Qual o papel de José Dirceu, condenado por corrupção, na campanha de Lula em 2022

Afastado dos holofotes desde as condenações no mensalão e na Lava Jato, o ex-ministro José Dirceu tem trabalhado nos bastidores para recuperar seu capital político. Ex-chefe da Casa Civil no primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Dirceu tem mantido encontros com lideranças políticas, apesar de negar qualquer participação em um eventual governo petista. “Primeiro, Lula nunca indicou ou permitiu discussão antes de vencer as eleições. Segundo, não tenho a intenção e não vou ocupar cargos caso ele seja eleito, o que acredito que será”, afirmou Dirceu ao jornal O Globo.

Nos bastidores, integrantes do PT admitem que Dirceu ampliou a sua circulação política e tem conversado com diferentes lideranças de diferentes partidos políticos nos últimos meses, mas não em nome da campanha de Lula ou em nome da sigla. Apesar da ausência no cenário políticos mais recente, líderes petistas sinalizam que o ex-ministro sempre se manteve ativo nas discussões eleitorais dos últimos anos.

Publicamente, Dirceu afirma que está focado em reverter suas condenações, principalmente na Lava Jato. Em 2016, no âmbito da Lava Jato, o ex-ministro foi condenado a mais de 30 anos de prisão por corrupção, recebimento de vantagem indevida e lavagem de dinheiro pelo então juiz Sergio Moro, hoje pré-candidato a presidente da República. Antes disso, em 2012, Dirceu já havia sido condenado por corrupção no processo do mensalão.

Lula nega volta de Dirceu e de outros membros do PT

Parlamentares do PT admitem que José Dirceu tem feito visitas a deputados e senadores para falar sobre política. No entanto, negam que o ex-ministro esteja atuando a pedido de Lula ou da cúpula do partido.

“Ele foi ministro da Casa Civil e conhece muita gente no meio político. Mesmo nos últimos anos, ele se manteve na vida política conversando e dialogando sobre o futuro do Brasil. Ele não tem cargo e nem acredito que terá, mas sempre foi um militante ativo. Então, é natural ele conversar e se movimentar politicamente”, argumentou um integrante da bancada petista.

A movimentação do ex-ministro já provocou reações por parte da cúpula do PT e do ex-presidente Lula. Em uma visão pragmática, petistas acreditam que nomes como o de Dirceu, do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega e até da ex-presidente Dilma Rousseff podem desgastar a candidatura de Lula ao Palácio do Planalto.

“O tempo passou, tem muita gente nova no pedaço e eu pretendo montar o governo com muita gente nova, muita gente importante e com muita experiência também”, disse Lula em entrevista à rádio CBN Vale do Paraíba.

Ex-ministro fez peregrinação em diversos estados do país 

Mesmo alegando não falar em nome de Lula ou do PT, José Dirceu já rodou, desde o ano passado, ao menos 10 estados conversando sobre o cenário eleitoral do Brasil para este ano. “Não falo em nome do Lula, nem do PT”, alegou o ex-ministro nas redes sociais no ano passado, depois de ter sido apontado como articulador de Lula junto ao prefeito do Recife, João Campos (PSB).

Para integrantes do PT, a movimentação de Dirceu pode ser uma forma dele se colocar no mercado e eventualmente discutir atuação em consultorias ou negociação de palestras. No ano passado, por exemplo, o ex-ministro aproveitou os atos contra o presidente Jair Bolsonaro (PL), em São Paulo, para se reunir com integrantes da Força Sindical e mais recentemente esteve com o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), durante suas férias na Paraíba.

“Conversei com ele. Falamos vários assuntos e temas diversos. Obviamente, incluindo apreciações e abordagens nacionais e em nível estadual. Foi muito tranquilo”, admitiu o senador emedebista.

Para integrantes do PT, Dirceu sabe que uma foto ao lado de Lula, ao menos até a eleição, pode não ser eleitoralmente compreendida. “Vejo ele fazendo muito mais a atividade de lobby, do que de articulador da campanha do Lula. Até o momento não encontrei ele em nenhum encontro para discussão dos planos eleitorais do PT”, argumentou outro integrante da bancada petista.

Recentemente, em artigo publicado no site do PT, Dirceu afirmou que a “direita não bolsonarista” não tem líderes e o momento atual exige que a esquerda se organize para voltar ao poder. “Temos que aproveitar esse cenário para nos fortalecer, ampliar nossa união em torno de um programa de reformas estruturantes da sociedade brasileira que tenham o mais pobre em seu centro”, defendeu.VEJA TAMBÉM:

Quem é José Dirceu, ex-homem forte do PT

Ex-presidente do Partidos dos Trabalhadores entre 1995 e 2002, José Dirceu foi deputado federal por três mandatos e ministro-chefe da Casa Civil do primeiro governo do ex-presidente Lula entre 2003 e 2005. A pasta é a principal responsável pela articulação política entre o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional.

Dirceu deixou a Casa Civil depois de ser acusado pelo então deputado Roberto Jeferson (PTB) de ser o mentor do escândalo do mensalão. Em dezembro de 2005 teve o mandato de deputado federal cassado por quebra de decoro parlamentar.

Em 2012, foi condenado a 7 anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF), pelo crime de corrupção ativa no mensalão. Ele chegou a ser preso para cumpriu a pena. Mas, em 2016, teve a pena extinta por um decreto presidencial de indulto natalino.

Um ano depois, Dirceu foi novamente condenado, desta vez na Operação Lava Jato, a 23 anos e três meses de prisão por crimes de corrupção passiva, recebimento de vantagem indevida e lavagem de dinheiro. Em março de 2017, voltou a ser condenado a mais 11 anos e três meses pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. As penas somadas, no âmbito da Lava Jato, chegam a quase 40 anos.

Apesar da condenação, Dirceu foi beneficiado por um habeas corpus concedido pelo STF. A Corte entendeu que o ex-ministro pode responder ao processo em liberdade por haver chances de sua pena ser reduzida nos tribunais superiores. Dirceu sempre negou as acusações e desde então a defesa recorre das sentenças junto ao Superior Tribunal de Justiça (STJ).

No começo deste ano, o STJ, negou uma liminar em que a defesa de Dirceu pleiteava a extinção de um dos processos que correm contra o ex-ministro na Corte. O caso agora será analisado, ainda sem data prevista, pelo colegiado da Quinta Turma do STJ.

Atualmente o ex-ministro está enquadrado na Lei da Ficha Limpa e teve os seus direitos políticos cassados. Por isso, não pode concorrer em eleições.

Confira a matéria na Gazeta do Povo

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