As mudanças no estatuto do Patriota em preparação à possível filiação do presidente Jair Bolsonaro para disputar a reeleição em 2022 podem terminar na Justiça. Uma ala ligada ao vice-presidente do partido Ovasco Resende discorda da forma como o presidente do Patriota, Adilson Barroso, vem conduzindo o processo e ameaça judicializar a questão. Nesta segunda-feira (14), Barroso promoveu uma nova convenção para aprovação de modificações no estatuto, sob protestos do grupo de Resende.
A convenção nacional da legenda já tinha sido realizada há duas semanas, quando Barroso mudou o estatuto numa reunião virtual contestada por parte dos dirigentes na Justiça, em cartório e na polícia. Ele então marcou outra convenção que ocorreu também de forma virtual e dessa vez foi acompanhado pelo advogado Admar Gonzaga, que estava à frente do partido Aliança Pelo Brasil que o presidente Bolsonaro tentou fundar.
Recém-filiado ao Patriota, o senador Flávio Bolsonaro (RJ) externou a preocupação do presidente Jair Bolsonaro em relação à disputa interna no partido. Na convenção, o filho “01” disse que seu pai “não vai cortar a cabeça de ninguém”, mas precisa de “segurança jurídica” para se filiar.
Nessa nova convenção, os integrantes da legenda aprovaram a ampliação do número de integrantes do diretório nacional. A estratégia, segundo os opositores, é uma manobra para acomodar os aliados de Bolsonaro.
“Estamos pulando de 32 ou 35 para mais de 110, 120 pessoas, alguma coisa assim. Se a maioria concordar, [a ideia] é que o partido seja mais democrático, mais puro em relação a não concentração em dois grupos”, disse Barroso durante a votação.
No entanto, a ala ligada ao vice-presidente do Patriota reclama de fraudes na realização da convenção e na substituição de integrantes do diretório. “No desespero o presidente nacional do Patriota, Adilson Barroso, promove um verdadeiro festival de fraudes na convenção de hoje. Não houve debate democrático”, acusou o secretário-geral do Patriota, Jorcelino Braga.
Ainda não há um prazo para a solução do imbróglio jurídico, mas segundo Braga, a judicialização será feita. “O nosso departamento jurídico está estudando quais serão os caminhos jurídicos que iremos seguir”, disse.
Apesar do impasse, os opositores afirmam que não são contra a filiação de Bolsonaro e seus aliados. Entretanto, demonstram descontentamento com a falta de divulgação dos acordos feitos entre Barroso e o presidente Bolsonaro.
Imbróglio no Patriota tende a atrasar filiação de Bolsonaro
O entrave pode acabar atrasando a confirmação da filiação de Jair Bolsonaro, que estava prevista para ocorrer em até 15 dias após a primeira convenção. Um encontro entre Bolsonaro e deputados bolsonaristas do PSL, que devem seguir com o presidente para a nova legenda, estava previsto para ocorrer nesta quarta-feira (16). A intenção era anunciar a filiação nesta semana. Agora, a confirmação só deve sair após o imbróglio político no Patriota se resolva.
“O presidente Bolsonaro está aguardando o desdobramento do que vai acontecer no Patriota. Ele não quer ter preocupação partidária. Já tem um país para tocar e quer cuidar da questão eleitoral. Quer ter autonomia na hora de fechar palanques nos estados, com senadores, deputados. Não vem para cortar cabeça de ninguém, não”, disse Flávio Bolsonaro.
Durante a convenção, Flávio admitiu que aliados bolsonaristas querem assumir postos na estrutura partidária. Além disso, Bolsonaro quer ter autonomia para tomar decisões na legenda.
Com o controle do partido, Bolsonaro pretende evitar o que ocorreu com o PSL depois da sua eleição em 2018. Até então considerada uma legenda nanica, o PSL viu sua projeção crescer com a eleição de mais de 50 deputados aliados do presidente e, com isso, passou a deter uma das maiores fatias dos fundos eleitoral e partidário, além de tempo maior de propaganda no rádio e na TV.
No Patriota, que hoje tem apenas seis deputados federais, aliados do presidente Bolsonaro estimam eleger ao menos 50 novos parlamentares em 2022, além de senadores e governadores. Estima-se que, dos 53 deputados do PSL, ao menos 30 pretendem seguir o presidente para a nova legenda.
Patriota deve sofrer debandada de filiados
Com cerca de 300 mil filiados pelo país, o Patriota deve sofrer uma debandada de correligionários caso a filiação do clã Bolsonaro seja confirmada. A principal movimentação tende a ocorrer pelos integrantes do Movimento Brasil Livre (MBL), que estão no partido desde 2019 e detém o controle do diretório estadual de São Paulo.
Jorcelino Braga também já disse que não tem condições de permanecer caso a Justiça imponha uma derrota ao seu grupo. “Se perdermos, não há condições de ficarmos no partido. Você acha que eu vou conviver com um sujeito desse nível. Não há mais condições”, disse o secretário-geral ao Jornal Opção sobre a conduta de Adilson Barroso à frente da executiva nacional.
Ao jornal O Globo, o vice-presidente Ovasco Resende disse não acreditar que o presidente Jair Bolsonaro vá “entrar em um partido dividido”, uma vez que ele não teria “segurança nenhuma” de que sua candidatura à reeleição seria mantida. “Se aparecer um candidato mais forte nas pesquisas, Adilson [Barroso, presidente do partido] pode tirar a legenda e apoiar outro nome”, declarou.
O vice-presidente do Patriota afirmou “não ter nada contra Bolsonaro”, mas que seu grupo não foi consultado sobre a filiação de Flávio ou em ter o presidente como o candidato do partido em 2022. Ao Poder 360, Barroso alegou que o racha que se instalou na legenda não atrapalha a escolha de Bolsonaro. “O presidente sabe quem está com ele”, disse.
Confira a matéria na Gazeta do Povo
Be the first to comment on "Filiação de Bolsonaro ao Patriota pode parar na Justiça; entenda por quê"