No prédio onde funcionava uma biblioteca no centro de Lviv, cidade no oeste da Ucrânia, cerca de 200 voluntários civis se revezam em turnos para cortar roupas e tecidos em tiras e, com esse material, produzir redes de camuflagem. Elas estão sendo usadas por militares ucranianos na linha de frente para esconder as posições de atiradores, acampamentos e blindados.
Essa é uma das atividades da resistência ucraniana, que também organiza centros de coleta e distribuição de alimentos e roupas, doações de sangue para feridos e produção de bombas incendiárias caseiras.
“Essas pessoas que trabalham nesses locais são voluntários que querem ajudar de alguma forma. Alguns vêm de manhã e trabalham até de tarde, outros vêm depois do almoço e ficam até de noite. Já outros, como eu, chegam de manhã e só vão embora de noite. São pessoas de Lviv e também gente que teve que deixar suas casas por causa dos bombardeios” disse Ihor Harmsh, que deixou para trás sua casa em Kiev e hoje ajuda a coordenar um centro de produção de redes de camuflagem.
Olga Buchynska é uma dessas voluntárias. A empresa de tecnologia da informação onde ela trabalha suspendeu as atividades por causa da guerra. Ela então decidiu usar seu tempo para se juntar à resistência ucraniana. “Eu me sinto parte da nação ucraniana e da resistência. Espero que todos os cidadãos ucranianos se sintam como eu”, disse ela.
Após passar o dia ajudando a produzir redes de camuflagem, ela volta para casa para travar uma “guerra de internet”. “Nós mandamos as informações reais sobre o que está acontecendo para milhares de e-mails de cidadãos russos, porque o governo deles impede que tenham acesso às informações”, afirmou.
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A cerca de um quilômetro da biblioteca onde as redes são produzidas, outros membros da resistência organizam no edifício do Palácio das Artes, um dos museus da capital cultural da Ucrânia, um centro de distribuição de alimentos.
Lá são recebidas doações de comida, produtos de higiene e roupas. Elas começaram a ser enviadas por moradores e pequenos comércios e agora chegam de caminhão vindas de outros países, afirmou Yuri Popovich, um dos coordenadores do centro.
Mas os preparativos de guerra estão atrasados. Desde 2014 até o início da guerra, em 24 de fevereiro, membros das forças especiais americanas e britânicas operaram em solo ucraniano. O papel deles era ensinar os militares do país a organizar suas defesas e montar uma guerra de resistência a uma eventual invasão russa.
Para fazer isso, teria sido necessário esconder armas em regiões estratégicas, organizar centros de recrutamento de civis, locais de armazenamento de água e alimentos, estabelecer rotas de fuga para refugiados. Porém, tudo indica que esse trabalho só começou a ser feito após os primeiros mísseis russos começarem a atingir as maiores cidades ucranianas, há duas semanas.
As medidas de resistência estão se baseando muito na boa vontade dos voluntários e estão sendo implementadas às pressas.
Mas isso não quer dizer necessariamente que o governo não se preparou. As forças armadas do país têm recebido muito investimento desde que rebeldes russos tomaram em 2014 parte das províncias de Lugansk e Donetsk, no leste do país.
A preparação de voluntários para a guerra irregular, ou de guerrilha, gera dificuldades para a força invasora e aumenta o moral das tropas profissionais. Mas não tem a capacidade de mudar o equilíbrio de forças.
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