O ministro da Defesa, o general Walter Souza Braga Netto (sem partido), vai compor a chapa com o presidente Jair Bolsonaro (PL) à reeleição. O que era uma sinalização feita pelo presidente, agora, é uma informação “cravada” por interlocutores do Palácio do Planalto, do núcleo político e eleitoral, e por aliados da base governista.
Na segunda-feira (21), Bolsonaro disse à TV Jovem Pan que o vice é “mineiro e fez colégio militar”, em uma clara referência a Braga Netto, natural de Belo Horizonte e formado na instituição educacional militar da capital. O deputado federal Bibo Nunes (PL-RS), vice-líder do partido na Câmara e aliado da base “raiz” conservadora do presidente, diz que são grandes as chances do atual ministro da Defesa ser o escolhido.
“O que circula nos grupos é que o vice deve ser o Braga Netto. Eu daria chances de 99% de ser ele. É uma pessoa competente, humilde, capaz e fiel. Eu sou totalmente Braga Netto, é um gentleman, humilde e muito responsável. Seria um grande apoio ao presidente”, afirma Nunes à Gazeta do Povo.
Outras dez fontes ouvidas pela reportagem em condição reservada entre segunda e terça-feira (22) também confirmam o general da reserva como vice. Foram ouvidos deputados da base aliada, interlocutores governistas e da coordenação eleitoral de Bolsonaro.
Um dos interlocutores afirma, inclusive, ser “bem provável” que ele esteja presente no lançamento da pré-candidatura do presidente, no domingo (27), em Brasília. Ainda é incerto, contudo, se haverá a confirmação de ele ser o vice da chapa presidencial.
O nome de Braga Netto vinha sendo ventilado por integrantes do Planalto desde o fim do ano passado. Desde então, Bolsonaro já havia sinalizado que o vice seria uma pessoa de confiança e a escolha seria pessoal. A opção por Braga Netto atende perfis dos quais o presidente não abre mão. “É discreto, leal e agregador”, diz um interlocutor do governo.
Qual será o papel de Braga Netto como vice na chapa de Bolsonaro
Outros vices com qualidades de discrição e lealdade também foram sugeridos e sondados pelo governo, a exemplo de outros ministros de Estado. Contudo, prevaleceu a vontade pessoal de Bolsonaro, que tem mais afinidade com Braga Netto e insistiu com integrantes de sua coordenação eleitoral para emplacar o militar na chapa.
O presidente acredita que Braga Netto pode exercer papéis importantes na campanha, desde a montagem de equipes e coordenação de cabos eleitorais, a um articulador político a ser inserido em sua coordenação eleitoral. “O ministro é conciliador e hábil na coordenação de trabalhos e busca de consenso”, aponta um interlocutor do governo.
A escolha por Braga Netto marca uma “queda de braço” entre Bolsonaro e os articuladores de sua campanha eleitoral, o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, e o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). O núcleo duro da campanha entende que outro nome com as mesmas qualidades do ministro da Defesa poderia ter sido escolhido em seu lugar.
De acordo com integrantes do Planalto, a indicação de Braga Netto como vice é uma resistência de Bolsonaro contra um nome que fosse do Centrão. Partidos da base do governo pleiteavam que a vaga fosse ocupada por um político de partidos como PP ou o Republicanos. Nessa articulação, o nome da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, chegou a ser ventilado pelos governistas por ela ter apelo entre o público feminino e apoio do agronegócio.
Entretanto, o presidente entende que cedeu em muitos aspectos ao grupo político aliado e persistiu com o nome de Braga Netto. Bolsonaro sempre sinalizou que pretende ter um nome de sua confiança e sem aspirações políticas na cadeira de vice-presidente. A medida seria uma forma de o chefe do Palácio do Planalto se blindar de um eventual processo de impeachment.
“Eu tenho de ter um vice que não tenha ambições de assumir a minha cadeira ao longo do mandato”, declarou Bolsonaro na entrevista à TV Jovem Pan. Governistas avaliam que, em parte, os mais de 100 pedidos de impeachment contra Bolsonaro não avançaram nos últimos anos pela falta de interesse de o Congresso colocar um militar como o vice-presidente Hamilton Mourão no cargo de presidente.
Em 2018, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) já havia sinalizado que a escolha de um militar era uma “defesa contra impeachment”. “Sempre aconselhei o meu pai: tem que botar um cara faca na caveira para ser vice. Tem que ser alguém que não compense correr atrás de um impeachment”, disse Eduardo ao jornal Folha de S. Paulo.
Braga Netto ainda precisa definir qual partido vai se filiar
Para consolidar Braga Netto para a chapa de reeleição, o ministro da Defesa deverá deixar o cargo até dia 2 de abril. Até lá, a principal articulação em curso é a definição do partido que o militar irá se filiar. Conforme apurou a Gazeta do Povo, Braga Netto recebeu uma ficha de filiação ao PP, mas também conta com convites para se filiar ao Republicanos e ao PSC.
O núcleo de campanha do presidente também não descarta uma filiação do ministro ao PL. Caso isso se confirme, haveria a formação de uma chapa “puro-sangue”, isto é, com presidente e vice de um mesmo partido. Entretanto, essa é a opção vista como menos provável, uma vez que não favorece a construção de alianças partidárias.
A informação que circula no Planalto é de que Braga Netto vai se filiar em “coordenação com a campanha”. Assessores apontam que ele não tem preferência por um partido e vai assinar ficha na legenda que o núcleo duro eleitoral escolher e identificar como a que pode potencializar a candidatura à reeleição.
O Republicanos é um partido bem cotado para o ministro da Defesa. Flávio Bolsonaro mantém conversas com o presidente nacional da legenda, o deputado federal Marcos Pereira (SP), a fim de evitar um desembarque da base. “Braga Netto é uma possibilidade no Republicanos, sim, está se construindo até porque o presidente [Bolsonaro] está começando a sinalizar mais forte que Braga Netto vem como vice”, afirma uma liderança do partido.
Por uma construção estratégica, o Republicanos aparece bem “cotado” na “casa de apostas” pelo futuro partidário de Braga Netto, principalmente após ter filiado o vice-presidente Hamilton Mourão, que sairá candidato pelo partido ao Senado pelo Rio Grande do Sul.
No PP, existe uma resistência da base dos congressistas em ter um quadro da sigla na vice e essa pressão pode ser determinante para o futuro de Braga Netto. Já o PSC aparece com menos força e, embora seja importante na composição partidária, corre “por fora”.
De acordo com Bolsonaro, seu grupo político está na reta final das negociações com os partidos que devem apoiá-lo na reeleição. “Estamos na reta final com os partidos. Muito partido quer fechar comigo, por exemplo”, disse o presidente na entrevista à Jovem Pan.VEJA TAMBÉM:
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Candidatura de vice pode levar comandante do Exército à Defesa
A possibilidade de uma composição de Braga Netto com Bolsonaro na chapa presidencial chegou a ser debatida sem muito clamor e vasto apoio entre militares no início do ano. Não por rejeição ao ministro, mas pelo receio que o gesto significaria para as Forças Armadas.
Os comandantes das três forças pregam a desassociação entre a política e a instituição. O general Edson Leal Pujol, ex-comandante do Exército, disse em novembro de 2020 que as Forças Armadas “não querem fazer parte da política, nem que ela entre nos quartéis”. Em março de 2021, Bolsonaro mexeu nos comandos do Ministério da Defesa, do Exército, da Marinha e da Aeronáutica.
Pelo precedente, nem todos os oficiais militares e oficiais generais receberam efusivos a notícia de que Braga Netto poderia ser o vice de Bolsonaro. Parte dos militares entendiam que o melhor seria evitar novos ruídos junto às tropas. “Com muita ponderação, eu não mexeria no Braga Netto, embora considere um bom nome”, disse um militar à reportagem em janeiro.
Também general de Exército, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Luiz Eduardo Ramos, tentou se cacifar nos bastidores para assumir a Defesa. Mas seu nome não agradou oficiais generais das Forças Armadas e sofreu rejeição, afirmam militares próximos de comandantes das forças.
Para militares, o nome que vai substituir Braga Netto na reforma ministerial tem que ser um quadro com mais prestígio nas Forças Armadas e trânsito na instituição, pré-requisito fundamental entre oficiais-generais. “O general Paulo Sérgio tem um excelente relacionamento dentro com a Marinha, a Força Aérea e, obviamente, dentro do Exército. É um nome que agrada e tem trânsito”, afirma um interlocutor de um comandante.
Por esse motivo, Bolsonaro mantém conversas com o atual comandante do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira, para que ele assuma o Ministério da Defesa. “O nome atual é ele [Paulo Sérgio], mas quem define é o presidente”, destaca um interlocutor do Planalto.
Nogueira estava até o início da semana em viagem oficial a Washington (EUA) e, segundo a CNN Brasil, antecipou o retorno para se reunir com Bolsonaro. Ele retornaria para Brasília em um voo comercial, mas, a pedido do presidente, se comprometeu a voltar em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para antecipar o compromisso.
Influência política de Braga Netto começou no governo de Michel Temer
Braga Netto tem 66 anos e teve sua primeira ascensão política em 2018, quando foi escolhido pelo então presidente Michel Temer (MDB) como interventor na segurança pública no estado do Rio de Janeiro. O trabalho lhe rendeu a indicação em 2019, já no governo Bolsonaro, para ocupar o posto de chefe do Estado-Maior do Exército.
Já em 2020, o militar acabou sendo transferido para a reserva, pois recebeu o convite de Bolsonaro para assumir o comando da Casa Civil do governo federal. Na época, o presidente afirmou que Braga Netto era “cotado para qualquer coisa”.
“O Braga Netto eu conheço há algum tempo, me dou muito bem com ele, ganhou uma projeção muito grande em uma situação complicadíssima daquela intervenção da segurança do Rio de Janeiro, está certo? É um homem cotado para qualquer coisa”, disse Bolsonaro.
Na Casa Civil, Braga Netto assumiu a articulação do governo junto ao Congresso Nacional e acabou se aproximando ainda mais de Bolsonaro. Os mais próximos do ministro apontam que ele tem “competências e atributos” que o tornaram uma opção de apoio ao presidente na corrida à reeleição.
Apontado como linha-dura pelos integrantes do governo, o ministro foi responsável, por exemplo, por transferir as coletivas sobre a pandemia de Covid-19 do Ministério da Saúde para o Palácio do Planalto em 2020. À época, o então ministro Luiz Henrique Mandetta e o presidente Bolsonaro divergiam sobre as regras de isolamento social.
O general deixou o comando da Casa Civil para assumir a Defesa após a demissão do ocupante do cargo até então, o general Fernando Azevedo e Silva, em março de 2021. O episódio foi seguido pela saída dos três comandantes das Forças Armadas em protesto.
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