Enquanto aponta o dedo para a Amazônia, como estão as usinas de carvão na Alemanha?

Mesmo sendo o quarto país mais poluidor do mundo, segundo o World Resources Institute (WRI), a Alemanha não cansa de levantar a bandeira verde quando o assunto é sustentabilidade de outros países. Nos últimos anos, o país europeu suspendeu investimentos e ameaçou fazer outras sanções ao Brasil devido ao desmatamento da Amazônia.

No entanto, existe bastante trabalho interno para que a Alemanha se ajuste a seus próprios parâmetros ecológicos. Em 2019, o país europeu criou uma lei de proteção climática, que prevê uma redução de gases do efeito estufa em 55% até 2030 e neutralidade do carbono até 2050 no país.

Apesar dessa movimentação ecológica, o crescimento da demanda mundial por energia, decorrente da guerra na Ucrânia, faz com que as usinas alemãs precisem queimar mais carvão e isso pode atrasar a transição para a energia verde.

Aposta verde que deu errado 

Quando a Alemanha decidiu trocar a matriz energética para opções menos poluidoras do que as centrais de carvão, investiu nas energias eólica e solar em primeiro lugar, e no gás como segunda opção.

A transição custou mais de 1 trilhão de dólares, mas algumas falhas no processo comprometeram a produção de energia no país.

“Foi um fiasco. A Alemanha instalou uma capacidade gigante onde a área de insolação era baixíssima e com pouco vento. Além disso, essas instalações concorreram com áreas agrícolas”, explica Ricardo Fernandes, analista de riscos e internacionalista.

Outro problema nessa transição energética foi a dependência que o país criou na importação de gás estrangeiro, especialmente o russo. Cerca de 50% do combustível presente na Alemanha vem da Rússia.

No final de junho, devido ao corte de gás russo da Gazprom, como forma de Vladimir Putin pressionar os europeus, o Ministério da Economia alemão anunciou que a saída seriam as usinas de carvão. O país decidiu reativar 15 delas para a produção de energia.

“É ruim dizer isso, mas é indispensável para reduzir o consumo de gás”, informou o ministro Robert Habeck, que faz parte do partido verde do país.

Tendo em vista que é verão na Europa neste momento, Habeck alertou para a crise energética que deve assolar o país no próximo inverno: “será provavelmente pior do que a crise do coronavírus”.

Ao contrário de países vizinhos como a França, que investem na energia nuclear como alternativa aos combustíveis fósseis, a Alemanha, quando estava sob a liderança de Angela Merkel, decidiu desativar usinas nucleares, pelos possíveis riscos de vazamento. Uma opção aparentemente sustentável, mas, na prática, não é nada ecológica e ainda prejudicou a economia do país, com a energia mais cara do continente.

Dependência de combustíveis fósseis 

Mesmo antes da guerra na Ucrânia, diante da queda de 15% na produção eólica, a Alemanha aumentou no ano passado a produção das centrais elétricas movidas a carvão em 22%.

O gás, o petróleo e o carvão representam 66% do consumo de energia alemã. Além disso, cerca de 47% da eletricidade produzida no país em 2021 veio de combustíveis fósseis. “A economia alemã é totalmente dependente do fóssil poluente e se encontra especialmente vulnerável diante da guerra na Ucrânia”, disse Fabien Bouglé, especialista em política energética, ao jornal francês Le Figaro.

Consequências climáticas 

Diante das fortes ondas de calor na Europa durante este verão, que já resultaram em mais de mil mortes no continente, a discussão sobre o aquecimento global voltou com força à pauta europeia. Nesse contexto, a produção de energia alemã está se tornando um grande vilão.

Além do desmatamento de vilarejos para a construção de minas, as centrais elétricas movidas a carvão geram uma poluição de 1.000 g de CO2 / kWh. Centrais nucleares, que foram uma alternativa recusada pelos ecologistas alemães, produzem muito menos: cerca de 6 g de CO2 / kWh.

“A Alemanha será um dos principais atores da degradação do clima e continuará sendo o patinho feio da União Europeia e do mundo. São os pretensos ecologistas que sustentam esse modelo desastroso para o planeta”, concluiu Bouglé.

Fonte: Gazeta do Povo

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