O Republicanos, partido que apoia o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) desde o início do mandato, nos últimos dias tem dado mostras públicas de insatisfação. A tendência, porém, não é de rompimento definitivo entre os dois lados.
A principal queixa foi exposta pelo presidente da legenda, o deputado federal Marcos Pereira (SP). Em entrevista à Folha de S. Paulo, o parlamentar disse que Bolsonaro “só atrapalhou” o crescimento do partido. Pereira afirmou que tinha a expectativa de que o Republicanos crescesse mais no período atual, principalmente por causa da janela de troca de partidos sem o risco de perda do mandato, que será aberta em breve e permitirá a deputados com mandato mudarem de legenda. Mas, segundo ele, Bolsonaro tem estimulado o crescimento apenas de seu próprio partido, o PL, sem privilegiar o desenvolvimento de aliados.
Pouco depois da reclamação de Pereira, na quinta-feira (23), o Republicanos confirmou que o vice-presidente, Hamilton Mourão, integrará o partido. Trazer o vice, em tese, deveria ampliar a proximidade entre Bolsonaro e o Republicanos. Mas Mourão e o presidente tiveram desentendimentos desde o início do mandato. E, na própria quinta-feira (23), outro capítulo do descompasso foi registrado, quando o vice-presidente criticou a invasão da Ucrânia pela Rússia – em resposta, Bolsonaro declarou que compete apenas ao presidente a emissão de opiniões sobre a política externa.
Rumo ao PL, deputado nega pressão de Bolsonaro
O deputado Capitão Alberto Neto (AM) é, de certo modo, um exemplo das reclamações de Marcos Pereira. Ele é filiado ao Republicanos, mas está de partida para o PL, o partido de Bolsonaro.
Neto descarta, entretanto, que sua mudança partidária seja reflexo de uma pressão de Bolsonaro para crescer o próprio partido. “Ao menos no meu caso, isso não existe. O presidente nem sabe que estou indo para o PL”, alega o parlamentar.
Neto atribui a questões locais o fator principal para sua decisão. Até pouco tempo, o PL do Amazonas tinha como principal figura o vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos. Ele, porém, deixou o partido justamente por discordar de Bolsonaro, e migrou para o PSD. Isso, somado a uma concorrência já existente dentro do Republicanos local, motivou a decisão de Neto de mudar de sigla. “Eu vou apoiar Bolsonaro em qualquer partido”, ressalta.
E o deputado, mesmo de saída do Republicanos, vê o partido como “muito alinhado” a Bolsonaro. “É um partido com uma grande sintonia, e tem o ministro João Roma, que comanda um ministério importante”, declarou. Roma é o titular do Ministério da Cidadania. Ele está na função desde fevereiro do ano passado. Sua chegada ao governo Bolsonaro levou ao rompimento entre ele e o ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil). Roma e ACM Neto eram parceiros políticos e o ex-prefeito não deseja o apoio ao presidente.
Republicanos tem porte médio no Congresso
O Republicanos tem apenas um senador, Mecias de Jesus (RR). Na Câmara, detém a sétima maior bancada, com 31 deputados. É também da legenda o ministro da Cidadania, João Roma, que é deputado federal licenciado pela Bahia.
O partido é historicamente vinculado à Igreja Universal do Reino de Deus. Hoje em dia, a agremiação nega a relação direta com a igreja e alega que tem membros de diferentes correntes religiosas nos seus quadros. A abordagem que melhor explica o relacionamento atual entre Republicanos e Igreja Universal é: um integrante do Republicanos não necessariamente é da Universal; mas um membro da Universal que queira participar da política muito provavelmente estará no Republicanos.
Bispo licenciado da Universal, o deputado federal Aroldo Martins (PR) define o Republicanos como “o partido mais conservador” do Congresso. E essa identidade, segundo ele, pode ser um componente para atrair integrantes ao partido. Martins evita apontar um número de deputados que pode chegar à legenda na janela partidária, mas espera um fortalecimento significativo da bancada.
O deputado vê como precoce uma definição taxativa sobre o apoio a Bolsonaro nas eleições de outubro. Martins, porém, não atribui tanto peso ao posicionamento de Bolsonaro, que acabou depois sendo contestado por Marcos Pereira. “O presidente às vezes têm posições que são um pouco truculentas. E pode atrapalhar as conversas”, disse.
Tarcísio de Freitas pode ingressar no partido
Em São Paulo, o Republicanos espera contar com uma adesão de peso: o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, que é pré-candidato ao governo paulista. Freitas ainda não está filiado a nenhum partido. Ele, que é carioca e mora em Brasília, transferiu recentemente seu domicílio eleitoral a São José dos Campos, cidade do interior paulista.
Freitas fez mais de uma reunião recente com membros do Republicanos em São Paulo. Um dos encontros foi com Marcos Pereira. Em outro, o ministro visitou o diretório da legenda em São José do Rio Preto. A aproximação de Freitas com o Republicanos pode quebrar o provável apoio que a sigla concederia ao vice-governador Rodrigo Garcia (PSDB), também pré-candidato ao governo local.
Existe também a possibilidade de Freitas não se filiar ao Republicanos, mas de ao menos assegurar a participação do partido em sua chapa. O jornalista José Luiz Datena foi convidado para ser o candidato do Republicanos ao Senado.
Um nome do campo da direita que já chegou ao partido é o do deputado estadual Douglas Garcia. Ele é um dos principais defensores de Bolsonaro na Assembleia paulista e, antes de ir ao Republicanos, estava no PTB – sigla que busca se consolidar no campo conservador, mas sofre com disputas internos.
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