A disparada da inflação completou um ano neste mês de agosto. O processo de elevação constante e forte dos preços começou em setembro do ano passado, e desde então apenas dois meses tiveram IPCA abaixo de 0,50%. Agosto de 2021 confirmou a escrita, com uma elevação de 0,87%, segundo os dados divulgados pelo IBGE. Se no segundo semestre do ano passado as principais causas eram a redução na oferta doméstica de alimentos, aliada à desvalorização do real, mais recentemente energia elétrica e combustíveis se tornaram os grandes vilões.
Em julho havia sido a vez da energia, com o início da bandeira vermelha 2; em agosto, os combustíveis assumiram o papel de puxadores da inflação. O grupo de combustíveis subiu 2,80% – mais especificamente, o etanol teve alta de de 4,50%; o gás veicular, de 2,06%; o óleo diesel, de 1,79%; e a gasolina, de 2,80%, correspondendo a 0,17 ponto porcentual do IPCA de agosto. Em 2021, a gasolina registra aumento de 31,09%, um movimento provocado pelo câmbio, que continua desvalorizado, aliado à redução na oferta de etanol (que é adicionado à gasolina) e ao aumento do preço internacional do petróleo: o barril Brent custava quase US$ 50 na média de dezembro de 2020; em agosto de 2021, o valor já estava em quase US$ 75 – aumento de 50%.
As perspectivas para a inflação não são nada animadoras, pois setembro promete o retorno da energia elétrica ao posto de vilão principal do IPCA
Nessas condições, o aumento dos combustíveis se torna quase inevitável; as rusgas entre governos federal e estaduais a respeito da tributação sobre combustíveis não levará a lugar algum, já que a participação do ICMS nas receitas estaduais é muito maior que o peso dos impostos federais (que continuam sendo cobrados, apesar da propaganda falsa divulgada em mídias sociais) na arrecadação da União, inviabilizando reduções pesadas de alíquotas por parte dos governadores. A outra opção seria fazer o país voltar aos temos de Dilma Rousseff, que interveio pesadamente na economia fazendo a Petrobras represar artificialmente o preço dos combustíveis para conter a inflação, processo que ajudou a destruir a empresa.
E as perspectivas para a inflação não são nada animadoras, pois setembro promete o retorno da energia elétrica ao posto de vilão principal do IPCA. Se em agosto a energia subiu 1,1%, foi apenas porque não houve mudança de bandeira tarifária, ao contrário do que havia ocorrido em julho (quando a energia saltou 7,88%); no entanto, o aprofundamento da crise hídrica levou à criação de uma bandeira tarifária especial que passou a vigorar em setembro e que deve forçar um aumento de quase 7% nas contas deste mês. E, como tanto combustíveis quando energia elétrica fazem parte dos custos de produção e comercialização de inúmeros outros itens, “contaminam” também todos esses preços.VEJA TAMBÉM:
- A energia elétrica pressiona a inflação (editorial de 10 de agosto de 2021)
- Inflação, “tempestade perfeita” e risco fiscal (editorial de 20 de agosto de 2021)
- O Copom intensifica o aperto monetário (editorial de 6 de agosto de 2021)
Com a inflação acumulada de 2021 em 5,67%, já tendo rompido o limite máximo de tolerância estabelecido para este ano – que é de 5,25%, considerando a meta de 3,75% –, e o acumulado de 12 meses subindo para 9,68%, já há quem considere necessária uma intensificação do aperto monetário na próxima reunião do Copom, em 21 e 22 de setembro. Na reunião anterior, o comitê havia elevado a Selic em um ponto porcentual, e o comunicado antecipava a possibilidade de aumento idêntico em setembro. Mas uma elevação de 1,25 ponto já parece uma realidade plausível, diante da persistência da pressão inflacionária.
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