Como o Spotify virou palco de uma briga por liberdade de expressão que não para de crescer

Plataforma de streaming de música e podcasts mais utilizada do mundo, o Spotify se vê no centro de um debate sobre liberdade de expressão desde o final de janeiro, quando o cantor canadense Neil Young exigiu que a empresa sueca escolhesse entre manter no aplicativo suas músicas ou o programa The Joe Rogan Experience.

Trata-se do podcast mais popular nos Estados Unidos, transmitido exclusivamente na plataforma digital, após a empresa ter assinado um contrato de US$ 100 milhões com o criador em 2020.

Young argumentou que o programa espalha desinformação sobre a Covid-19, o que já havia sido alegado por 270 médicos e cientistas americanos que enviaram uma carta ao Spotify semanas atrás, citando que o podcast promoveria teorias de conspiração sobre o coronavírus e a não vacinação.

Por fim, a empresa sueca ficou ao lado de Rogan e excluiu as músicas de Young, ao mesmo tempo em que outros músicos, como a também canadense Joni Mitchell, anunciaram que retirariam suas obras do Spotify em protesto contra o podcast.

No domingo (30), o Spotify anunciou que incluiria um aviso de conteúdo sobre “qualquer episódio de podcast que inclua uma discussão sobre a Covid-19”, mas não se mostrou disposto a romper o contrato com Rogan, apesar das pressões nesse sentido.

O novo aviso, de acordo com o Spotify, dirigirá os ouvintes a um “núcleo Covid-19”, para que possam ter acesso a “informação atualizada e orientada para os dados compartilhados por cientistas, médicos, pesquisadores e autoridades de saúde pública de todo o mundo, assim como links para fontes confiáveis”.

O debate chegou até mesmo à Casa Branca, cuja porta-voz, Jen Psaki, cobrou na terça-feira (1º) medidas adicionais de todos os aplicativos.

“O aviso (que o Spotify vai incluir) é um passo positivo, mas queremos que todas as plataformas continuem fazendo mais para denunciar a desinformação e a manipulação de informação, enquanto promovem a informação precisa”, disse Psaki em entrevista coletiva.

Psaki afirmou que há “16 vezes mais chances de ser hospitalizado se não tiver sido vacinado” contra a Covid-19, e “68 vezes mais probabilidades de morrer do que uma pessoa que tenha recebido uma terceira dose”.

“Isso é bastante significativo, e pensamos que é algo que deve certamente ser a base da forma como as pessoas se comunicam sobre esta questão”, acrescentou.

O príncipe Harry e sua esposa, Meghan Markle, por meio de um porta-voz da sua fundação, Archewell, afirmaram nesta semana que já haviam manifestado “preocupações aos nossos parceiros no Spotify sobre as consequências muito reais da desinformação sobre Covid-19 em sua plataforma”, e cobraram ações para “garantir que mudanças em sua plataforma sejam feitas para ajudar a lidar com essa crise de saúde pública”.

A declaração do casal, que tem um contrato milionário para produção de podcasts para o Spotify, não mencionou especificamente o programa de Rogan.

O Spotify chegou a perder US$ 2,1 bilhões em valor de mercado após o ultimato de Neil Young, mas analistas destacaram que o preço das ações da empresa já vinha em queda, acumulando redução de 25% antes da retirada das músicas do cantor canadense, diante do receio dos investidores de que o crescimento da plataforma pode estar desacelerando.

Para pesquisadora, esquerda quer silenciar “alegações contrárias”

O próprio Joe Rogan divulgou um vídeo em que defendeu os convidados do seu programa e apontou que vai buscar aumentar o escopo dos entrevistados do podcast para trazer mais pontos de vista diferentes.

“Sabe, eu mesmo faço toda a programação e nem sempre acerto. Esses podcasts são muito estranhos, porque são apenas conversas. E, muitas vezes, não tenho ideia do que vou falar até sentar e conversar com as pessoas”, relatou.

“É por isso que algumas das minhas ideias não são tão preparadas ou concretas, porque eu as formulo literalmente em tempo real. Mas eu faço o meu melhor e são apenas conversas, e acho que esse também é o apelo do podcast. É uma das coisas que o tornam interessante”, acrescentou.

Para Alexandra De Sanctis, pesquisadora do Ethics and Public Policy Center, o caso revela como progressistas não consideram que consumidores de conteúdo têm capacidade de filtrar informações e tirar conclusões próprias.

“Graças a essa opinião insultantemente desfavorável que eles têm sobre o americano médio, os esquerdistas querem silenciar Rogan não porque suas opiniões sejam inquestionavelmente erradas ou objetivamente perigosas, mas porque querem que suas ideias reinem supremas, e a maneira mais fácil de fazer isso é silenciar alegações contrárias”, escreveu, em artigo publicado pelo National Review.

“Se as massas estúpidas tiverem acesso às ideias heterodoxas disponíveis no podcast de Rogan, autoridades de saúde pública e especialistas loucos por Covid-19 terão menos poder sobre as crenças de seus ouvintes e menos influência sobre seu comportamento”, complementou a pesquisadora.

Na noite desta quarta-feira (2), o presidente Jair Bolsonaro publicou no Twitter uma mensagem de apoio a Rogan em inglês.

“Não sei o que Joe Rogan pensa sobre mim ou meu governo, mas não importa. Se liberdade de expressão significa alguma coisa, significa que as pessoas devem ser livres para dizer o que pensam, não importa se concordam ou discordam de nós. Mantenha-se firme! Abraços do Brasil”, escreveu.

Confira a matéria na Gazeta do Povo

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