e assim iniciam o próprio negócio.
Segundo o Portal do Empreendedor-MEI, há cerca de 106.455 mil MEI formalizados em Fortaleza, desse total 54.749 mil são mulheres. Para a especialista do Serviço Brasileiro de Apoio às Micros e Pequenas Empresas (Sebrae), Juniar Ellyan, a capacidade de múltiplas atividades contribui para a inserção das mulheres nesse mundo empreendedor.
No entanto, é preciso ter algumas precauções, como procurar uma atividade que se tenha afinidade, ter um plano de negócios, estudar previamente o mercado e ter metas para levar o negócio adiante.

Confira matéria do Site do Diário do Nordeste.

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