
No meio da aula magna para calouros do curso de Direito de uma universidade paulista, o ministro Flávio Dino reconheceu que, de acordo com a Constituição de 1988, o Legislativo legisla, o Executivo executa e o Judiciário julga. Mas os tempos são outros, ressalvou o caçula do Supremo Tribunal Federal. Ele vestiu a toga pela primeira vez em fevereiro de 2024. Pouco mais de um ano. Tão curto período no Pretório Excelso foi suficiente para elevá-lo à categoria dos doutores em tudo. “O protagonismo do Poder Judiciário é uma marca do nosso tempo que veio para ficar”, comunicou Dino aos universitários recém-chegados. “O Supremo está condenado a arbitrar temas políticos, econômicos e sociais.”
Militante comunista desde o berçário, deputado federal e governador do Maranhão eleito pelo PCdoB, senador pelo PSB e ministro da Justiça do governo Lula, ele fingiu que nunca ocupou cargos no Legislativo e no Executivo, talvez para louvar sem remorso a entrega dos demais Poderes aos doutores em tudo. “Se a política não resolve alguns problemas, isso vai para algum lugar”, foi em frente. Qual lugar? O Supremo, claro. No momento, por exemplo, Dino cuida simultaneamente de pendências e complicações que vão do mercado de trabalho no Brasil ao serviço funerário em São Paulo, das queimadas na Amazônia às emendas orçamentárias impositivas – sem deixar de manter sob estreita vigilância a prioridade número 1: os desdobramentos do “golpe de Estado” tramado por Jair Bolsonaro.
Desde março de 2019, quando os ministros Dias Toffoli e Alexandre de Moraes plantaram no Pretório Excelso o inquérito das fake news, as sumidades trajadas de preto não param de intrometer-se em assuntos alheios. Passados seis anos de abusos, continuam convencidos de que, para preservar o Estado de Direito, é preciso submeter a medonhas sessões de tortura o que chamam de “Carta Magna”. Com a soberba de quem efetivamente acredita que salvou o Brasil dos fascistas de extremíssima direita, seguem confiscando territórios pertencentes ao Legislativo e ao Executivo. Neste fim de fevereiro, o STF resolveu deliberar também sobre desavenças internacionais, expropriando uma área até agora confiada ao governo federal.
Decidido a livrar a humanidade das redes sociais, obcecado pela eternização da censura em escala planetária, faz uma semana que Moraes declarou guerra ao grande satã americano. Assim, neste 24 de fevereiro, também simulando proferir uma aula magna para calouros paulistas, passou mais de uma hora mandando chumbo em qualquer coisa ou gente com sotaque ianque. Ele é gerente da vara criminal semiclandestina que administra mais de 2 mil casos, além de capataz da usina de sentenças condenatórias, tornozeleiras eletrônicas e restrições sem pé nem cabeça. Mas deixou de lado tais ocupações e mandou às favas temas que interessam a futuros advogados para concentrar-se no alvo da vez. Transcrito sem correções nem retoques, segue-se um dos melhores piores momentos do bombardeio:

“As big techs não são enviadas de Deus, como alguns querem. Elas não são neutras. São grupos econômicos que querem dominar a economia e a política mundial, ignorando fronteiras, ignorando a soberania nacional de cada um dos países, ignorando as legislações, pra aferir poder e lucro. Democracia é um negócio… pras big techs… porque tudo pras big techs é dinheiro, é um negócio. Democracia é um negócio. Assim como vendemos carro, vamos vender candidatos.”
Como sua comarca clandestina não abarca os Estados Unidos, o Primeiro Carcereiro teve de engolir comentários irônicos de executivos de big techs, críticas de jornalistas estrangeiros, contragolpes de deputados republicanos e mensagens explícitas ou em código – todas pouco animadoras – remetidas por autoridades do governo Trump. Nesta quinta-feira, de volta a Brasília, Moraes treplicou com a leitura de um discurso na sessão do STF. Se o idioma nacional foi poupado das pancadas desferidas por improvisos do ministro, a História não escapou do pontapé abaixo da linha da cintura. “Deixamos de ser colônia em 7 de setembro de 1822”, tropeçou Moraes ao declamar o que deveria ser o clímax do palavrório. Merece zero com louvor no Enem. O Brasil deixou de ser colônia em 16 de dezembro de 1815, quando D. João, ainda príncipe regente, fez do Brasil um Reino Unido a Portugal e Algarves. A monarquia brasileira nasceu sete anos antes do que imagina o orador.
Por ignorância ou piedade, nenhuma eminência corrigiu o erro bisonho. Tampouco se comentou a indigente resposta do Itamaraty à nota de um departamento do governo americano que não melhora a folha corrida do ministro. Antes de enviada, a réplica foi examinada pelo presidente Lula e por Moraes. Tais cuidados podem ser associados à constatação famosa feita pelo decano Gilmar Mendes: Lula não estaria no Planalto se o STF não fosse o que é. A notícia de que Moraes pode ser proibido de entrar nos Estados Unidos foi igualmente abrandada por piadinhas pouco inspiradas. “Se quiser passar lindas férias, pode ir para Carolina, no Maranhão”, sugeriu Flávio Dino. “Não vai sentir falta de outros lugares com o mesmo nome.” Moraes já está convidado para palestrar em maio num seminário que o empresário João Doria vai promover em Nova York. Dino precisa contar-lhe que entre as cidades maranhenses também existe uma Nova Iorque.

“É falsa a ideia de que a autocontenção do STF é uma coisa boa, e o ativismo, uma coisa ruim”, disse Dino na PUC. “É falsa a ideia de que o Supremo, quando se abstém de votar alguma coisa, fez o certo.” Para o ministro, quem contesta o ativismo do STF decerto mudaria de ideia se conhecesse um dramático episódio ocorrido há quase 90 anos. Em seguida, Dino gaguejou a sinopse incompreensível:
“Olhe o julgado do Supremo sobre a deportação… deportação de Olga Benário. Uma cidadã alemã, é verdade, grávida de um bebê e que foi para a Alemanha e morreu num campo de concentração. Ela buscou evitar essa deportação onde? No STF. E o que foi que os meus colegas da época disseram? Isso é ato político. Não é algo de importância. É certo entregar uma mulher grávida para morrer no campo de concentração?”
Que se conte o caso como o caso foi. Casada com o líder comunista Luís Carlos Prestes, a militante alemã Olga Benário engajou-se em novembro de 1935 na fracassada Intentona Comunista, concebida para derrubar o governo de Getúlio Vargas. Presa semanas depois, estava grávida havia sete meses quando a Suprema Corte, em setembro de 1936, rejeitou o pedido de habeas corpus n° 26.155, protocolado pelo advogado Heitor Lima em 3 de junho de 1936 e apreciado na sessão de 17 de junho. Com a decisão, o tribunal aprovou a deportação abjeta — e a condenação à morte. Olga foi assassinada em 1942, no campo de concentração de Bernburg. Ali nascera em novembro de 1936 a filha Anita Leocádia, localizada e devolvida à liberdade graças à tenacidade da avó paterna, Leocádia Prestes.

Em 2022, a ministra Cármen Lúcia prometeu propor ao STF que se desculpasse publicamente pelo que fez em 1936. Estava em vigor a Constituição de 1934, e o Estado Novo só seria decretado um ano depois da deportação. Num Brasil democrático, a Suprema Corte pecou por ação, não por omissão. A decisão infame foi endossada pela maioria dos ministros. É tarde para redesenhar a trajetória de Olga. Mas há neste momento centenas de vidas a salvar. O destino de uma multidão de brasileiros está nas mãos de 11 servidores públicos.
O STF deveria orientar-se pela sabedoria e pelo senso de justiça que faltaram à avó Suprema. A ditadura do Judiciário é um pesadelo de curta duração. A verdade não morre. E quem tem razão sempre vence.
FONTE: REVISTA OESTE https://revistaoeste.com/revista/edicao-258/trapacas-e-mentiras/
8/Janeiro: Moraes segue posição da PGR e arquiva acusação sem provas contra Ibaneis

O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), está definitivamente livre das suspeitas, que nunca se confirmaram, de suposta “omissão” por ocasião dos atos de vandalismo de 8de janeiro de 2023: nesta quarta-feira (5), o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), não teve alternativa senão atender à manifestação da Procuradoria Geral da República (PGR), arquivando o caso:
“Tendo o Ministério Público requerido o arquivamento no prazo legal, não cabe ação privada subsidiária, ou a título originário, sendo essa manifestação irretratável, salvo no surgimento de novas provas”, diz Moraes na decisão.
Como o ministério público é titular da ação penal, o chefe da PGR, Paulo Gonet, pediu o arquivamento do caso, confirme o Diário do Poder informou em primeira mão, por não haver encontrado indícios mínimos de veracidade nas suspeitas que levaram o próprio Moraes a determinar o afastamento de Ibaneis do cargo poucos dias depois de tomar posse no segundo mandato, para o qual foi reeleito em primeiro turno.
A violência do afastamento de Ibaneis, contrária à vontade popular, foi reconsiderada somente mais de dois meses depois, sem que o governador ou os eleitores do DF tenham sido distinguidos com a gentileza de qualquer tipo de explicação ou de reparação da injustiça e danos causados.
A PGR enfatizou que a investigação da Polícia Federal não reuniu elementos contra o governador, sendo que foram analisados dados de computadores e celulares de Ibaneis, além de depoimentos que não confirmaram a omissão.
“Esgotadas as diligências viáveis e sem outra linha investigatória idônea, a partir dos elementos de informação produzidos até o momento, os fatos relatados não revelam justa causa hábil a autorizar o prosseguimento da persecução penal contra Ibaneis Rocha Barros Júnior”.
Especialistas: liberar FGTS pode fazer disparar a inflação

A decisão de Lula (PT) de injetar R$12 bilhões na economia liberando o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), objetiva estimular o consumo, que o Banco Central luta exatamente para desestimular, e por isso deve fazer disparar a inflação, segundo os especialistas. Werton Oliveira, da Ekonomy Consultoria Econômica, confirma o risco na alta da inflação e prevê que isso pode fazer o BC alongar o ciclo de alta da taxa de juros, passando os 15%, algo que não acontece desde 2006”.
Oferta e demanda simples
Oliveira explica que mais dinheiro circulando pode aumentar a demanda por bens e serviços, pressionando preços, caso a oferta não cresça.
Qualidade do gasto
Segundo João Fossaluzza, da EXP Empresarial, o efeito inflacionário dependerá da velocidade e destino do gasto pelos beneficiados.
Inflação de alimentos
Há risco elevado de que a liberação desses recursos pressione ainda mais a inflação, especialmente nos itens alimentícios, diz Fossaluzza.
Salários corroídos
Os especialistas concordam que o FGTS liberado pode aliviar famílias endividadas, mas a inflação corrói o poder de compra dos salários.
Alerta em Mariana: ação em Londres rendeu 74 reais a clientes lesados

Decisão da Justiça de Londres, de há duas semanas, vem preocupando municípios mineiros e vítimas do desastre de Mariana. Tramitando havia 9 anos, ação de consumidores contra a Mastercard, terminou com o escritório de advocacia ganhando 18 milhões de libras (R$134 milhões), enquanto os lesados levaram só 10 libras (74 reais) cada. Os lesados sonhavam embolsar de 10 a 14 bilhões de libras, mas um acordo reduziu o sonho a 200 milhões. Temendo desfecho semelhante na ação contra a BHP em Londres, crescem as adesões ao acordo oficial no Brasil. A informação é da Coluna Cláudio Humberto, do Diário do Poder.
Até agora, já são vinte os municípios que optaram pelo acordo no Brasil, deixando escritório Pogust Goodhead (PG) falando sozinho.
Vence em duas semanas o prazo final para adesão ao acordo costurado pelo governo brasileiro com a indenização recorde de R$120 bilhões.
As cidades deixam a ação no Reino Unido após a PG tentar impor novo contrato com punição para quem receber dinheiro no acordo brasileiro.
Dias Tofolli é denunciado na OEA por desmonte no combate à corrupção

Durante sessão na comissão de direitos humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA), a Transparência Internacional (TI) denunciou o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Dias Tofolli por “desmonte” no combate à corrupção no Brasil e em outros países da América Latina. Algumas das colocações da denuncia está a decisão monocrática do ministro, que anulou as provas do acordo de leniência da Odebrecht (atual Novonor) na Lava Jato. A sessão foi realizada na última segunda-feira (3).
Segundo o gerente de pesquisa e advocacy da Transparência Internacional – Brasil, Guilherme France, a determinação feita pelo ministro em setembro de 2023, está tendo “reflexos sistêmicos” em toda a região, servindo como base para derrubar mais de 100 processos de corrupção, levando a soltura de réus não apenas no Brasil, mas também no Uruguai, Equador, México, Peru, Panamá, nos Estados Unidos e na Argentina.
“Se o Brasil primeiro exportou corrupção, agora exporta impunidade”, disse France.
Há também recursos contra contra a decisão de Toffoli que se encontram à 18 meses sem julgamento no STF. France sustenta que o Judiciário brasileiro está se negando a cooperar com investigações de corrupção ao impedir o envio de dados para o exterior e vetar depoimentos.
“Daí a nossa decisão de protestar em conjunto com outros países na OEA”, explicou.
A Transparência Internacional se tornou alvo de Toffoli em fevereiro do ano passado. O ministro determinou que a organização fosse investigada por suspeita de cumplicidade com o procurador responsável por investigar os irmãos Joesley e Wesley Batista, e de apropriação de verbas de combate à corrupção no acordo de leniência da J&F.
A Procuradoria-Geral da República pediu o arquivamento do caso em outubro, afirmando não ver elementos mínimos que justifiquem a continuidade da investigação.
Em nota, o ministro Dias Tofolli alega que as decisões foram colegiadas em turma no STF.
“As decisões do ministro Dias Toffoli são extensões de decisão colegiada da Segunda Turma, tomada em fevereiro de 2022 quando ele ainda não a integrava, sob relatoria do então ministro Ricardo Lewandowski, a quem ele sucedeu na relatoria”, diz a nota.
Quando a Justiça deixa de ser cega e começa a enxergar até o que não existe
06/03/2025 às 09:10Ler na área do assinante

Um verdadeiro “golpe” em curso avançou para sua parte mais cruel. A PGR apresentou uma denúncia contra Jair Bolsonaro baseada em narrativas, falácias e absurdas suposições.
Bolsonaro deve ser julgado pela 1º Turma do STF, formada por Flávio Dino (indicado por Lula, conhecido pela carreira política no Partido Comunista do Brasil), Luiz Fux (indicado por Dilma), Carmen Lúcia (indicada por Lula, que aceitou a censura na eleição de 2022), Cristiano Zanin (indicado por Lula) e Alexandre de Moraes – que dispensa qualquer comentário.
O cenário é caótico, triste e revoltante… Diante disso, o caminho em busca da liberdade começa agora! O mundo precisa saber o que está acontecendo e as próximas gerações também. Não pode ser apagado! Compartilhe, dilvulgue e mostre a todos como a perseguição contra Jair Bolsonaro é absurda…
Talvez, seja pior do que foi em 2022. Naquele pleito eleitoral, absurdos aconteceram: manobras do “sistema” para trazer o ex-presidiário Lula de volta ao poder, ‘tramoias’ da esquerda, prisões, deturpação da mídia, censura explícita, perseguição, manipulação e outras dezenas de fatos.
“Ainda estou aqui” e o reconhecimento da arte brasileira

O cinema brasileiro fez história no último domingo, quando Ainda Estou Aqui conquistou o Oscar de Melhor Filme Internacional. Produções nacionais vinham concorrendo ao principal prêmio do cinema mundial desde a década de 60 do século passado, quando O Pagador de Promessas foi indicado em 1963 – a coprodução ítalo-franco-brasileira Orfeu Negro até levou a estatueta em 1960, mas entrou na disputa representando a França, não o Brasil. Desde então, filmes brasileiros conseguiram indicações em várias categorias (não apenas filme estrangeiro, mas também documentário, animação, direção, roteiro, edição e interpretação), mas nunca um brasileiro havia levado o prêmio por uma produção nacional, o que mudou agora, com o filme de Walter Salles. Ainda estou aqui também fez história ao ser o primeiro longa brasileiro indicado ao maior prêmio da noite, o de Melhor Filme; e Fernanda Torres, que havia vencido o Globo de Ouro de Melhor Atriz, também foi indicada, repetindo o feito de sua mãe, Fernanda Montenegro, com Central do Brasil (1999), mas não conquistou o Oscar.
Até mesmo a maior festa popular brasileira, o carnaval, parou para acompanhar o momento da premiação, com inúmeras manifestações de júbilo pela conquista do Oscar, o que dá uma ideia do clima de Copa do Mundo que o cinema criou. É claro que ninguém é obrigado a torcer por um filme brasileiro, assim como ninguém é obrigado a torcer pela seleção nacional de futebol ou pelos atletas olímpicos que representam o país. Mas é inegável que a premiação inédita merece ser saudada, não apenas pela qualidade do filme em si, mas também pelo que representa, em termos de reconhecimento da cultura nacional, de novas portas que podem se abrir para talentos brasileiros, e de oportunidades para que o investimento na produção artística nacional seja incentivado.
“Ainda estou aqui” foi capaz de envolver público e crítica fora do Brasil porque a luta de uma pessoa para descobrir o paradeiro de um familiar desaparecido é um tema universal
O Brasil já tinha recebido destaque em vários dos principais festivais de cinema do mundo, ganhando uma Palma de Ouro em Cannes (com O Pagador de Promessas) e dois Ursos de Ouro em Berlim (com Central do Brasil e Tropa de Elite), além de outros prêmios – a própria Fernanda Torres também já tinha sido premiada em Cannes, em 1986. Mas o Oscar tem o condão de disparar uma onda de interesse no cinema nacional, tanto em termos de procura por produções passadas quanto de expectativa por produções futuras, alcançando um público que vai além dos cinéfilos mais inveterados. Essa é uma oportunidade que tem sido ressaltada desde antes da noite do Oscar por cineastas brasileiros de diferentes tendências políticas: “Essa exposição do Globo de Ouro e do Oscar é excepcional”, disse Josias Teófilo (diretor de O Jardim das Aflições, documentário sobre Olavo de Carvalho) ao site Metrópoles um mês atrás, acrescentando que “nossa indústria tem muito potencial. A questão é saber se vai aproveitá-lo ou não”.
A relutância de parte dos brasileiros em relação a Ainda estou aqui se deve a declarações políticas de membros da equipe do filme, como Walter Salles e Fernanda Torres, e também a sua temática. O filme se passa durante a ditadura militar brasileira e retrata o desaparecimento do ex-deputado Rubens Paiva, levado por membros da Aeronáutica e cujo corpo jamais foi encontrado. Esta, aliás, é uma razão pela qual Ainda estou aqui foi capaz de envolver público e crítica fora do Brasil: a luta de uma pessoa para descobrir o paradeiro de um familiar desaparecido é um tema universal, que o cinema explora por meio dos mais diversos gêneros, do drama até os filmes de ação, passando pelo suspense psicológico. Que Rubens Paiva tenha sido tirado dos seus de forma até pacífica, com uma expectativa não cumprida de retorno à casa, é algo que realça ainda mais o sofrimento de Eunice e seus filhos.
Quanto à queixa a respeito de “mais um filme sobre a ditadura”, nunca é demais recordar que a arte é um meio poderoso pelo qual um país lida com suas feridas históricas. Os norte-americanos seguem produzindo filmes sobre a Guerra do Vietnã, o período da escravidão e o regime de segregação racial que levou ao movimento pelos direitos civis. O alemão A Vida dos Outros recorda o regime de vigilância total imposto pelos comunistas por meio da Stasi; o tcheco Kolya tem como protagonista um músico ostracizado pela ditadura socialista devido, entre outros motivos, à fuga de seu irmão para o Ocidente; o argentino A História Oficial trata do esquema pelo qual o governo entregava para adoção os filhos de presos políticos mortos pela ditadura daquele país – todos esses três longas receberam o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, em 2007, 1997 e 1986 respectivamente.
Goste-se ou não deste fato, a ditadura militar é nossa ferida histórica mais recente. Tivemos, por 20 anos, um regime que cassou todas as liberdades democráticas, que censurou, que exilou, que prendeu sem motivo, que torturou e que matou – inclusive pessoas que não tinham a menor relação com os grupos terroristas de esquerda e cujo “crime” não passou da manifestação pública de discordância em relação ao governo. Essas são verdades históricas que não convém apagar. E, como ninguém é proprietário exclusivo da interpretação ou do legado de Ainda estou aqui, qualquer brasileiro é totalmente livre para estabelecer analogias com o período bastante anômalo que o Brasil vive hoje, também marcado por liberdades em crise, censura, prisões políticas e abolição do devido processo legal – violações, em certos aspectos, tão ou até mais graves que as verificadas entre 1964 e 1985.
O êxito de Ainda estou aqui nas principais premiações do cinema mundial deve servir não apenas de reconhecimento da capacidade brasileira em termos de produção cinematográfica, mas também de incentivo para que surjam mais investidores e patrocinadores neste ramo. A arte é um dos campos em que o ser humano pode demonstrar o que tem de melhor; que o Brasil possa ser uma referência na missão de mostrar ao mundo o bom, o belo e o verdadeiro por meio da produção artística.
FONTE: GAZETA DO POVO https://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/editoriais/ainda-estou-aqui-oscar-reconhecimento-arte-brasileira/

Como a insegurança tomou conta do Brasil

A segurança pública é, talvez, a nossa principal preocupação. Estamos inseguros não apenas nas grandes cidades, mas também no interior do país, até nas cidades menores. Eu vi a bandidagem chegar ao Rio de Janeiro, e era fácil prever que, se não houvesse uma reação popular contra os bandidos, o crime tomaria conta, como acabou tomando. A bandidagem domina o Rio de Janeiro, já tem seu território próprio, e está dominando áreas de outras grandes cidades. Em São Paulo, há lugares onde é difícil a entrada da polícia. Capitais como Porto Alegre e Salvador também têm regiões perigosas.
Mas, como eu dizia, isso só chegou a esse ponto porque a população do Rio de Janeiro permitiu. E como é possível a população permitir, como é possível não perceber que uma grande parte da mídia está contra a polícia e a favor dos bandidos, e por isso é responsável por nossa insegurança, porque não apoia os agentes da lei? Jair Bolsonaro chegou ao governo apoiando claramente a polícia. O crime despencou só com a percepção de que a polícia tinha apoio. Mas agora a polícia se sente constrangida por decisões do Supremo em relação a áreas do Rio de Janeiro, ou pela audiência de custódia, que solta bandidos.
Juiz desfaz trabalho gigantesco que prendeu megatraficante colombiano
No Amazonas, a polícia, com a ajuda do serviço de informações, levou 25 horas de barco para chegar ao esconderijo de um traficante colombiano, e o prendeu. Juan Carlos Urriola estava com o equivalente a R$ 20 milhões em drogas. Na audiência de custódia, Urriola foi solto porque o juiz considerou que ele não tinha antecedentes criminais. Mas é claro que não tinha! Ele veio da Colômbia; provavelmente era um narcotraficante com muitos antecedentes criminais por lá, e resolveu vir ao Brasil para se livrar da Justiça colombiana. E este é um bom negócio, porque a Amazônia está cheia de traficantes e de drogas, tanto que o narcotráfico já é um dos grandes compradores de ouro na região, para poder transacionar já com o dinheiro lavado.
Brasileiro que acha graça em descumprir regras fica tolerante com a bandidagem
O juiz soltou Urriola e é claro que nunca mais esse colombiano será capturado. A Corregedoria da Justiça estadual afastou o juiz previamente, para saber por que ele soltou o traficante. A justificativa foi a de que ele não tinha antecedentes criminais; será que é ingenuidade isso?
Outro problema é a postura de brasileiros que acham bonito enganar a lei. É aquela cultura do malandro carioca, tão elogiado na música; mas aquele era um tempo romântico do malandro, que fazia seresta, se envolvia em coisa pequena. Mas no Rio de Janeiro começou a história do jogo do bicho, que é ilegal, contravenção, porque é jogo de azar, cujo resultado depende da sorte. Está escrito na Lei de Contravenções Penais. Então, vocês sabem muito bem que não é apenas o bicheiro que comete contravenção. Mas, enfim, as pessoas acostumaram e vieram outras coisas, como essa ligação com o carnaval. E o povo foi naturalizando, achando que era normal.
Falando com um amigo paulistano, comentei com ele sobre o casal brasileiro que fez bagunça no aeroporto de Miami e foi preso. O amigo respondeu “vai ver que estão acostumados a fazer bagunça em Congonhas ou Guarulhos, e não acontece nada”. A polícia norte-americana disse que jogaram um copo de café no rosto de um funcionário da American Airlines, que começaram a dar pontapé na porta.
O casal tinha ido de Brasília para Miami, e ia de Miami para Cancún, mas acabou não embarcando. Eles tinham poltronas na fileira da porta de emergência e perguntaram se eles entendiam fluentemente o inglês. O homem respondeu que não era fluente, e a companhia aérea disse que, então, eles não poderiam se sentar lá. Quem viaja sabe: os funcionários sempre perguntam aos passageiros se eles têm força muscular para abrir a porta, se têm mobilidade para se afastar imediatamente, se estão entendendo as instruções, do contrário não podem ficar na porta de emergência.
O casal se irritou porque, como só havia um outro lugar no avião, a empresa ofereceu um outro voo para o casal ir separado. Começou o bate-boca e o homem acabou imobilizado pela polícia, jogado no chão. Foram levados para a delegacia, e parece que pagaram fiança, foram soltos e devem voltar para o Brasil.
Mas, voltando a esse costume de sair da lei, eu acompanhei de perto, no Japão, a quantidade de brasileiros presos no Japão, mesmo descendentes de japoneses, que vão trabalhar lá, mas se acostumaram com a regra brasileira. Ou então, ainda que os nisseis aqui do Brasil sejam muito comportados, não é suficiente para o Japão. Assim como existe brasileiro preso em Roma, em Portugal, na França, porque não tem o costume de cumprir a lei. É questão de hábitos de civilidade, de urbanidade. Mas essa cultura também contribui para acharem normal a bandidagem por aqui.
FONTE: GAZETA DO POVO https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/alexandre-garcia/como-a-inseguranca-tomou-conta-do-brasil/

Meu bilionário favorito, ou: a boa a velha hipocrisia da esquerda

“A ascensão de bilionários no Brasil é sintoma de um sistema imoral que concorda que a riqueza e luxo de poucos siga se perpetuando às custas da fome e desemprego de milhões.” (Fernanda Melchionna, deputada federal, PSol)
“Walter Salles nos presenteou com um filme poderoso, que levou mais de 5 milhões de pessoas a revisitarem um dos períodos mais sombrios do nosso passado.” (Fernanda Melchionna, deputada federal, PSol)
“Bilionários não deveriam existir!” (Sâmia Bomfim, deputada federal, PSol)
“O filme Ainda Estou Aqui levou o Oscar de Melhor Filme Internacional, consagrando o cinema brasileiro no cenário mundial! Uma vitória inesquecível para a cultura do país!” (Sâmia Bomfim, deputada federal, PSol)
Não vi Ainda Estou Aqui. Ainda. Não digo que não verei, pois, segundo disseram amigos de opinião insuspeita, trata-se, de fato, de um excelente filme. Sim, é mais um filme do quase monotemático – e quase sempre chatíssimo – cinema brasileiro e sobre o mito fundador da esquerda brasileira: a ditadura militar. Mais um filme que trata terrorismo doméstico e tentativa de implantação de outra ditadura, a do proletariado, no Brasil como ato de heroísmo. Mais um filme sobre a perseguição, desaparecimento e morte de esquerdistas da elite brasileira que estavam enfeitiçados pelo comunismo. A mesma elite que hoje financia, dirige e atua em tais filmes. OK, mas disseram que é um bom filme. Portanto, uma hora dessas, quando sair em algum streaming, verei.
A ditadura militar foi, de fato, um regime, para dizer o mínimo, controverso. Não dá para dizer que foi bom nem mesmo para quem, à época, como meus pais, só queria trabalhar e sustentar a sua família, para quem não se envolveu em “atividades subversivas”; afinal de contas, nenhum regime autoritário é bom, ainda que muitos não tenham sido diretamente prejudicados por ele. Minha mãe sempre se refere à segurança que havia à época, e meu pai se graduou em Ciências Contábeis e Direito, e conseguiu adquirir seu imóvel, sem entrada e de modo milagrosamente facilitado, durante o período. Mas isso não faz um regime de exceção ser bom. Muita gente foi perseguida, torturada e morta durante os 20 anos de vigência desse regime que foi fruto de um golpe de Estado. Romantizá-lo é um erro.
Walter Salles é o terceiro cineasta mais rico do mundo, atrás, apenas, de Steven Spielberg e George Lucas. A diferença é que a fortuna destes é fruto do cinema, enquanto a daquele vem de sua herança
Por outro lado, sabemos que, atualmente, muitos utilizam o período ditatorial não para promover a conscientização sobre seus graves problemas, mas para fazer avançar a ideologia que justificou a sua existência; ideologia que não é menos nociva. O comunismo ceifou milhões de vidas e, ainda hoje, condena países ao atraso; e termos pessoas que ainda o defendem mostra que não aprendemos nada. As verdadeiras viúvas da ditadura não são aqueles que sentem saudades de sua vigência, mas os que, por seu idealismo jamais superado, encontram à sua sombra justificativas para avançar em suas disputas pelo poder disfarçadas de igualitarismo humanista.
Voltando ao filme, a obra é uma realização de Walter Moreira Salles Júnior, célebre herdeiro de família de banqueiros, donos do Itaú; e é baseado no livro de Marcelo Rubens Paiva sobre a sua mãe, Eunice Paiva, e o desaparecimento de seu pai, o engenheiro e político Rubens Beyrodt Paiva, que, por sua vez, era filho de Jaime de Almeida Paiva, grande latifundiário e político do interior paulista – um típico coroné, autoritário, que mandava e desmandava em Eldorado Paulista, cidade em que viveu, durante a adolescência, o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Walter Salles, que também é responsável pelos filmes Central do Brasil e Diários de Motocicleta – este, sobre o jovem Che Guevara –, é, de fato, talentoso, e divide com seu irmão mais novo, o também cineasta João Moreira Salles (que fez um filme sobre o mordomo da família), não só a paixão pelo cinema, mas o fetiche progressista dos jovens de elite dos anos 1960. Sua fortuna, atualmente, é estimada, segundo a revista Forbes, em R$ 26,4 bilhões, o que faz dele o terceiro cineasta mais rico do mundo, atrás, apenas, de Steven Spielberg e George Lucas. A diferença é que a fortuna destes é fruto do cinema, enquanto a daquele vem de sua herança – não só do banco, mas também da exploração de nióbio em Minas Gerais, por meio da Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), empresa fundada por seu pai em 1965 e que domina o mercado mundial do metal de transição.
Ou seja, estamos diante de um dos maiores representantes brasileiros daquele tipo de pessoa que as deputadas do PSol Sâmia Bomfim e Fernanda Melchionna disseram que não deveriam existir. Para Bomfim, “o capitalismo e essa concentração de renda e desigualdade são aberrações”, e Melchionna faz coro, dizendo em artigo que “a ascensão de bilionários no Brasil é sintoma de um sistema imoral que concorda que a riqueza e luxo de poucos siga se perpetuando às custas da fome e desemprego de milhões”.
Já o professor Valério Arcary, num artigo para o noticioso Brasil de Fato, disse que “os ricos não são necessários. Os bilionários não são imbatíveis. As grandes fortunas privadas são uma anomalia, um escárnio, uma monstruosidade”. O professor Arcary, vale lembrar, é carioca, filho de uma funcionária do Itamaraty, que viveu em Portugal e se graduou em universidades europeias. É, como diz, no mesmo site, em outro artigo em que, como um bom progressista de elite, tenta minimizar seus prestígios, fruto de “uma família de classe média. Bisneto de um oficial do Exército maranhense e de um agricultor italiano, neto de dois comerciantes, um catarinense e o outro mineiro, sou Montarroyos, e Arcary, mas levo comigo o nome de meu pai”. Ou seja, não é, nem longe, parte das dezenas de milhões de pobres-diabos brasileiros que não têm onde cair mortos. Mas finge ser.
A esquerda brasileira criou a categoria do “bilionário que faz o bem à sociedade”. Mas é ela que escolhe quem é digno de pertencer a essa seleta lista
O fato é que os mais efusivos festejadores do primeiro Oscar brasileiro para Ainda Estou Aqui, do bilionário Walter Salles, foram os esquerdistas, Sâmia Bomfim e Fernanda Melchionna inclusas, como se vê nas epígrafes. Mas, ao mesmo tempo em que comemoravam, construíam, com a maior desfaçatez, mais uma narrativa fruto de sua hipocrisia interminável: a de que Walter Salles é um bilionário que faz bom uso de sua fortuna. Luiz Carlos da Rocha, um advogado esquerdista, teve a desfaçatez de dizer, no X: “Ele é da elite, mas não é a cara da elite brasileira. Walter Salles é um dos raros casos de milionários a ir ao risco de usar seu dinheiro, sem benefício fiscal, e influência a favor do Brasil. Já pode ser colocado ao lado do Barão de Mauá, Delmiro Gouveia e outros poucos”. O post tem 22 mil curtidas.
A loucura disso tudo é que a esquerda brasileira, esquizofrênica por natureza como toda esquerda, pensa ter criado uma nova categoria sociológica a serviço de suas adequações ideológicas: o “bilionário que faz o bem à sociedade”. Mas, curiosamente, é ela que escolhe quem é digno de pertencer a essa seleta lista. Mais patético, impossível.
FONTE: GAZETA DO POVO https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/paulo-cruz/walter-salles-meu-bilionario-favorito-hipocrisia-esquerda/

Injustiça é injustiça, seja contra Rubens Paiva ou contra Debora Rodrigues

“Uma mãe que largou os filhos para ajudar no terrorismo num domingo à tarde, num golpe de Estado”, escreveu a usuária @recatadaedolar no X, em resposta a uma postagem do deputado estadual Bruno Engler, de Minas Gerais. Lorena, como também é conhecida a usuária, estava reagindo a um vídeo em que os filhos pequenos de Debora Rodrigues, Rafa e Caio, imploram por ajuda para tirar a mãe da cadeia. “Ainda estão aqui – órfãos de pais vivos. A mãe desses garotos está presa há quase dois anos porque riscou uma estátua com BATOM. Brasil, 2025”, escreveu Bruno Engler.
Debora Rodrigues, é claro, tornou-se nacionalmente famosa por ter cometido a proeza histórica de tentar um golpe de Estado armada apenas com um batom vermelho e palavras retiradas diretamente da boca do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luís Roberto Barroso: “Perdeu, mané”. Por conta desse crime “imperdoável”, Debora perde alguns dos melhores anos da vida de seus filhos e é submetida a uma injustiça que nem mesmo criminosos perigosos, acusados de delitos realmente graves, enfrentam no Brasil.
Mas voltemos ao que escreveu Lorena, cuja publicação viralizou no X, alcançando mais de 1,8 milhão de visualizações e 127 mil curtidas. Seu post, além de pouco misericordioso, demonstra pouca inteligência. As camadas de ignorância, crueldade e hipocrisia na publicação são evidentes, assim como nos comentários de quem concorda com ela: “Sem anistia!”, “Bem feito”, “Se estivesse em casa cuidando dos filhos, não estaria presa, simples”, “E eu com isso?”, “Espero que ela apodreça lá”.
Lendo esse tipo de comentário, é impossível não traçar um paralelo entre a situação de Debora Rodrigues e o filme Ainda Estou Aqui, do diretor Walter Salles, que conquistou o primeiro Oscar do Brasil no último domingo e catapultou Fernanda Torres ao estrelato hollywoodiano por sua interpretação da advogada Eunice Paiva. Eunice foi esposa do ex-deputado Rubens Paiva, torturado e assassinado pela ditadura militar. Ela viveu com a dor de não saber o paradeiro do marido por mais de 20 anos, até que o Estado brasileiro foi finalmente obrigado a declarar sua morte nos anos 90.
É impossível não traçar um paralelo entre a situação de Debora Rodrigues e o filme Ainda Estou Aqui
No filme, Rubens Paiva é levado de casa por agentes da ditadura, que investigam suas ligações com subversivos. Apenas no desfecho, Eunice descobre, por meio de um amigo da família, que Rubens ajudava guerrilheiros e militantes de esquerda contrários ao regime. Ele nunca abandonou a política. Desde o dia em que foi levado para “interrogatório”, Eunice nunca mais viu o marido, assim como os filhos de Debora nunca mais a viram desde que a Polícia Federal (PF) de Alexandre de Moraes a levou de casa há mais de dois anos.
Será que os comentários de Lorena não poderiam ser aplicados, palavra por palavra, a Rubens e Eunice Paiva? Diante de tamanha crueldade contra Debora, a primeira coisa que me ocorre é que pessoas como Lorena e seus amigos progressistas diriam exatamente as mesmas coisas nos anos 70 sobre as vítimas da ditadura militar: “Um pai que largou os filhos para ajudar terroristas de esquerda num domingo à tarde, num golpe de Estado”. E seus colegas reforçariam: “Se estivesse em casa cuidando dos filhos, não teria sido torturado, simples!”, “Quem mandou se meter com guerrilheiros e terroristas de esquerda? Tomara que apodreça onde está”.
Mas Lorena, em tese, é contra ditaduras, tortura, sequestros de pais e mães de família, desaparecimentos forçados e assassinatos políticos. Será mesmo? Quando vejo comentários como o dela, a conclusão inevitável é que Lorena não é, de fato, contra nada disso – ela é apenas contra ditaduras de direita, que persigam e matem progressistas e pessoas de esquerda como ela. Se a ditadura for de esquerda ou comandada por um ministro supremo de sua preferência, aí tudo bem. Nesse caso, a culpa de estar presa é toda de Debora, e seus filhos que se virem, assim como os filhos de Rubens Paiva cresceram sem o pai. Mais do que isso: qualquer crueldade e indignidade contra Debora e sua família está justificada.
E isso sem sequer entrarmos nos aspectos jurídicos do caso. Lorena afirma que Debora ajudou no “terrorismo”, mas surge a pergunta básica: Debora foi formalmente acusada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) pelo crime de terrorismo? Será que Lorena sabe? A resposta é não. Porque a lei brasileira sobre terrorismo não prevê a possibilidade de atos terroristas quando a motivação é política. No contexto do 8 de janeiro, o termo “terrorismo” só existe na boca do jornalismo militante da GloboNews e dos desavisados da esquerda.
E quanto ao “golpe de Estado”? Existe, na história da humanidade, algum golpe bem-sucedido realizado apenas com um batom? Uma cabeleireira comum, evangélica e mãe de dois filhos teria competência, capacidade e meios para derrubar um governo de um país continental como o Brasil e instaurar um novo governo provisório? Seria Debora mais eficiente, com seu singelo batom vermelho, do que generais, almirantes e brigadeiros das Forças Armadas e suas tropas? E quem seriam seus “aliados”? Os cinco moradores de rua e o vendedor ambulante que ficaram presos por meses, alguns mais de ano, porque se aproximaram das manifestações em busca de comida ou para vender seus produtos?
Se a ditadura for de esquerda ou comandada por um ministro supremo de sua preferência, aí tudo bem
Será que pessoas de esquerda como Lorena e seus companheiros de desumanidade nos comentários têm alguma noção do quão ridículos parecem ao chamar Debora de golpista e terrorista? Será que percebem como são crueis ao defender que ela tenha seus direitos violados e sofra a pior das injustiças apenas por discordarem dela politicamente? Será que entendem sua própria hipocrisia ao celebrarem a vitória de Ainda Estou Aqui no Oscar, enquanto defendem que o mesmo tratamento ditatorial retratado no filme seja aplicado a outra pessoa nos dias de hoje?
Injustiça é injustiça, seja contra Rubens Paiva, seja contra Debora Rodrigues. A esquerda luta tanto contra a discriminação racial, mas realiza discriminação política do pior tipo: desumaniza e naturaliza os abusos contra seus adversários. Denunciam a ditadura militar do passado, mas apoiam a ditadura do Judiciário do presente. Passam pano para os criminosos de rua em nome de uma suposta “compaixão”, mas endossam a crueldade contra bolsonaristas julgados em lote e sem provas individualizadas de ilícitos. Talvez, daqui a 50 anos, quando a história de Debora e de seus filhos também for contada em um filme concorrente ao Oscar, eles finalmente compreendam. E, ao assistirem, percebam que a ditadura retratada na tela não é outra senão a deles mesmos.
FONTE: GAZETA DO POVO https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/deltan-dallagnol/injustica-e-injustica-seja-contra-rubens-paiva-ou-contra-debora-rodrigues/
Transparência Internacional cita Toffoli na OEA ao relatar desmonte do combate à corrupção

O gerente de pesquisa da ONG Transparência Internacional, Guilherme France, citou o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, ao denunciar o desmonte do combate à corrupção em países da América Latina durante participação em uma audiência na comissão de direitos humanos na Organização dos Estados Americanos (OEA).
France usou como exemplo do desmonte, a decisão monocrática de Toffoli que anulou todos os processos e investigações conduzidos pela Operação Lava Jato contra o empresário Marcelo Odebrecht.
Ao UOL, France disse que a decisão de Toffoli tem gerado “reflexos sistêmicos” nos outros países da América Latina porque o Judiciário brasileiro está se recusando a cooperar em investigações de corrupção ao impedir o envio de dados e depoimentos no exterior.
“Daí a nossa decisão de protestar em conjunto com outros países na OEA”, disse France ao UOL, nesta quarta-feira (5). A audiência na OEA aconteceu na segunda-feira (3).
Em fevereiro, Toffoli também anulou todos os atos da Operação Lava Jato contra o ex-ministro Antonio Palocci. A decisão envolve as ações tomadas pela força-tarefa do Ministério Público Federal quanto pelo então juiz Sérgio Moro.
Ao comentar sobre a decisão, no mês passado, a Transparência Internacional disse que a medida “abala” a confiança no STF.
Brasil atingiu a sua pior pontuação da história em índice de percepção da corrupção
Recentemente, o Brasil atingiu a sua pior pontuação no Índice de Percepção da Corrupção (IPC), mantido pela Transparência Internacional. O índice, divulgado nesta terça-feira (11), se refere ao ano de 2024 e mede a impressão de especialistas e empresários sobre o nível de corrupção no setor público de cada país.
Para aferir o IPC de cada um dos 180 países avaliados, são atribuídas notas em uma escala de 0 a 100. Quanto maior a nota, melhor é a percepção sobre a integridade do país. A nota do Brasil foi 34, empatando com Nepal, Argélia, Malauí, Níger, Tailândia e Turquia.
FONTE: GAZETA DO POVO https://www.gazetadopovo.com.br/republica/transparencia-internacional-cita-toffoli-na-oea-ao-relatar-desmonte-do-combate-a-corrupcao/
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