Quatro coisas sobre Marine Le Pen que provavelmente você não sabia

Na sua terceira tentativa de chegar ao Palácio do Eliseu, Marine Le Pen, 53 anos, disputará em 24 de abril o segundo turno da eleição na França contra o atual presidente, Emmanuel Macron, que a derrotou também em segunda votação em 2017.

Embora o candidato centrista tenha sido o mais votado no primeiro turno e lidere as pesquisas para o segundo com uma vantagem entre dois e dez pontos (segundo diferentes levantamentos), a direitista tem a melhor chance das suas três candidaturas presidenciais de ser eleita: após não chegar ao segundo turno em 2012, a diferença agora parece estar bem abaixo dos mais de 30 pontos percentuais que a separaram de Macron na disputa final há cinco anos.

Le Pen se beneficiou desta vez por um discurso focado nos aumentos dos preços e do custo de vida, grandes preocupações dos franceses, e por ter abrandado o discurso eurocético e anti-imigração (especialmente contra muçulmanos) que a tornou conhecida.

Entretanto, essa plataforma segue no seu programa de governo. Entre outros pontos, a candidata quer limitar a chegada de imigrantes relacionada a conexões familiares e ao direito de asilo, proibir o uso do véu islâmico em todos os espaços públicos e priorizar cidadãos franceses sobre estrangeiros e asilados em programas de habitação e outros serviços públicos.

Em outros pontos, porém, Marine Le Pen tem posições que podem surpreender (ou decepcionar) quem tem uma imagem dela já formada. Confira alguns deles:

Ela é aliada de Putin
Le Pen disse admirar o presidente russo, Vladimir Putin, por “colocar os interesses da Rússia e do povo russo em primeiro lugar” em 2014, mesmo ano em que seu partido, a Frente Nacional (que a partir de 2018 passou a se chamar Reagrupamento Nacional), obteve empréstimos que somaram cerca de 11 milhões de euros junto a bancos ligados ao Kremlin.

Le Pen também alegou que a anexação da península ucraniana da Crimeia promovida por Putin não foi ilegal e que o plebiscito que aprovou a incorporação foi uma votação “incontestável”, o que não é reconhecido pelo Ocidente. Em 2017, ela pediu que sanções aplicadas à Rússia fossem retiradas e visitou Putin no Kremlin.

Porém, temendo desgaste em razão da guerra que o presidente russo iniciou em fevereiro, Le Pen vem defendendo “a integridade territorial” da Ucrânia e o acolhimento de refugiados da ex-república soviética. Também apoiou sanções devido à invasão deflagrada no mês retrasado, mas afirmou que elas não deveriam ser aplicadas ao gás e ao petróleo russos.

Ela é pró-aborto
Em uma entrevista em 2014, Le Pen disse que “ninguém pode ficar feliz” com um aborto e defendeu a implementação de políticas para ajudar mães sem condições econômicas durante a gestação, mas não se opôs à legalidade do procedimento. “A proibição [do aborto] não é o caminho”, alegou.

Le Pen tem defendido a manutenção da legislação francesa sobre o aborto. A interrupção voluntária da gravidez até a décima semana de gestação foi legalizada no país em 1975. O limite foi estendido para 12 semanas em 2001 e para 14 semanas este ano.

Convicções da Gazeta do Povo: Defesa da vida desde a concepção

Em 2016, sua sobrinha Marión Maréchal-Le Pen, que era deputada na Assembleia Nacional francesa, disse que numa eventual presidência da tia a legislação sobre o aborto na França seria mudada, mas Marine e o partido de ambas negaram.

Florian Philippot, coordenador da campanha de Le Pen em 2017, afirmou ao The Guardian que temia que mulheres jovens achassem que a candidata pretendia proibir o aborto. “É totalmente falso e prejudicial para o nosso segundo turno”, destacou.

Seu programa econômico tem afinidade com a esquerda
Nas suas cinco candidaturas à presidência da França, Jean-Marie Le Pen, pai de Marine, defendeu uma agenda econômica de direita: livre mercado e Estado mínimo. Várias propostas de sua filha nessa área, porém, estão mais próximas da esquerda.

Marine Le Pen quer priorizar produtos franceses em pregões do governo, reduzir a idade mínima de aposentadoria para 60 anos para quem começou a trabalhar antes dos 20 e manter a de 62 anos para os demais – Macron quer elevar para 65. “Você percebe o que representa a aposentadoria aos 65 anos? É algo completamente injusto”, disse, em entrevista à BFM TV.

A candidata também quer eliminar o imposto de renda para quem tem menos de 30 anos, reduzir o imposto sobre energia de 20% para 5,5%, gastar 2 bilhões de euros em cinco anos para aumentar os salários dos funcionários da saúde e recrutar mais 10 mil deles, além de aumentar em 15% os salários dos professores até 2027.

Macron alegou que o programa da sua adversária criaria desemprego em massa porque afastaria investidores estrangeiros e não se sustentaria em termos orçamentários.

Desistiu do “Frexit” – mas ainda é eurocética
Um político do Reagrupamento Nacional disse à revista Time que um referendo para tirar a França da União Europeia (o “Frexit”) não está sendo cogitado dessa vez, mas a antipatia de Le Pen pelo bloco continua.

Ela pretende reduzir as contribuições da França para a UE e promover uma coalizão com países governados por políticos com quem tem afinidade, como Hungria e Polônia, governados pelo primeiro-ministro Viktor Orbán e pelo presidente Andrzej Duda, respectivamente.

Quanto à OTAN, a aliança militar do Ocidente, ela quer retirar a França da estrutura de comando integrada da organização, “para não ser mais envolvida em conflitos que não são nossos”.

Fonte: Gazeta do Povo

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