No fim de fevereiro, quando a guerra na Ucrânia começou, a quantidade de interações nas redes sociais sobre o assunto alcançou o pico de 18 milhões, segundo o grupo de estudos da empresa de rastreamento News Whip. Dizia-se que, na guerra de informação, a Ucrânia já era vitoriosa. No final de maio, no entanto, o número caiu para 345 mil, o que corresponde a 50 vezes menos do que em fevereiro.
O mesmo aconteceu com as reportagens jornalísticas publicadas na internet. Conforme contabilizou o noticiário americano Axios, na primeira semana da guerra, cerca de 520 mil artigos foram publicados sobre a Ucrânia. Recentemente, as publicações caíram para 70 mil por semana, um número sete vezes menor.
Percebendo que o mundo diminuiu o interesse pela guerra, a primeira-dama ucraniana, Olena Zelenska, declarou ao ABC News, em 22 de maio: “Não se acostumem com essa guerra. Senão, corremos o risco de viver uma guerra sem fim. Não se acostumem com a nossa dor”.
O pesquisador e analista de segurança do Le Beck International, Michael Horrowitz, publicou no Twitter sobre os riscos dessa redução do interesse internacional pelo conflito. “A diminuição da atenção ocidental aparece no momento em que a Ucrânia mais precisa de suporte”, comentou. Nessa altura da guerra, a Ucrânia não possui mais munições para as armas de origem soviética e precisa do sistema ocidental. “Claro que a cobertura midiática é diferente do interesse público e do fornecimento de armas. Mas um fator afeta o outro. Acredito que essa seja a aposta da Rússia”, completou.
Crise econômica é obstáculo para suporte à Ucrânia
À medida que a inflação e a crise alimentar avançam no mundo, reforçadas pela guerra, a Ucrânia encontra maior dificuldade para receber ajuda ocidental. Os Estados Unidos, por exemplo, que já destinaram mais de US$ 40 bilhões a Kyiv, poderão ajudar a Ucrânia por muito tempo, diante do risco de recessão no país?
A forma como as nações se organizam diante do avanço da guerra compromete também a unidade ocidental. Enquanto a Polônia e os países bálticos se posicionam de forma mais agressiva contra a Rússia, outras nações, como Itália, França e Alemanha, podem suportar menos tempo a aplicação de sanções ao país de Vladimir Putin.
Perder para a Rússia pode custar ainda mais para o Ocidente, diz OTAN
“A guerra pode durar anos”, disse no último final de semana o secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, ao periódico alemão Bild am Sonntag. “Não devemos desistir de apoiar a Ucrânia. Mesmo que os custos sejam altos, não apenas pelo apoio militar, mas também pelo aumento dos preços da energia e dos alimentos”, completou o chefe da aliança militar.
Conforme reforçou Stoltenberg, “nenhum custo financeiro se compara ao sofrimento da linha de frente da Ucrânia”. O chefe da OTAN também alertou que, caso a Rússia conquiste seus objetivos como aconteceu na anexação da Crimeia em 2014, “o preço será ainda maior” para o Ocidente.
Em viagem a Kyiv na semana passada, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, afirmou que, neste momento de fadiga das tropas ucranianas, é quando o país mais precisa de apoio militar. Também disse que um cessar-fogo seria interessante apenas para a Rússia. “Seria uma catástrofe se Putin ganhasse”, opinou o premiê britânico.
Mas, na prática, o Ministério de Defesa do Reino Unido informou que, depois de quase quatro meses de embate, diante do cansaço, as tropas dos dois lados fazem deserções e rebeliões contra ordens de oficiais, especialmente no lado ucraniano.
O conflito está mais concentrado e chama menos a atenção
Além do tempo, que, naturalmente, esfria o interesse pelas notícias, o caráter atual dos conflitos atrai menos a atenção do público. A fadiga das tropas, tanto pelos meses de combate quanto pela intensidade deles nos mesmos locais-chave, gera menos interesse do que as grandes movimentações rumo à capital nos primeiros meses de guerra.
O público se surpreenderia, no entanto, se soubesse que o vilarejo de Tochkivka, tomado pelos russos nesta terça-feira (21), é um ponto estratégico a poucos quilômetros de Severodonetsk e está dentro do plano russo para conquistar a tão disputada Bacia do Donbas.
Segundo o Instituto americano de estudos de guerra (ISW, na sigla em inglês), as tropas russas querem cortar as linhas de comunicação ucranianas nas estradas da região. Dentro do mesmo projeto de tomada do Donbas, os russos têm promovido “destruições catastróficas” em Lyssytchansk, conforme anunciou o governador da região de Luhansk, Serguiï Gaïdaï.
30% das estruturas do país foram destruídas
“Cerca de 30% das estradas, pontes, portos, ferrovias e aeroportos foram destruídos”, disse o ministro ucraniano da infraestrutura, Oleksandr Kubranov, em entrevista ao Le Monde. Segundo ele, serão necessários 105 bilhões de euros para refazer essa estrutura. Cerca de 40% desse valor seria destinado aos prejuízos no transporte.
Entre as cidades mais destruídas, estão as que foram inicialmente alvo dos principais ataques, Mariupol, Kharkiv e Tchernihiv, mas também as que se tornaram foco do ataque russo nos últimos meses, como Severodonetsk e Lyssytchansk. Cerca de 320 mil pessoas declararam ter perdido a residência, mas, segundo Kubranov, esse número tende a ser muito maior.
“Em Mariupol, por exemplo, tudo está destruído. No total, mais de 44 milhões de metros quadrados de estabelecimentos foram prejudicados ou destruídos”, comentou o ministro.
O problema da extensão da guerra por tantos meses, e talvez por anos, é que, mesmo que a estrutura das cidades seja refeita, existe o risco de novos ataques. “Não podemos reconstruir em grande escala no momento”, explicou Kubranov. Mesmo assim, o Ministério da Infraestrutura vai investir em parte da reparação para que os ucranianos possam voltar ao país.
Fonte: Gazeta do Povo
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