A pandemia de coronavírus já dura mais de um ano e meio. Hábitos mudaram, relações de trabalho se transformaram, negócios desapareceram. Nesse tempo todo você viu muita história de empresa que fechou, de gente que perdeu o emprego. Talvez você mesmo tenha sido afetado de alguma forma, ou conhece alguém que foi.
A série de reportagens O Brasil que inspira, da Gazeta do Povo, traz uma outra perspectiva. Fomos atrás de inspiração. Conhecemos brasileiras e brasileiros que, com garra, criatividade e determinação, encontraram novas formas de trabalhar e empreender em meio aos novos desafios trazidos pela pandemia.
As oito histórias publicadas na série, que você pode conhecer clicando nos links em azul nos próximos parágrafos, têm alguns ingredientes em comum: paixão, persistência, busca por especialistas para ajudar a formatar ou redesenhar o negócio. E, claro, reinvenção – ou reinvenções.
Caso da empreendedora curitibana Nany Semicek, dona da Casa Poppins, que oferece atividades de contraturno, colônia de férias e festas infantis. O espaço ficou fechado por oito meses por causa das restrições sanitárias, o que exigiu de Nany e sua equipe uma extraordinária capacidade de adaptação. A cada semana o negócio precisava ser repensado e modificado, já que decisões anteriores perdiam o sentido frente a tantos obstáculos.
Quem também precisou abrir várias frentes para seguir adiante foi a decoradora e designer floral Manoela Santiago, de Brasília. Ela tirava boa parte da sua renda de decoração de festas – até que o vírus acabou com as festas.
“Eu estava no desespero e comecei a inventar milhões de coisas”, conta a empreendedora. A alternativa vencedora apareceu depois de alguns cursos, conversas com pessoas do ramo e uma boa dose de criatividade e inovação: venda de cestas e kits delicadamente personalizados, uma maneira de se destacar em um mercado tão concorrido. Mas ela não parou por aí, e agora planeja abrir uma espécie de ateliê botânico.
Um empreendedor que temporariamente precisou alterar seus planos foi Eduardo Peluzo, dono da agência Mérola, do Rio de Janeiro. Ele começou 2020 com a ideia de recepcionar turistas estrangeiros, organizar roteiros luxuosos e atender a todos os pedidos de clientes. Mas, com a pandemia, os desembarques internacionais caíram mais de 70% no Brasil.
Para manter seu sonho vivo enquanto o panorama do turismo estrangeiro não melhora, Peluzo recorreu a fontes alternativas de recursos, como a intermediação de aluguéis. É que, podendo trabalhar de qualquer lugar, muitos brasileiros – principalmente de alta renda – optaram por passar dias ou semanas em casas mais amplas ou afastadas da cidade, por exemplo.
Com atividades presenciais suspensas, muitas empresas se viram obrigadas a investir no comércio eletrônico. O surpreendente, no caso da marca de semijoias Adüla, foi que o sucesso na internet acabou ajudando a turbinar as lojas físicas. A empresa mineira, que só tinha um quiosque de vendas antes da pandemia, abriu um segundo ponto de vendas no fim do ano passado e agora prepara a abertura do terceiro.
A história de superação da fábrica de roupas Miss Peck também tem a ver com o comércio eletrônico, mas de forma um pouco diferente. O que a empresa catarinense fez foi ajudar os lojistas – revendedores das peças que a empresa produz – a vender pela internet.
“Os lojistas estavam cheio de produtos, precisavam vender o que tinham recebido, para fazer novos pedidos. As lojas fecharam 100% e aí começamos a dar ideias, buscar parceiros, canais de venda ou formas de vendermos diretamente”, conta Eli Martins, dona da Miss Peck.
No começo da pandemia, a fábrica chegou a demitir mais de 30% dos funcionários, mas hoje emprega mais gente que antes da chegada do vírus – e ainda há vagas.
A transição para o modelo on-line teve que ser feita às pressas por milhares de empresas do país. Não foi diferente com a rede de franquias Supera, especializada no que chama de “ginástica para o cérebro”, isto é, desafios para o desenvolvimento cognitivo e a capacidade de concentração. O modelo da rede era todo presencial, com os jogos e desafios essencialmente manuais e feitos em grupo.
A mudança, feita em poucos dias, foi coordenada por uma equipe de aproximadamente 15 educadores e envolveu 27,7 mil alunos que estavam matriculados na época. Funcionou, e bem: até o número de faltas diminuiu e, mesmo com a reabertura das aulas presenciais, uma parte dos alunos ainda opta por continuar no modelo remoto.
Mas nem só de transformações é feito o empreendedorismo. Histórias como a de Mary Siqueira, de Franca (SP), ilustram o papel da perseverança e do amor à profissão. A principal fonte de renda dessa maquiadora secou quando as medidas de contenção da pandemia reduziram drasticamente as festas de casamento. Ela também dava aulas de maquiagem, inclusive on-line, mas os alunos – também sem dinheiro para pagar os cursos – desapareceram.
Agora, após 18 meses de todo tipo de percalço, Mary experimenta um recomeço. Em setembro, ela finalmente voltou a preparar noivas e madrinhas para festas de casamento.
Paixão e persistência também movem a bailarina Cylla Alonso e o músico Gabriel Soto, professores de flamenco e donos do espaço Casa em Si, de São Paulo. A pandemia de coronavírus exigiu que eles dançassem conforme a música. Todas as aulas tiveram de ser adaptadas para novos formatos: primeiro no meio digital e depois presencialmente, com medidas de distanciamento social. Os obstáculos foram muitos, mas os dois seguem dispostos a manter viva a escola.
“É o que estudamos para fazer. É nossa profissão, não só o desejo de fazer arte. Seja uma profissão fácil ou difícil, vale a apena batalhar por ela, porque se desistirmos fecharemos o caminho para muita molecada que vem aí”, conta Cylla.
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