O que é a pingdemia e como ela está afetando o Reino Unido

Com tantos funcionários se isolando após serem notificados pelo aplicativo do NHS, os supermercados da Inglaterra estão agora sob pressão crescente para manter as prateleiras totalmente abastecidas| Foto: FACUNDO ARRIZABALAGA/Agência EFE/Gazeta do Povo

O Reino Unido está vivendo uma “pingdemia”. Centenas de milhares de pessoas foram orientadas pelo governo a ficar em isolamento em casa após entrarem em contato com pessoas com Covid-19, em um momento em que os casos da doença no país aumentaram rapidamente. O não comparecimento ao trabalho em função desta medida sanitária causou problemas de escassez de mercadorias e de serviços.

O fenômeno decorre de uma medida adotada pelo governo do Reino Unido para o rastreamento de contatos de pessoas com Covid-19. Por meio de um aplicativo do Serviço Nacional de Saúde, os britânicos recebem um alerta (ping) em seus celulares caso tenham entrado em contato com algum infectado. O governo, então, recomenda o isolamento por dez dias.

Contudo, o aumento de casos de Covid-19 no país nas últimas semanas fez com que milhares de pessoas fossem notificadas a ficar em casa. Mesmo que o isolamento não seja obrigatório, isso tem gerado escassez generalizada de mão de obra, até mesmo em setores considerados essenciais.

Como resultado, mercados tiveram problemas com desabastecimento, pequenos negócios foram forçados a fechar temporariamente e até serviços públicos foram afetados.

Como funciona o rastreamento de contatos?

No Reino Unido, notifica-se que uma pessoa teve contato com um infectado por telefonema – quando o paciente com Covid-19 é entrevistado por um funcionário da saúde e informa com quem teve contato recentemente – ou pelo aplicativo do NHS, válido para moradores da Inglaterra e do País de Gales.

Não é obrigatório instalar o app da Covid-19 nos smartphones, mas desde que ele foi lançado, em setembro do ano passado, mais de 26 milhões de downloads já foram feitos. Por alcançar um número tão grande de pessoas, a maioria dos alertas para isolamento é feito por meio deste serviço.

Ele funciona assim: ao baixar o aplicativo, o usuário autoriza o uso do bluetooth do celular para que o app possa identificar outros usuários com quem ele teve contato próximo em dias anteriores. Se ele testar positivo para a Covid-19, o aplicativo notifica esses usuários e pede que eles façam isolamento de dez dias.

Um contato próximo, geralmente, significa ter estado a dois metros de alguém por 15 minutos ou mais, como em uma viagem de ônibus, por exemplo.

Porém, o isolamento só é obrigatório no caso do rastreamento de contatos convencional. O alerta pelo celular não exige que a pessoa fique em casa, mas é uma medida fortemente recomendada pelo governo britânico.

Mais de 600 mil britânicos foram notificados em apenas uma semana, entre 7 e 13 de julho. A medida deve continuar em vigor, segundo o governo de Boris Johnson, até 16 de agosto.

Por que houve um aumento de casos no país?

O número de infecções por Covid-19 no Reino Unido começou a aumentar em maio e teve um pico por volta de 20 de julho, apesar de 68% da população do país estar vacinada com ao menos uma dose de imunizante anti-Covid. Especialistas acreditam que a propagação do vírus neste período esteja relacionada com a rápida disseminação da variante Delta, identificada na Índia, que se tornou predominante no país.

É importante salientar que houve um aumento de óbitos pela doença: de 8 para 60 mortes por dia, entre maio e julho, algo que era esperado devido ao aumento exponencial de casos. Mas o número é bem menor do que as mais de mil mortes registradas diariamente em janeiro deste ano ou em abril de 2020.

Após o dia 20 de julho, o número de infecções voltou a cair – apesar da flexibilização de quase todas as medidas de restrição de circulação e aglomeração na Inglaterra.

Quais são as consequências de tanta gente isolada?

Falta de trabalhadores, desde caminhoneiros a profissionais da saúde. Por causa disso, pequenos negócios tiveram que fechar as portas temporariamente, fábricas não conseguiram atender às demandas, o que levou à escassez de alguns produtos em supermercados. Os serviços públicos estão pressionados, como hospitais, transportes e recolhimento de lixo em algumas localidades.

O Centro de Pesquisa Econômica e Empresarial (CEBR) prevê um golpe de 4,6 bilhões de libras para a economia do Reino Unido no próximo mês, por causa da pingdemia.

O governo britânico adotou mecanismos para que empresários que trabalham em atividades essenciais consigam isentar seus trabalhadores de receber o alerta, como a instalação de locais de testes em dois mil pontos do país.

Contudo, pequenos empresários reclamam que não estão conseguindo encontrar esses locais com facilidade e têm dificuldades em cadastrar os funcionários que trabalham em atividades essenciais, informou o jornal Independent.

O que diz Boris Johnson?

O primeiro-ministro diz que o sistema de rastreamento e notificação é essencial para que o Reino Unido seja capaz de remover todas as restrições impostas pela pandemia. Ele confirmou, nesta semana, que a “pingdemia” vai acabar em 16 de agosto.

A partir desta data, não haverá recomendação de isolamento para pessoas que foram vacinadas contra Covid-19 (esquema vacinal completo) – a não ser aquelas que estejam com sintomas. Apesar disso, o governo orientará a pessoa que entrou em contato com um caso positivo a fazer um teste de Covid-19.

Confira a matéria na Gazeta do Povo

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