Marcha de extrema direita em Jerusalém é desafio ao novo premiê de Israel

JERUSALÉM — Um dia depois de ser confirmado pelo Parlamento israelense, o novo governo deu sinal verde para a realização de uma marcha de extrema direita em Jerusalém, nesta terça-feira. 

O evento já havia sido vetado mais de uma vez  por razões de segurança e analistas veem o risco de o ato ser o estopim para reiniciar as tensões na cidade, que, em maio, desencadearam o violento conflito entre Israel e o Hamas, grupo que controla militarmente a Faixa de Gaza.

A decisão foi tomada depois de uma reunião entre o novo ministro de Segurança Interna, Omar Barlev, e representantes da polícia nacional. Segundo Barlev, os agentes estavam bem preparados e “estão sendo tomados grandes esforços para preservar o delicado equilíbrio da vida e segurança pública”.

Não foram reveladas informações detalhadas sobre a rota da marcha, anteriormente barrada pelas autoridades, ou sobre a quantidade de pessoas permitidas. 

O que se sabe é que ela passará por áreas de Jerusalém Oriental, ocupada por Israel em 1967 e de população majoritariamente árabe, o que pode potencialmente causar distúrbios.

O evento promete ser o primeiro grande teste do recém-formado Gabinete de governo, composto por representantes de diversos campos políticos israelenses, desde o premiê, o ultranacionalista Naftali Bennett, passando pelo centrista chanceler Yair Lapid, até ministros ligados à esquerda e a siglas árabes.

Embora tenha marcado o fim de 12 anos de Benjamin Netanyahu no poder, agora alçado ao posto de líder da oposição, a chegada de um novo governo não animou as lideranças palestinas. 

Boa parte do novo Gabinete, a começar por Bennett, é contrária à solução de dois Estados, um sinal de que a retomada das negociações de paz, congeladas desde 2014, pode estar mais longe do que se gostaria.

‘Dia de fúria’

Facções palestinas já se colocaram contra a iniciativa, e defendem um “dia de fúria”, o que na prática pode significar confrontos em áreas de Jerusalém, incluindo na Esplanada das Mesquitas, como os que levaram ao conflito do mês passado.

“Estamos chamando os Palestinos em Jerusalém e dentro da Linha Verde (linha que teoricamente delimita os Territórios Palestinos) para que impeçam a marcha amanhã (terça-feira)”, afirmou à imprensa o porta-voz do Hamas, Abdulatif al-Qanua.

Para ele, o evento, que prevê centenas de israelenses de extrema direita caminhando com bandeiras de Israel e cantando slogans nacionalistas pelas ruas de Jerusalém, será um “estopim para uma nova explosão” na cidade sagrada. 

O premiê palestino, Mohammad Shtayyeh, ligado à Autoridade Nacional Palestina, baseada na Cisjordânia, disse que “essa era uma provocação” e uma “agressão” contra os locais sagrados para os muçulmanos. “Não vemos o novo governo sendo “menos pior” do que os anteriores”, afirmou o premiê Stayyeh, ao Gabinete palestino.

Em resposta, os militares israelenses elevaram o nível de alerta nos postos de fronteira, e colocaram em prontidão as baterias de mísseis que compõem o sistema de defesa Domo de Ferro, responsável por interceptar centenas de foguetes vindos de Gaza durante o conflito do mês passado. 

Analistas israelenses veem a possibilidade de que a temperatura elevada por conta da marcha possa servir de argumento para que o sensível acordo de cessar-fogo entre Hamas e Israel seja quebrado. Por outro lado, um eventual cancelamento de última hora poderá dar munição aos nacionalistas contra o novo governo e até servir de motivação para novos atos de violência.

A marcha original, prevista para o dia 10 de maio, foi cancelada já em meio aos confrontos diários entre a polícia e manifestantes palestinos na Esplanada das Mesquitas e na vizinhança de Sheikh Jarrah, onde famílias palestinas brigavam na Suprema Corte contra uma ordem de despejo emitida por um juiz de primeira instância.

Naquela mesma noite, cerca de 150 foguetes foram lançados por grupos palestinos baseados em Gaza contra cidades israelenses, sendo respondidos com duros ataques aéreos de Israel, em um embate que durou cerca de duas semanas e matou mais de 270 palestinos e 12 israelenses, segundo estimativas da Organização das Nações Unidas. Ao mesmo tempo, foram registrados alguns dos mais violentos episódios de violência entre judeus ultraconservadores e árabes-israelenses. /AFP

Confira a matéria no Estadão

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