Fiasco das prévias expõe tentativa da cúpula do PSDB de derrotar Doria

O suposto defeito do aplicativo de votação nas prévias do PSDB tem sido recebido por militantes tucanos como sinal de “armação” contra a candidatura de Arthur Virgílio, ex-prefeito de Manaus, e principalmente contra João Doria, governador de São Paulo, e favorito no chamado “grupo 1”, do eleitorado formado por filiados ao partido em todo o País.

“Vergonhoso” e “casuísmo” foram expressões muito utilizadas nas prévias deste domingo, e quase todos os críticos acusam a atual direção nacional de agir para reduzir as chances da candidatura de João Doria, maior prejudicado com o suposto defeito do aplicativo.

O aplicativo foi elaborado, curiosamente, por uma fundação sediada em Pelotas (RS), cidade do pré-candidato Eduardo Leite, onde ele foi prefeito antes de ser eleito governador do Rio Grande do Sul.

Obra de amadores, segundo quem entende do assunto, o aplicativo custou R$1,5 milhão. A informação sobre o custo da inutilidade foi do desconfiadíssimo Arthur Virgílio, neste domingo. Esse serviço foi pago com recursos público do fundo partidário, tomados do pagador de impostos. Apesar de custar tão caro, não funcionou, impedindo a votação dos quase 40 mil filiados que se cadastraram para votar.

Já no meio da tarde, às 15h15, João Doria publicou post (à esq.)revelador de preocupação com a falta de lisura na disputa.

“Estamos a caminho, Arthur Virgílio e eu, da sede do PSDB para reunião com Bruno Araújo”, escreveu o governador de São Paulo, referindo-se ao presidente tucano.

“Nossa posição é clara”, continuou. “Queremos prévias, lisura e que todos os filiados cadastrados tenham direito garantido ao voto”.

Armação ilimitada

As prévias indicavam problemas a partir das escolhas do presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, partidário da candidatura de Eduardo Leite, de dois tucanos conhecidos pela posição de hostilidade a João Doria, para comandar aquilo que acabaria em fiasco, neste domingo.

O senador José Aníbal (SP) foi designado presidente da Comissão de Prévias e para sua coordenação nomeou o ex-deputado federal Marcus Pestana (MG), homem de confiança de Aécio Neves, um dos seus coordenadores da pré-campanha do governador gaúcho e conhecido adversário do governador de São Paulo.

Não deu outra: 24 horas antes de começar as prévias, ainda no sábado (20), Aníbal e Pestana declararam apoio a Eduardo Leite. A reação foi de perplexidade.

– “Impressionante. As raposas estavam dentro do galinheiro. O presidente e o coordenador. É como se o presidente do TSE, um dia antes da eleição, declarasse voto em um dos candidatos”, afirmou Wilson Pedroso, coordenador da campanha de Doria nas prévias.

Mudança de regras

A direção nacional do PSDB somente conseguiu estimular o cadastramento de cerca de 40 mil dos 1,3 milhão de filiados em todo o País para adquirir o direito de votar por um aplicativo confuso, com formulário de difícil preenchimento, que exigia duas fotos do filiado. Não por acaso, o aplicativo desestimulava cadastramento dos eleitores que majoritariamente preferem Doria, de acordo com as pesquisas.

Além do aplicativo, a direção do PSDB alterou as regras do jogo para atribuir peso maior aos votos da chamada “cúpula do PSDB”, composta por seus dirigentes, ex-dirigentes, parlamentares no exercício do mandato e ex-governadores, ex-vice-governadores e ex-presidente etc. É que estão concentrados nessa elite tucana a maior resistência à escolha de João Doria.

A mesma casta dirigente do PSDB tentou impedir suas candidaturas a prefeito de São Paulo, em 2016, e a governador do Estado de São Paulo dois anos depois. Em ambas as oportunidades, a cúpula tucana se utilizou de prévia para tentar barrar Doria e impor seus candidatos.

O que se transformou em fiasco, neste domingo, é a terceira tentativa da elite tucana de impedir uma candidatura de Doria, desta vez a presidente da República.

Confira a matéria no Diário do Poder

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