Escanteado dentro do PSDB, o ex-governador Geraldo Alckmin se encaminha para deixar a sigla que ajudou a fundar e escolher uma nova agremiação para concorrer ao governo do estado de São Paulo nas eleições do ano que vem. A oficialização do adeus ao ninho tucano deve ocorrer após as prévias internas que irão definir o candidato à Presidência da República pela sigla em 2022.
Até lá, Alckmin pretende trabalhar junto a aliados para frear o projeto do governador de São Paulo, João Doria, de vencer as prévias do PSDB. O ex-governador apoia o nome do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite. Além dos dois chefes de Executivos estaduais, as prévias, marcadas para o final de novembro, contam com a candidatura do ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio — o senador Tasso Jereissati (CE) anunciou sua desistência nesta terça-feira (28) para apoiar Leite.
Aliados de Alckmin dizem que o ex-governador ficou ressentido da articulação de Doria para lançar o vice-governador Rodrigo Garcia como candidato a sucessão no Palácio dos Bandeirantes em 2022. Agora, Alckmin pretende usar sua influência junto a prefeitos e vereadores do interior de São Paulo para enfraquecer o projeto de candidatura de Doria ao Planalto em 2022.
Caso o ex-governador deixasse o partido antes das prévias, esses filiados se veriam na obrigação de abandonar o PSDB com ele, ampliando as chances de vitórias de Doria.
Oficialmente, o diretório paulista declarou apoio ao governador, mas Alckmin tem afirmado a interlocutores que Eduardo Leite terá os votos de quadros que sempre caminharam ao seu lado no estado.
“Eduardo tem nosso apoio porque vai unir o Brasil. Acreditamos que uma nação unida é uma nação forte. Eduardo Leite é preparado, experiente, conciliador e comunga dos ideais sólidos de todos nós, sociais democratas”, avalia o ex-deputado Pedro Tobias, aliado de Alckmin.
Alckmin reúne oposição a Doria para compor candidatura fora do PSDB
Enquanto trabalha para esvaziar a candidatura de Doria nas prévias do PSDB, Geraldo Alckmin articula com os principais opositores do atual governador de São Paulo. A movimentação ocorre cinco anos depois de Alckmin ter sido o principal fiador de João Doria na disputa pela prefeitura de São Paulo nas eleições de 2016.
O rompimento de ambos ocorreu após desentendimentos que começaram ainda na disputa pré-eleitoral de 2018, quando Doria tentou atrair para si o posto de candidato a presidente, papel que já estava reservado a Alckmin. O desconforto cresceu durante a campanha, quando o ex-governador tucano concorria ao Planalto e Doria disputava o governo de São Paulo.
Na época, Doria foi chamado de “traidor” por Alckmin por apoiar Jair Bolsonaro ainda no primeiro turno da disputa presidencial. Naquele ano, o PSDB teve seu pior resultado em eleições presidenciais, com Alckmin ficando em 4º lugar com 4,76% dos votos.
No último sábado (25), Alckmin esteve na Câmara Municipal de Cajamar, cidade da região metropolitana de São Paulo, em um ato político que selou publicamente a aliança dele com o ex-governador Márcio França (PSB), o presidente do PSD, Gilberto Kassab, e o presidente da Fiesp, Paulo Skaf (MDB). O grupo faz oposição a João Doria e caminha para apoiar a candidatura de Geraldo Alckmin no ano que vem.
Possível candidato a vice-governador na chapa de Alckmin, França aproveitou o evento para criticar Doria: “Estou para encontrar um sujeito que votou nesse cara e acha que ele está indo bem. Nem na família dele a gente encontra. É por isso que nós temos que falar: tchau, Doria”.
Costurando a filiação de Alckmin ao PSD, Gilberto Kassab aproveitou para afirmar que seu partido estará “onde Alckmin estiver”. “Onde ele estiver, caso disponibilize o seu nome para ser candidato a governador, conta com nosso entusiasmo. O PSD estará incondicionalmente ao seu lado”, afagou o presidente doa sigla.
Ex-governador critica aumento de ICMS feito por Doria
Sem citar o nome do governador paulista, Alckmin disse durante o mesmo evento que há quem faça política para autopromoção. “Hoje a política, muitas vezes, é a ribalta para ‘marketagem’, para autopromoção. Quem muito se promove, não comove. A vida nos ensina: devemos estar a serviço do povo, permanentemente”, disse.
Na sequência criticou o aumento do ICMS feito pelo atual governador de São Paulo. “Veja o preço que está o diesel e que aumenta tudo: o preço do supermercado, o preço do ônibus para o trabalhador, tudo”, completou.
A fala de Alckmin vai na linha da tese do presidente Jair Bolsonaro que o ICMS dos estados é responsável pelo alto preço dos combustíveis. Doria virou um dos principais opositores de Bolsonaro.
De acordo com o último levantamento Datafolha, Alckmin lidera a corrida eleitoral no estado com 26% das intenções de voto. Em seguida aparecem Fernando Haddad (PT), com 17%; o ex-governador Márcio França (PSB), com 15%, e Guilherme Boulos (PSOL), com 11%. Sem Alckmin, o candidato de Doria e vice-governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, aparece em quinto lugar, com 5%.VEJA TAMBÉM:
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Fusão entre DEM e PSL pode atrair Geraldo Alckmin
Apesar de manter conversas com o PSD de Kassab, aliados de Alckmin avaliam que a fusão entre o DEM e o PSL pode atrair o ex-governador. Presidente do DEM, ACM Neto chegou a convidar Alckmin para se filiar à legenda como forma de se opor a Doria, que tirou Rodrigo Garcia do partido democrata e o levou para o PSDB. Apesar dos recentes acenos de Doria, o ex-prefeito de Salvador tem se mantido distante do governador de São Paulo.
Na avaliação de aliados de Alckmin, o novo partido que surgirá da fusão entre DEM e PSL poderá oferecer mais tempo de propaganda no rádio e TV, além de mais verba do fundo eleitoral para a campanha. A estratégia seria uma forma de fazer frente a Rodrigo Garcia, que terá o controle da máquina do estado durante o período eleitoral.
A movimentação, no entanto, não é consenso entre os políticos envolvidos nas negociações da fusão. O comando do diretório estadual de São Paulo ainda não foi definido e é alvo de disputas entre líderes das duas legendas. Apesar das movimentações, ACM Neto e o presidente do PSL, Luciano Bivar, já sinalizaram que a definição sobre as eleições estaduais de 2022 no estado será da cúpula nacional.
Metodologia da pesquisa citada
O Datafolha ouviu entre os dias 13 e 15 de setembro, 2.034 pessoas de 16 anos ou mais em 70 cidades do estado de São Paulo. A margem de erro do levantamento é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.
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