Bolsonaro articula candidaturas de ministros em busca de palanques fortes nos estados

Bolsonaro articula candidaturas de ministros em busca de palanques fortes nos estados

Diferentemente da postura adotada nas eleições municipais de 2020, quando evitou se envolver diretamente nas disputas, o presidente Jair Bolsonaro agora trabalha para lançar candidaturas de aliados no maior número de estados no ano que vem. O objetivo é formar palanques fortes para o seu projeto de reeleição, enquanto segue atrás de um partido para abrigá-lo em 2022. Políticos da base do governo no Congresso e ministros devem deixar a Esplanada para se lançarem candidatos com apoio do Palácio do Planalto.

Essa movimentação avançou nos últimos dias depois que Bolsonaro anunciou uma minirreforma ministerial. Futuro ministro da Casa Civil, o senador Ciro Nogueira preside o PP, principal partido da base do governo e do Centrão. Ele pretende disputar o governo do Piauí no ano que vem e inclusive já convidou o próprio Bolsonaro a ingressar na sigla.

Integrantes do Centrão avaliam a indicação de Nogueira para o ministério como uma forma de Bolsonaro manter o apoio no Congresso em meio aos recentes desgastes do Executivo. Na esteira dessa articulação, o senador terá mais visibilidade e poder de articulação para construir alianças para si e para Bolsonaro no Piauí.

Aliado do governo, o ex-presidente do senado Davi Alcolumbre (DEM-AP) chegou a ser sondado pelo Planalto para comandar uma pasta na Esplanada, mas acabou rejeitando. Alcolumbre hoje comanda a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), e tem demonstrado resistência à indicação do advogado-geral da União, André Mendonça, para ocupar uma cadeira no Supremo Tribunal Federal.

Apesar disso, ele mantém interlocução com o presidente Bolsonaro, pois pretende disputar o governo do Amapá no ano que vem com apoio do Planalto. No estado, o grupo de Alcolumbre é adversário do grupo político do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), um dos principais opositores do governo Bolsonaro.

De saída da Secretaria-Geral da Presidência da República, o ministro Onyx Lorenzoni tenta construir uma candidatura ao governo do Rio Grande do Sul há pelo menos dois anos. Governistas afirmam que a saída dele da Secretaria-Geral se deve à desastrosa atuação em relação ao deputado Luís Miranda (DEM-DF) no caso Covaxin. Para esse grupo, Lorenzoni acabou levando Bolsonaro para a crise.

Mesmo assim, Bolsonaro decidiu recriar o Ministério do Trabalho e da Previdência para manter Lorenzoni na Esplanada. A pasta pode trazer mais visibilidade e tração ao atual ministro da Secretaria-Geral para disputar o governo gaúcho no ano que vem, oferecendo a Bolsonaro um palanque forte em uma região onde o governo costuma ter os seus melhores índices de aprovação.

Marinho, Tarcísio e até Queiroga podem ser candidatos em 2022

Citado pelo próprio presidente como “bom nome” para disputar o governo do Rio Grande do Norte, o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, já sinalizou que pretende discutir com Bolsonaro a possibilidade de sua candidatura só no começo de 2022. O entorno de Marinho admite que o principal empecilho para sua candidatura é o seu atual partido, o PSDB.

O ninho tucano deverá ter candidatura própria ao Palácio do Planalto e descarta apoiar a reeleição de Bolsonaro. Sem legenda, uma saída apontada pelos aliados do ministro seria seguir com o presidente para um mesmo partido. Contudo, poderia haver restrições de orçamento para a campanha eleitoral, tendo em vista que Bolsonaro tem negociado com partidos nanicos.

Outro nome defendido pelo presidente Bolsonaro é o do ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes, para o governo do estado de São Paulo. No entanto, a indicação de apoio do presidente pode acabar resultando no afastamento de Paulo Skaf, que chegou a trabalhar pela criação do Aliança do Brasil no estado, e tem buscado o apoio do presidente para ser candidato ao governo paulista.

Até o ministro da Saúde, o médico Marcelo Queiroga, pode vir a ser candidato ao governo da Paraíba. Quem disso isso foi o próprio presidente Bolsonaro, em entrevista à rádio Arapuan FM, da Paraíba, na segunda-feira (26). “Ele é uma pessoa extremamente qualificada. Logicamente, se ele quiser meu apoio a gente conversa, discute aí as bases, né. Estarei disposto a apoiá-lo. A Paraíba vai ganhar muito com ele”, afirmou. Queiroga não confirmou e nem desmentiu a especulação presidencial.

PL reúne aliados de Bolsonaro

Integrante da base do governo na CPI da Covid, o senador Jorginho Mello pretende disputar o governo de Santa Catarina com o apoio de Bolsonaro. Indicado como vice-líder do governo no Senado no final do ano passado, Mello é do PL, partido comandado pelo ex-deputado Valdemar da Costa Neto, condenado por corrupção no processo do mensalão.

O PL é integrante do Centrão e tem costurado diversas candidaturas aos governos estaduais. Além do senador, a atual ministra da Secretaria de Governo, Flávia Arruda, é filiada ao partido e articula com o atual governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), uma união na disputa local do ano que vem que garanta palanque para Bolsonaro na capital federal.

No Rio de Janeiro, o governador Claudio Castro deixou o PSC e se filiou ao PL para se aproximar do Palácio do Planalto. O fluminense trabalha para ter o apoio do presidente no reduto do clã Bolsonaro.

Aliados do governo não se entendem na Região Norte

No Amazonas, o governador Wilson Lima (PSC) trabalha para ser candidato à reeleição em 2022 ancorado no Palácio do Planalto. Aliados do presidente, no entanto, apostam no nome do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello como possível candidato no estado. Pazuello estaria aguardando as investigações da CPI da Covid serem concluídas para tentar costurar alianças na região.

No Pará, o delegado da Polícia Federal Everaldo Eguchi chegou ao segundo turno das eleições para a prefeitura de Belém no ano passado com apoio dos bolsonaristas. Derrotado, ele trocou o Patriota pelo PSL e pretende disputar o governo estadual mais uma vez como candidato de Jair Bolsonaro.

Em Rondônia, três nomes buscam lançar suas candidaturas com palanque para Bolsonaro. O atual governador Coronel Marcos (sem partido) buscará a reeleição. No entanto, o senador Marcos Rogério (DEM-RO), integrante da base do governo na CPI da Covid, é apontado como adversário do Coronel Marcos na região. Por último, o pecuarista Jaime Bagattoli (PSL) também busca reunir bolsonaristas da região para atrair o apoio do Planalto para sua candidatura.


Confira a matéria na Gazeta do Povo

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