Racionamento de energia na China fecha fábricas e gera temores de desabastecimento global

A alta nos preços do carvão, puxada pela escassez no suprimento do combustível e à grande demanda da indústria, aliadas ao endurecimento das normas relativas à emissão de poluentes, provocou um racionamento de energia na China que já gera temores de desabastecimento global. A medida, implementada durante os horários de pico em pelo menos 16 das 31 jurisdições regionais chinesas, vem afetando serviços públicos, como telefonia móvel, e fechando fábricas.

Segundo a Reuters, cidades como Shenyang e Dalian, onde moram mais de 13 milhões de pessoas, foram atingidas, com interrupções no funcionamento de fábricas fornecedoras de gigantes globais, como Apple e Tesla. Na segunda-feira (27), o governador da província de Jilin, Han Jun, afirmou que “canais múltiplos” precisam ser criados para garantir o fornecimento de carvão, e a China deve comprar mais da Rússia, Mongólia e Indonésia.

Clark Feng, proprietário de uma exportadora de barracas e móveis, disse à Bloomberg que fabricantes começaram a aumentar preços e adiar novos pedidos do exterior. “Já estávamos lutando para enviar mercadorias para o exterior e agora, com a restrição da capacidade de produção, com certeza vai ser uma grande bagunça. Já tivemos que lidar com tantos fatores incertos e agora há mais um. Será mais difícil entregar pedidos, especialmente para a temporada de férias”, alertou.

Devido ao racionamento de energia, o Goldman Sachs reduziu sua previsão de crescimento da China este ano, de 8,2% para 7,8%.

O analista Adam Ni apontou, na sua coluna no site China Neican, que uma ação comercial da China contra as importações de carvão da Austrália exacerbou o problema de fornecimento do combustível, mas outros pontos precisam ser considerados.

“Os preços da eletricidade são limitados pelas autoridades locais na China. Portanto, com o aumento dos preços dos insumos, mas com preços de produção fixos, a geração de eletricidade se tornou menos lucrativa – pode até se tornar um empreendimento deficitário”, apontou Ni.

“Uma vez que o aumento dos preços da eletricidade pode levar a mais descontentamento social do que o racionamento, especialmente entre as famílias, as autoridades optaram por restringir a demanda por eletricidade por meio do racionamento”, complementou o analista. O carvão representa cerca de 60% da matriz energética da China.

A pressão para implementação de medidas para que sejam reduzidas emissões de gases do efeito estufa é outro desafio: em pronunciamento na Assembleia Geral das Nações Unidas, na semana passada, o ditador Xi Jinping disse que a China deve atingir o pico de emissões de dióxido de carbono antes de 2030 e alcançar a neutralidade de carbono antes de 2060.

Em um fórum realizado em Pequim no início do mês, Liu Shijin, ex-vice-presidente do Centro de Pesquisa de Desenvolvimento do Conselho de Estado, apontou excesso de burocracia por parte das províncias chinesas no avanço das metas de redução de emissões, prejudicando o crescimento econômico de curto prazo.

“Precisamos deixar claro que as metas de pico de emissões de carbono e neutralidade não eram reduzir a capacidade de produção, nem desacelerar a taxa de crescimento, nem interromper artificialmente a ordem normal de oferta e demanda sem tecnologias verdes”, argumentou.

Confira a matéria na Gazeta do Povo

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