O Comitê Olímpico Internacional (COI) anunciou que vai flexibilizar sua regra de proibir manifestações políticas, religiosas e raciais nas Olimpíadas. Em meio à onda de politização dos esportes no mundo todo, e à crescente influência do movimento Black Lives Matter (BLM – em português, “Vidas Negras Importam”) sobre atletas de elite, o COI vinha sendo questionado sobre como lidaria com possíveis demonstrações nos Jogos de Tóquio, que começam oficialmente no dia 23 de julho, próxima sexta-feira.
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A flexibilização vai ocorrer na regra 50.2 da Carta Olímpica, que afirma que “nenhum tipo de manifestação ou propaganda política, religiosa ou racial é permitida em locais, instalações ou outras áreas olímpicas”. A regra não foi alterada, mas o COI publicou um guia com diretrizes sobre como ela deve ser interpretada.
Segundo essas diretrizes, os atletas poderão expressar suas opiniões nas zonas mistas, nas conversas com a imprensa, ou por meios de comunicação, incluindo as redes sociais. Além disso, nos locais de competição, os atletas poderão se manifestar antes do início da competição ou quando estiverem sendo apresentados, desde que essas manifestações não sejam contrárias aos chamados “princípios fundamentais do olimpismo”.
A campeã olímpica de vôlei e comentarista política Ana Paula Henkel, que é crítica da crescente politização do esporte, vê um cenário atípico para as Olimpíadas deste ano por conta da influência de movimentos como o BLM. “São os primeiros Jogos depois de uma era de politização exagerada. Não tem como prever o que vai acontecer. É uma edição muito diferente de tudo o que já teve até agora”, diz.
Apesar da flexibilização, o COI ainda veda “qualquer comportamento e/ou expressão que constitua ou indique discriminação, ódio, hostilidade ou potencial para violência sob qualquer aspecto”. Manifestações políticas, religiosas ou raciais por parte de atletas durante as competições continuam proibidas.
Flexibilização da regra indica concessão ao Black Lives Matter
Estas serão as primeiras Olimpíadas após a explosão de popularidade do BLM – organização criada em 2013, mas que ficou mais conhecida no mundo todo depois do assassinato de George Floyd, em maio de 2020.
Embora a frase “Black Lives Matter” tenha se tornado um slogan contra o racismo no mundo todo, o ideário do BLM é muito mais controverso e radical do que seu nome pode sugerir, e a organização está longe de ser uma mera promotora da igualdade racial no mundo.
Manifestantes ligados ao grupo foram responsáveis por diversos protestos marcados por violência nos últimos meses. A organização já deu indicações claras de seu viés ideológico extremista, mas, muito em razão do poder de marketing de seu nome, acabou obtendo o apoio até de atletas bem-intencionados, preocupados com o problema do racismo, mas pouco conscientes de outros objetivos declarados pelo movimento.
“Nós rompemos com a estrutura da família nuclear prescrita pelo Ocidente, apoiando-nos uns aos outros como famílias amplas e ‘vilas’ que cuidam coletivamente umas das outras, especialmente de nossos filhos, na medida em que mães, pais e filhos se sintam confortáveis”, dizia até setembro de 2020 o site do BLM em sua seção “No que acreditamos”. A página foi retirada do ar depois que o jornal New York Post chamou a atenção para este trecho antifamília no ideário da organização.
O BLM também tem claro viés político. Na lista de demandas atuais do movimento, que inclui sete itens, três dizem respeito ao ex-presidente dos EUA Donald Trump ou a congressistas do partido republicano. O grupo quer que Trump seja proibido de ocupar cargos eletivos no futuro e seja banido de todas as plataformas digitais. O BLM também usa nessa lista de demandas o slogan “defund the police”, que quer dizer “corte os recursos da polícia”.
Justamente pelo envolvimento do BLM com opções políticas e ideológicas radicais que nada têm a ver com a luta contra o racismo, a tendência no mundo esportivo tem sido de desvincular as manifestações pela igualdade racial de símbolos associados ao Black Lives Matter.
No começo da temporada 2020-2021 da Premier League (primeira divisão do futebol inglês), por exemplo, o slogan “Black Lives Matter”, que vinha sendo estampado em uniformes de jogadores logo após a morte de George Floyd, deu lugar à frase “No Room for Racism” (“sem espaço para o racismo”, em tradução livre). O motivo, segundo o jornal britânico The Guardian, foi a controvérsia sobre o ideário e as práticas violentas do BLM.
Tenista estrela da casa e velocista favorito a sucessor de Bolt são pró-BLM
Vários atletas famosos que vão participar dos Jogos Olímpicos já demonstraram apoio claro ao Black Lives Matter em eventos esportivos nos últimos meses.
A tenista Naomi Osaka, uma das principais apostas de medalha do país anfitrião nos Jogos, já exibiu uma camiseta com o nome do movimento em um torneio de tênis em 2020.
Outra estrela de primeira linha dos jogos, o velocista norte-americano Noah Lyles, um dos favoritos para as provas dos 100 e dos 200 metros livres, costuma celebrar suas vitórias com o punho cerrado característico do BLM, e estampa “#BLACKLIVESMATTER” no cabeçalho de sua página no Twitter.
Diversos outros atletas são engajados na luta contra o racismo, mas muitos deles, como a ginasta americana Simone Biles, fazem isso sem se associarem diretamente ao Black Lives Matter. Figura mais célebre a manifestar apoio claro ao BLM no mundo, o jogador de basquete LeBron James, dos EUA, não deverá participar dos Jogos Olímpicos.
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