As “alfinetadas” ao presidente Jair Bolsonaro dadas pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), na última sexta-feira (9), não sugerem ruptura com o governo. Da parte de Pacheco e do Palácio do Planalto, a intenção de ambos os lados é manter uma boa relação institucional e assegurar a votação de matérias relevantes para o país.
Eleito com apoio do governo, Pacheco se posicionou de forma firme contra as declarações de Bolsonaro sobre “não ter eleições” se não houver “eleições limpas”. O presidente do Congresso disse que as eleições são “inegociáveis” e que não se pode admitir “retrocessos” em relação à democracia.
A tendência é que Pacheco volte a fazer contraponto a falas de Bolsonaro que soem como “extremistas”. A leitura feita no Senado é de que ele fará isso com a habilidade suficiente para evitar rusgas e desarmonia com o governo.
Mesmo demonstrando contrariedade à fala de Bolsonaro, Pacheco evitou tensionar a relação na sexta-feira. “Temos que respeitá-la [fala de Bolsonaro] e considerá-la pela reflexão. Existe uma PEC em discussão sobre mudanças no sistema eleitoral e a decisão será do Congresso. Será obrigação e dever do Congresso Nacional definir se precisamos ou não de alteração no sistema eleitoral”, disse, sobre a emenda à Constituição 135/19, a PEC do voto impresso auditável.
Qual é a leitura feita no Planalto sobre o presidente do Senado
O governo avalia com sobriedade as falas de Pacheco. No Planalto, a leitura feita é de que as declarações foram “firmes”, mas pontuais. Tanto que interlocutores consideram prematuro falar sobre qualquer chance de rompimento entre Senado e o Executivo federal.
A aposta feita por um interlocutor palaciano é de que não haverá alguma reação do Planalto às falas de Pacheco. O presidente do Senado mantém um diálogo próximo com os ministros palacianos, até para alinhar as pautas votadas em plenário. “É possível que haja alguma ruptura, mas não agora, não este ano”, avalia um interlocutor.
Mesmo sem esperar alguma reação, outros interlocutores não descartam a possibilidade de a relação se deteriorar. Tudo depende da filiação ou não de Pacheco ao PSD. “É preciso aguardar alguma coisa mais definitiva”, diz um interlocutor palaciano.
A filiação de Pacheco ao PSD poderia ser um indicativo das pretensões do parlamentar em disputar as eleições de 2022 como candidato à Presidência da República. A confirmação disso poderia sugerir um natural distanciamento político entre o senador e o Planalto.
Pacheco evolui conversas com o PSD e pode confirmar filiação
As conversas entre Pacheco e o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, evoluíram nas últimas semanas. A jornalista Thais Oyama, do site UOL, informou que Pacheco e Kassab “apertaram as mãos” e o anúncio oficial da filiação e da pré-candidatura do presidente do Senado será feito após a conclusão da montagem de palanques nos estados.
A Gazeta do Povo confirma a informação do avanço das conversas entre Pacheco e Kassab. A reportagem informou anteriormente sobre como o PSD espera ter o presidente do Senado como o cabo eleitoral para 2022. A expectativa é de que Pacheco possa fortalecer candidaturas a governos estaduais e vice-versa.
Por isso, o PSD espera concluir a filiação de Geraldo Alckmin (PSDB), ex-governador de São Paulo, para dar um salto importante na montagem dos palanques estaduais. É com um projeto bem estruturado — que inclui, ainda, candidatos a governos estaduais em outros sete estados — que Pacheco pode ser lançado.
No Senado, embora seja dada como certa a filiação ao PSD, alguns senadores ainda veem como incerta a possibilidade de Pacheco se lançar candidato à Presidência da República. “Isso é só balão de ensaio para elevar o capital político”, aposta um parlamentar.
Quais os cálculos políticos feitos por Pacheco sobre ruptura com o governo
Filiado ou não ao PSD, Pacheco avalia com muita cautela qualquer movimento que sugira um rompimento definitivo com o governo. Ao menos não em 2021. Aliados dizem que o perfil dele não é o de ruptura, ainda mais distante dos holofotes políticos.
A Câmara é quem vota, hoje, as principais matérias do país. A Casa discute duas “fatias” da reforma tributária, a reforma administrativa, a reforma política e o voto impresso, por exemplo. No Senado, a CPI da Covid “rouba” toda a atenção.
Sem materialidades contundentes para colocar o governo definitivamente sob suspeita na CPI, Pacheco não cogita romper com o governo e criar uma relação de tensão, até porque ele ainda sonda o incerto terreno da “terceira via” — que pode contar, inclusive, com o apresentador José Luiz Datena como candidato do PSL.
Pelo contrário, o presidente do Senado tenta ter o governo como aliado para trazer algum holofote além da CPI da Covid à Casa. O senador busca uma sintonia fina com a equipe econômica até para assegurar a votação do projeto do Novo Refis, de sua autoria, para permitir que empresas parcelem, com descontos, dívidas com a União.
A ideia de um “passaporte” tributário foi negociada como uma das “fatias” da reforma tributária. A proposta, discutida pelo projeto de lei (PL) 4728/2020, pode ser votado em agosto. Outra matéria que tramita no Senado com “dedo” de Pacheco é a PEC 110/19, que unifica impostos. O relator do texto, senador Roberto Rocha (PSDB-MA), prometeu entregar o parecer nos próximos dias.
O acordo inicial com o governo era o de discutir a unificação do PIS e Cofins pelo texto que tramita na Câmara, e deixar o debate da unificação de ICMS e ISS para o Senado — embora não tenha apoio da equipe econômica. Pacheco, contudo, atua nos bastidores a favor da PEC 110, atendendo a um pleito dos senadores, que são contrários à ideia de uma reforma tributária fatiada.
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