O número de mortes causadas pela Covid-19 na Índia pode ser até dez vezes maior do que o registrado oficialmente, e possivelmente o total está entre 3,4 milhões e 4,9 milhões, estima um estudo divulgado nesta terça-feira. Para chegar a essas estimativas, os autores se basearam em dados da pandemia em estados indianos, estudos de prevalência da doença, dados de pesquisas em domicílios e estimativas internacionais, e quantificaram as mortes em excesso ocorridas durante a pandemia no país.
No país asiático de quase 1,4 bilhão de habitantes, foram registradas oficialmente cerca de 414 mil mortes causadas pelo coronavírus desde o início da pandemia – número que muitos especialistas já têm apontado como sendo grandemente subestimado. Mas a análise do Center for Global Development, um instituto de pesquisa de Washington (EUA), fez três estimativas de mortes em excesso na Índia (por todas as causas) e concluiu que o impacto real da pandemia no país pode ter sido muito maior.
Um dos autores do estudo é o economista Arvind Subramanian, que foi assessor-chefe de economia do governo do primeiro-ministro indiano Narendra Modi.
“As mortes reais provavelmente estão na casa de vários milhões, e não de centenas de milhares, o que faz dessa a maior tragédia humana na Índia desde a Partição e a independência”, diz o relatório, fazendo referência aos eventos que deixaram até um milhão de mortos em 1947.
Primeiro, os pesquisadores olharam dados dos sistemas de registros civis de sete estados, extrapolaram os números para todo o país, e estimaram que as mortes em excesso na Índia (a diferença entre o número de mortes esperado para o período e o número real de óbitos) foi de 3,4 milhões entre janeiro de 2020 e junho de 2021.
O segundo cálculo foi feito com base na seroprevalência (a proporção de casos de infecção) da Índia e em estimativas internacionais de índices de mortalidade, o que indicou uma taxa de cerca de 4 milhões de óbitos.
A terceira análise, feita a partir de uma pesquisa realizada em domicílio três vezes por ano com 800 mil indivíduos distribuídos por todos os estados indianos, chegou à estimativa de 4,9 milhões de mortes em excesso.
Os autores ressaltaram que estimar as mortes por Covid-19 com confiança estatística pode ser “difícil”, e que todas essas estimativas têm suas fraquezas, mas que os cálculos sugerem que o número de mortos da pandemia é “provavelmente uma ordem de magnitude maior do que a contagem oficial de 400 mil”.
Os dados também indicam que a primeira onda de contágios de coronavírus no país foi mais mortal do que se acredita. Porém, como essa onda foi mais espalhada em um período de tempo e um espaço maiores – ao contrário da segunda onda que foi concentrada e rápida – a mortalidade da primeira onda pode ter parecido “moderada”, diz o artigo.
“A falta de compreensão sobre a escala da tragédia em tempo real na primeira onda pode ter criado uma complacência coletiva que levou aos horrores da segunda onda”, dizem os autores.
O governo indiano refutou as conclusões do estudo. “Não temos motivos para esconder as mortes. Muitas pessoas dizem que o governo indiano está escondendo a taxa de mortes; o governo simplesmente compila e publica os dados enviados pelos governos estaduais”, afirmou Mansukh Mandaviya, recém-nomeado ministro da Saúde do país, no parlamento indiano nesta terça-feira.
A subnotificação de infecções e mortes por Covid-19 tem sido um problema também para outros países. No entanto, especialistas têm alertado que o problema deve ser ainda maior na Índia, dado o tamanho de sua população e o fato de que, mesmo antes da pandemia, todas os óbitos não eram oficialmente registrados no país.
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