A suspensão da cerimônia de filiação do presidente Jair Bolsonaro ao Partido Liberal (PL) em 22 de novembro já é vista como uma “página virada” na sigla. Dirigentes e lideranças da legenda tratam o assunto como pacificado, incluindo em São Paulo, um dos “estados-pivô” que motivou a suspensão da data de filiação no fim de semana.
O presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, inclusive confirmou para esta quarta-feira (17), em Brasília, às 15 horas, uma reunião pré-agendada há algumas semanas com presidentes dos diretórios estaduais. A filiação de Bolsonaro estará na pauta, embora não seja o único item da agenda.
O deputado Giacobo (PL-PR), presidente do diretório paranaense da sigla, afirma que o encontro deve sacramentar a posição favorável do partido pelo ingresso de Bolsonaro ao partido. “É claro que [a filiação] vai entrar em pauta, não há dúvida. E da maneira que vai entrar, eu garanto e posso afiançar que, por unanimidade, todo mundo vai falar que não tem crise nenhuma dentro do partido [em relação ao presidente], muito menos em São Paulo”, disse à Gazeta do Povo.
O parlamentar nega, inclusive, que Bolsonaro e Costa Neto tenham trocado ofensas por mensagens de celular no fim de semana, como chegou a ser noticiado. “Isso é uma mentira deslavada, posso afiançar que [eles] estão de bem, não houve nada. O que houve — e isso é normal — é o presidente ter indagado [Valdemar] sobre um colégio eleitoral, como São Paulo, e os dois terem concordado que esse é o tipo de conversa que não dá para resolver a distância”, afirmou Giacobo.
O que explica o impasse sobre a suspensão da data de filiação de Bolsonaro
O principal impasse sobre a filiação de Bolsonaro ao PL reside, de fato, em São Paulo. Mesmo Pernambuco, outro estado apontado como “pivô” das divergências, está superado. “O PL em Pernambuco é Bolsonaro ‘doente’. O presidente do partido lá é o prefeito de Jaboatão [dos Guararapes], Anderson [Ferreira]. Ele e o irmão [o deputado federal André Ferreira, do PSC, líder do governo na Câmara] são ‘bolsonaristas doentes”, disse Giacobo.
A informação ventilada nos bastidores apontava que Bolsonaro havia pedido o comando do diretório estadual pernambucano para o ministro do Turismo, Gilson Machado. O PL divulgou nota na última semana dando autonomia para o diretório estadual construir os palanques para 2022. A costura que se traça é que o ministro possa vir a ser candidato ao Senado enquanto o prefeito de Jaboatão tentará o governo estadual.
Giacobo assegurou, inclusive, que o presidente da República não pediu o comando de nenhum diretório estadual para aliados. “Conversei com o Bolsonaro na quarta-feira (10) e ele só pediu para ter palanque nos estados, que é o que ele mesmo falou. Palanque de governadores onde puder ter governador sem aliança com a esquerda. Pernambuco já está resolvido. E em São Paulo, por parte do PL, não tem problema algum”, afirmou.
Em São Paulo, Bolsonaro publicamente demonstrou sua oposição ao acordo que o PL atualmente tem em apoiar a candidatura do atual vice-governador, Rodrigo Garcia (PSDB), aliado do governador João Doria. “Talvez o Tarcísio [de Freitas, ministro da Infraestrutura] aceite esse desafio. Seria muito bom para São Paulo e para o Brasil”, disse o presidente da República, sobre a possibilidade de o ministro se candidatar ao Palácio dos Bandeirantes.
O presidente do diretório paranaense do PL reafirma que o partido não faz objeção a Bolsonaro, mas pondera que o próprio Tarcísio precisa demonstrar sua vontade em concorrer a um cargo eletivo. “Não tem obstáculos nesse sentido. Conversando, se resolve. Se precisar botar o Tarcísio de candidato do governo [de São Paulo], vamos atendê-lo, se for da vontade dele”, sustentou Giacobo.
Uma liderança do PL com conhecimento sobre as negociações entre Bolsonaro e Costa Neto confirma que o presidente da legenda aceitou abrir mão de manter o apoio à chapa tucana em São Paulo, mas afirma que Bolsonaro não aprofundou suas demandas na última conversa entre ambos, na quinta-feira (11).
“O grande problema é que, na conversa, o presidente [Bolsonaro] passou superficialmente por tudo e não tratou deste assunto [São Paulo] especificamente. Chegaram até ali estado por estado, ponto por ponto sendo tratados. Conversaram até sobre a possibilidade do Tarcísio ser senador por Goiás, a possibilidade do [deputado] Marcelo [Álvaro Antônio, ex-ministro do Turismo] ser senador por Minas Gerais. Mas quando chegou em São Paulo, não foi aprofundado o assunto. Parecia estar tudo resolvido”, afirma.
Expectativa é de que nova reunião entre Bolsonaro e Valdemar sele entrada no PL
Nos bastidores, comenta-se que, além de o PL não apoiar a chapa tucana em São Paulo, Bolsonaro também pediu espaços no diretório estadual ao deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). O diretório é chefiado por Valdemar Costa Neto, que não vai entregar o comando do diretório, mas se dispôs a dialogar tão logo Bolsonaro retorne da viagem feita ao Oriente Médio.
Bolsonaro viajou na sexta-feira (12) para uma viagem pelos Emirados Árabes, entre 13 e 16 de novembro, Bahrein, entre 16 e 17, e Catar, entre 17 e 18. Com o retorno do presidente da República previsto para o sábado (19), é esperada uma conversa entre ele e Costa Neto para aprofundar as negociações envolvendo São Paulo.
Uma liderança do PL explica que o partido tem historicamente uma relação “muito forte” com o PSDB e admite que, com a construção dessas alianças, deputados estaduais e prefeitos filiados ao partido podem perder seus apadrinhados no governo de João Doria (PSDB). Ou seja, o abandono à chapa tucana traz ônus políticos ao partido no estado.
“Tem muitas alianças que foram feitas e precisam ser paulatinamente desfeitas, mas isso precisa ser feito com prazos e garantias. O presidente [Bolsonaro] precisa entender que não pode chegar de uma vez e romper tudo, é delicado. Imagina o prejuízo para um deputado, prefeito de grande cidade perder uma referência do governo [estadual]? Mas isso vai acontecer, Valdemar já deu a garantia, o presidente não precisa ter esse receio [sobre o diretório paulista]”, disse a fonte do PL.
A boa relação que Valdemar e Bolsonaro tem mantido leva Giacobo a não descartar que o partido mantenha a data de filiação de Bolsonaro em 22 de novembro. “Tão logo chegue de viagem, em meia hora de conversa eles resolvem isso. Tem que concordar que não dá, por telefone ou mensagem, alguém do Brasil e alguém do Dubai acertarem tudo”, destacou.
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