Bolsonaro ou Lula? Como estão as articulações dos presidenciáveis no Nordeste

O Nordeste brasileiro, segundo maior colégio eleitoral do país dentre as regiões, é um dos pontos mais quentes da disputa presidencial a um ano das eleições. Dois dos principais pré-candidatos, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) estão mais presentes na região, seja com o objetivo de aumentar popularidade — como é o caso do chefe do Executivo, que perdeu no Nordeste para o petista Fernando Haddad nas eleições de 2018 — ou de articular parcerias com antigos aliados — como fez Lula em viagem a alguns estados da região em setembro.

Ainda há poucas certezas sobre as disputas do ano que vem, ao passo que as candidaturas aos governos estaduais ainda estão sendo debatidas e, em alguns casos, ainda longe de serem definidas. Contudo, algumas movimentações de líderes políticos já podem indicar para onde vão balançar seus apoios nas eleições presidenciais do ano que vem.

Bolsonaro tem aliados importantes no Piauí, Rio Grande do Norte, Alagoas e Ceará. Lula, por sua vez, tem palanques garantidos no Rio Grande do Norte, Bahia, Pernambuco, Sergipe e, talvez, tenha até dois no Maranhão. Confira a seguir um levantamento sobre como estão se desenhando os cenários nos estados do Nordeste para os dois principais pré-candidatos.VEJA TAMBÉM:

Alagoas: Renan Calheiros e Arthur Lira dividem forças

O MDB caminha, mais uma vez, para ser um importante aliado de Lula no estado de Alagoas, caso a legenda não apresente um candidato próprio nas eleições presidenciais do ano que vem.

O senador Renan Calheiros (MDB) e o governador do estado, Renan Filho (MDB), são dois pontos de contato entre o MDB de Alagoas e a candidatura do petista. Em agosto, o filho de Calheiros postou em suas redes sociais uma foto abraçando Lula, dizendo que estava “feliz ao perceber que o ex- presidente Lula entende que o desenvolvimento do país passa pelo Nordeste e, para o Nordeste se desenvolver, a gente precisa, sobretudo, garantir mais oportunidades aos mais pobres, investimentos na educação, o fortalecimento da indústria e do turismo regional”.

Outro emedebista que está se aproximando do PT é o deputado federal Isnaldo Bulhões. Ele participou, no começo de outubro, de um jantar com Lula, promovido pelo ex-senador Eunício Oliveira, presidente do diretório do MDB no Ceará. Calheiros foi convidado, mas declinou por causa dos trabalhos da CPI da Covid-19.

O MDB se mostra especialmente importante na articulação política por causa de sua capilaridade no estado. Nas eleições de 2020, perdeu a prefeitura de Maceió, mas elegeu o maior número de prefeitos: 37, de um total de 102 prefeituras. O partido também obteve 23,4% dos votos para vereador.

Além de buscar uma renovação da aliança com o clã Calheiros na corrida presidencial, o diretório estadual do PT quer ampliar os contatos locais. Por isso, está organizando viagens ao interior do estado como uma forma de preparação para a visita de Lula a Alagoas, que ainda não tem data definida devido à agenda do ex-presidente no exterior. A aposta é que prefeitos de outros partidos, mesmo os que não são alinhados ao PT, passem a apoiar a candidatura de Lula no ano que vem, devido à situação econômica do país.

Bolsonaro também conta com apoios importantes no estado, em especial o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP), rival histórico de Calheiros na política alagoana, e o senador Fernando Collor (Pros). Ambos têm estado presente em atos do governo federal pelo estado. Recentemente, quando Bolsonaro participou de um ato para entregas de residências populares em Teotônio Vilela – parte da série de viagens que fez para marcar os mil dias de governo –, Collor e Lira estavam sentados ao lado dele.

O apoio do PP será crucial para a campanha de Bolsonaro no estado, mesmo que ele decida se filiar a outro partido. Nas eleições municipais do ano passado, o Progressistas elegeu 29 prefeitos, que, se mantiverem-se alinhados ao diretório nacional, podem impulsionar a campanha de reeleição do presidente.

Outro nome da política alagoana que pode dialogar com Bolsonaro em 2022 é o de João Henrique Caldas, prefeito de Maceió pelo PSB. Apesar da guinada à esquerda em âmbito nacional, o partido mantém uma base de eleitores que apoiam o presidente da República, principalmente na capital, onde Bolsonaro venceu em 2018 com mais de 60% dos votos no segundo turno. Alagoas, porém, é um estado que tem dado vitória ao PT ao menos nas últimas três eleições.

Bahia segue reduto pró-petista; Bolsonaro conta com João Roma

Na Bahia, porém, há resistência de lideranças do PP em relação a Bolsonaro, já que o partido forma o governo estadual em aliança com o PT. O vice-governador, João Leão (PP), afirmou que “não vê” a possibilidade de Bolsonaro se filiar ao seu partido e que apoiará a candidatura do petista à presidência. “Estamos junto com Lula”, afirmou o presidente do diretório do Progressistas na Bahia, em um ato com o ex-presidente em Salvador, em agosto.

O petista também tem importantes aliados dentro de seu próprio partido: o governador Rui Costa e o senador Jaques Wagner, além do apoio do senador do PSD Otto Alencar, que declarou voto em Lula mesmo que seu partido tenha candidato próprio nas eleições presidenciais do ano que vem – o PSD foi o partido com melhor desempenho nas eleições municipais na Bahia no ano passado, conquistando 108 prefeituras; PP vem em segundo lugar, com 92 prefeitos eleitos.

Do outro lado, um dos mais importantes articuladores de Bolsonaro na Bahia é João Roma (Republicanos), que ensaia uma candidatura ao governo do estado no ano que vem. O ministro da Cidadania de Bolsonaro tem circulado pela Bahia, participando de eventos do governo federal, e disse no mês passado, à rádio A Tarde, que “o presidente terá um palanque [na Bahia] que defenda seu legado e que possa caminhar com ele no pleito do próximo ano”.

Em suas articulações, Roma já recebeu apoio do PTB e conversa com o MDB, que ainda não definiu quem apoiará no estado. A tarefa de angariar apoio ao presidente, porém, não será fácil, considerando que Bolsonaro não conseguiu bons resultados nas urnas do estado em 2018: fez apenas 27,3% dos votos no segundo turno contra o candidato petista, Fernando Haddad.

Ceará de Ciro Gomes tem proliferação de aliados de Bolsonaro

O PDT de Ciro Gomes é o maior partido do Ceará. Em 2018, deu fôlego para a eleição do governador petista Camilo Santana, que, por sua vez, apoiou Ciro e Haddad no primeiro turno das eleições presidenciais daquele ano. Contudo, ataques mais frequentes entre o pedetista e Lula, como os observados recentemente, podem dificultar a formação de uma coalizão entre os dois grupos nas eleições majoritárias do estado.

Além do apoio de Camilo, que deverá ser candidato ao Senado no ano que vem, o ex-presidente conta com o suporte do MDB, comandado por Eunício Oliveira, que no começo de outubro ofereceu um jantar em sua casa em Brasília que contou com a presença de Lula e outros integrantes do PT e MDB. Desde 2018, o ex-senador tem se afastado do clã Gomes, que não apoiou sua candidatura naquele ano. “Acho que ele ajudaria muito no Congresso Nacional”, disse Lula sobre Eunício.

Os nomes mais próximos de Bolsonaro no estado são o de Mayra Pinheiro, secretária de Gestão do Trabalho e da Educação no Ministério da Saúde e cotada para o Senado, os deputados federais Dr. Jaziel (PL) e Capitão Wagner (Pros) – o mais votado do estado em 2018 e que já está percorrendo o estado para pavimentar sua futura candidatura ao governo cearense. Em agosto, quando Bolsonaro e Wagner dividiram um palanque em Juazeiro do Norte, o presidente disse que apoiaria a candidatura do deputado para o Palácio da Abolição.

O presidente também pode receber apoio de parlamentares cearenses do PP e PSD que fazem parte da base governista de Camilo, mas que, no plano nacional, tendem a se alinhar com o governo federal, como é o caso dos deputados AJ Albuquerque e Domingo Neto. Os apoios ficarão mais claros quando as candidaturas em nível nacional forem definidas.

No Maranhão, esquerda exerce influência

No Maranhão, Bolsonaro conta com o apoio do deputado federal e presidente do PL, Josimar Maranhãozinho, que tenta viabilizar sua candidatura para governador. Apesar de Maranhãozinho aparecer com apenas 5% da intenção de votos, segundo pesquisa da Escutec publicada pelo jornal Estado no começo do mês*, o partido que ele comanda foi um dos principais vencedores das eleições municipais do ano, tendo eleito 40 prefeitos, apenas dois a menos do que a principal força política do Maranhão: o PDT.

Contudo, líderes políticos influentes do estado devem trabalhar contra o presidente nas eleições de 2022, como é o caso do governador Flavio Dino (PSB) e do senador Weverton Rocha (PDT), nome cotado para suceder Dino. Dino está articulando apoio de toda sua base aliada em favor de Lula e Weverton, apesar de ser do partido de Ciro Gomes, já expressou desejo de ter o ex-presidente ao lado do palanque durante a campanha para o governo do estado.

Lula também está em contato com o MDB. Em visita a São Luis em agosto, ele se encontrou com a ex-governadora Roseana Sarney e com o ex-presidente José Sarney, ambos do MDB. Não há indicações, porém, de que o partido deverá apoiar Lula no primeiro turno.

Paraíba tem pré-candidato a presidente da terceira via

O Cidadania é um dos maiores partidos da Paraíba e, no âmbito nacional, já lançou seu pré-candidato a presidente: o senador Alessandro Vieira. Contudo, uma das lideranças mais importantes do estado e do partido, o governador João Azevêdo, já indicou que apoiará a campanha do ex-presidente Lula. “Nosso palanque está a sua disposição”, disse Azevêdo em agosto, após breve encontro com o petista em Natal, Rio Grande do Norte. Porém, o prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena (PP), que já declarou que defenderá a reeleição de Azevêdo, não garantiu apoio a Lula.

Analistas da política estadual falam em uma debandada de políticos do PP da Paraíba se Bolsonaro se filiar ao partido para concorrer à presidência no ano que vem. Lucena, o deputado Aguinaldo Ribeiro e a senadora Daniella Ribeiro estariam entre as “baixas” da legenda. Eles evitam comentar o assunto, já que a filiação de Bolsonaro ainda é um ponto de interrogação.

O presidente, porém, se aproximou do PSD no estado. O ex-prefeito de Campina Grande e um dos cotados para o governo estadual, Romero Rodrigues, se aproximou do presidente neste ano. Em julho, durante uma entrevista, Bolsonaro teceu elogios a ele: “Romero é uma pessoa que gosto muito dele e obviamente, na Paraíba, a eleição passa por Romero”, disse. Contudo, um recente diálogo entre Romero e Azevêdo pode tornar a vida do presidente mais complicada no estado.

Entre os apoiadores do governo na Paraíba se destacam os deputados Wellington Roberto (PL), Efraim Filho (União Brasil) e Hugo Motta (Republicanos), mas isso não garante apoio à campanha. Os políticos mais alinhados a Bolsonaro são os deputados estaduais Wallber Virgolino (Patriota), Cabo Gilberto (Patriota) e o ex-candidato à prefeitura de João Pessoa, Nilvan Ferreira (PTB).

Pernambuco: berço lulista pode ter palanque dividido

Em Pernambuco, Lula pode ter dois palanques na campanha do ano que vem: do próprio PT, com a deputada Marília Arraes, e do PSB, que ainda não tem um nome para suceder o governador pelo partido, Paulo Câmara. Fontes do PSB afirmaram à imprensa local que o apoio a Lula é algo que está sendo discutido, mas que “muitos fatores ainda precisam ser resolvidos”.

João Campos (PSB), prefeito de Recife, se encontrou com o ex-presidente em São Paulo no começo de outubro, reforçando essa possibilidade. “Conversei em São Paulo com o ex-presidente Lula sobre como as forças democráticas podem atuar para derrotar Bolsonaro, nas eleições do ano que vem. Defendi novamente a composição de uma frente ampla, que apresente um projeto com ideias bem estruturadas para o país”, afirmou Campos em suas redes sociais, ponderando, porém, que alianças eleitorais só devem ser discutidas em 2022.

O PP deve manter seu apoio ao PSB no estado, segundo Romero Albuquerque, presidente da sigla em Pernambuco, mas o apoio a Lula também não está acertado. Já o presidente do diretório do MDB, o deputado federal Raul Henry, se reuniu com o ex-presidente em agosto, mas disse que, em seu ponto de vista, o caminho mais provável é que o MDB apoie uma candidatura da terceira via.

Um dos principais nomes da oposição no estado é o do prefeito de Petrolina, Miguel Coelho, que deve concorrer pelo DEM ao governo de Pernambuco. Apesar de ter recebido visita do deputado Eduardo Bolsonaro neste ano e participado de eventos com o presidente em anos anteriores, há comentários de que Coelho não dará palanque a Bolsonaro, ao menos no primeiro turno. “[Miguel Coelho] tem um bom relacionamento com a gente, o pai dele, senador Fernando Bezerra Coelho, é o líder do governo no Senado, tem serviços prestados, mas a nível de estado o filho dele não é contra Bolsonaro, mas também não dá palanque”, disse o aliado de Bolsonaro e presidente do PTB no estado, Coronel Meira, ao Jornal do Comércio. Miguel tem dito que não se deve nacionalizar a eleição estadual.

Contudo, Bolsonaro pode garantir um palanque com outro pré-candidato ao Palácio do Campo das Princesas: Anderson Ferreira (PL), prefeito de Jaboatão dos Guararapes. No mês passado, ele afirmou que votaria em Bolsonaro. “Vou procurar um candidato que esteja mais próximo das minhas convicções”, disse Ferreira, acrescentando que isso não o impede de buscar articulações com outros partidos.

André Ferreira, irmão de Anderson e vice-líder do governo na Câmara dos Deputados, também é um importante articulador do presidente na região.

Piauí de Ciro Nogueira dará palanque forte a Bolsonaro

No Piauí, o principal articulador de Bolsonaro é o seu ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP). O presidente deverá estar no palanque de Iracema Portella (PP), ex-esposa de Nogueira que é uma das principais pré-candidatas da oposição ao governo do petista Wellington Dias.

O PP foi o partido que mais elegeu prefeitos no Piauí em 2020: 84 dos 224 municípios. Contudo, nem todos os membros da legenda no estado embarcaram no apoio a Bolsonaro. A deputada federal Margarete Coelho, crítica do presidente, desembarcou da base de apoio de Dias, mas não informou se estará ao lado de Bolsonaro nas eleições do ano que vem.

Outro grande apoiador de Bolsonaro é Mão Santa (DEM), prefeito de Parnaíba, a segunda maior cidade do estado. Ele defende que Bolsonaro “acabou com a corrupção e o comunismo no Brasil’ e recentemente inaugurou uma placa em homenagem ao presidente.

Lula, por sua vez, será defendido por Rafael Fonteles, pré-candidato ao governo do Piauí pelo PT, e pelo governador Dias, que cogita disputar uma cadeira no Senado.

O apoio de Silvio Mendes (PSDB), também cotado como oposição para o governo estadual, prefere não comentar sobre apoios à disputa nacional. Em agosto, porém, ele disse que não pretende fazer palanque com Bolsonaro. Marcelo Castro, presidente do diretório do MDB, esteve no mesmo jantar com Lula, organizado por Eunício, e provavelmente estará entre os apoiadores do PT, ao menos no cenário estadual.VEJA TAMBÉM:

Rio Grande do Norte: dois ministros brigam pelo governo do estado

Rio Grande do Norte é a terra natal de outros dois ministros do governo de Jair Bolsonaro: Fabio Faria (PSD), da Comunicação, e Roberto Marinho, do Desenvolvimento Regional. Ambos têm interesse em concorrer ao governo potiguar e disputam o apoio de Bolsonaro. O deputado federal General Girão, que desembarcará do PSL após a fusão com o DEM, também está ao lado do presidente.

O PT, por sua vez, está costurando apoio com o MDB no estado, para reeleição da petista Fátima Bezerra como governadora. Walter Alves, presidente da sigla no estado e deputado federal, foi outro membro do partido que se reuniu com Lula recentemente, mas o apoio à candidatura do ex-presidente não foi firmado.

Sergipe tem cenário com influência de Ciro

Um dos principais pré-candidatos ao governo de Sergipe, Edvaldo Nogueira (PDT), prefeito de Aracaju, deve dar palanque ao correligionário Ciro Gomes na disputa presidencial. Belivaldo Chagas (PSD), atual governador, não declarou apoio a pré-candidatos a presidente, assim como outro nome cotado para o cargo em 2022, Valmir de Francisquinho, ex-prefeito de Itabaiana. O Cidadania apoiará a candidatura do senador sergipano Alessandro Vieira.

O PT também tem um nome forte na disputa que ajudará a impulsionar sua candidatura no estado: Rogério Carvalho, que já recebeu o aval de Lula.

O cenário para Bolsonaro em Sergipe é mais incerto. Quem demonstrou interesse de receber apoio do presidente na disputa pelo governo sergipano é Laércio Oliveira (PP). O deputado federal tem participado de eventos do governo federal em Sergipe. O presidente conta também com o apoio do PTB no estado. Neste mês, o deputado estadual Rodrigo Valadares defendeu que o partido é o melhor para receber o presidente. “Somos um partido que, além de dar a legenda a Bolsonaro, nossos deputados eleitos dentro do partido seriam linha de frente, teriam destaque e não poderiam ficar acuados”, destacou Valadares em entrevista ao portal Michel Notícias.

Confira a matéria na Gazeta do Povo

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