Com Alckmin, Lula busca se posicionar no centro e esvaziar terceira via

Alvo de críticas de adversários e também de simpatizantes dos dois líderes políticos, a cogitada aliança entre o ex-presidente Lula e o ex-governador Geraldo Alckmin tem um objetivo claro: derrubar resistências de setores à direita ao petista, atrair eleitores de centro e, com isso, esvaziar candidaturas que hoje se apresentam como “terceira via”.

Nas contas de muitos articuladores, a possível chapa Lula-Alckmin poderia enterrar as candidaturas de Sergio Moro, Ciro Gomes e João Doria.

Críticos da aproximação do ex-líder tucano com o rival petista, de um lado, argumentam que Lula não tem nada a ganhar com a aliança, pois Alckmin perdeu força eleitoral, tanto que em 2018 ele obteve apenas 4,76 % dos votos para presidente da República. O resultado foi um vexame para o PSDB, nunca registrado desde a primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso, em 1994.

De outro lado, há quem considere a aliança com potencial de descaracterizar um futuro governo de centro-esquerda, além do temor da repetição do que aconteceu com Dilma Rousseff e seu vice, Michel Temer, na crise política que desembocou no impeachment da presidenta. Para esses. Alckmin sempre esteve na oposição ao PT e não terá como explicar seus ataques aos governos petistas.

Para defensores da aliança, o ex-governador tucano, além de ter um forte apoio no estado com maior eleitorado do país, São Paulo, tem também proximidade com setores hoje resistentes à candidatura Lula, como o agronegócio e o mercado financeiro.

Alckmin mantém ainda uma base forte de apoio no interior paulista, onde o PSDB, partido que o ex-governador liderou até bem pouco tempo, conquistou 172 prefeituras. Uma aliança Lula-Alckmin poderia contar com o apoio de grande parte dos tucanos em um eventual segundo turno.

Um dos sinais claros de que a ‘costura política’ está sendo feita com habilidade veio a público na última quinta-feira (03), por meio de uma publicação do ex-governador tucano nas redes sociais.  Alckmin postou um vídeo no qual ele está em um sítio capinando.

A publicação aconteceu após Lula ter sinalizado que o ex-governador, além de vice, deverá cuidar do setor agropecuário, podendo até assumir o Ministério da Agricultura.

O ex-presidente tenta convencer os opositores à aliança de que Alckmin reúne requisitos que serão necessários para enfrentar uma eleição difícil. O que muitos aliados à esquerda vêem como defeito do ex-governador tucano, Lula vê como fator positivo para a aliança. Um exemplo é o fato de Alckmin ser considerado mais conservador que tucanos históricos, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e os ex-governadores José Serra, Franco Montoro, Mário Covas e José Richa. Para Lula, isso faz com que sua candidatura vença resistência de setores mais conservadores do eleitorado.

A aliança depende da solução de impasses regionais, especialmente o PSB, partido ao qual Lula gostaria que Alckmin se filiasse, e o PSD, de Gilberto Kassab. Alckmin já tem portas abertas no Solidariedade e no PV, partidos de menor representação.

Enquanto não sai uma definição, aliados de Lula simpatizantes à formação da chapa com o ex-governador tucano dizem que a aliança está sacramentada. A decisão só depende do ex-presidente, que já demonstrou ser a sua preferência: “Espero que o Alckmin escolha o partido político adequado, que faça aliança com o PT, espero que o PT compreenda a necessidade de se fazer aliança”, declarou o petista em entrevista à CBN do Vale do Paraíba, em 26 e janeiro.

Lula e José de Alencar

Lula com o vice-presidente José Alencar| Ricardo Stuckert/PR

Caso a cogitada aliança seja consolidada, o que pode ocorrer entre março e abril, não será a primeira vez que Lula terá um candidato a vice com perfil conservador e de centro-direita. Em seus dois mandatos na Presidência da República, o petista teve como vice o empresário José de Alencar, fundador da Companhia de Tecidos Norte de Minas (Coteminas), megaempresa do ramo têxtil.

Senador por Minas Gerais de 1999 a 2002, Alencar foi filiado ao PMDB, ao Partido Liberal (PL) e ao PRB. Presidiu a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG) e foi vice-presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Com trânsito livre no meio empresarial de todo o país, Alencar desempenhou papel fundamental para Lula chegar à presidência em 2002, após três derrotas consecutivas.

Confira a matéria na Gazeta do Povo

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