Desde o surgimento dos casos iniciais da Covid-19 em território nacional o Instituto Butantan habilmente se associou à fabricante chinesa de medicamentos Sinovac Biotech para conceber, desenvolver e testar a vacina batizada de Coronavac. A ideia inicial era que o primeiro lote fosse entregue ao Ministério da Saúde no final de dezembro de 2020. Vencidas todas etapas e superados os entraves políticos e burocráticos, a vacina começou a ser aplicada na população brasileira no final de janeiro deste ano.
Até então nada de comentário desfavorável à vacina. No entanto, após o depoimento do Dr. Dimas Covas, presidente do Butantan, à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da COVID-19, em 27/5/21, verificou-se que houve disparo de repasse de mensagens com questionamentos sobre a eficácia da Coronavac. Fala-se inclusive de possíveis ações judiciais pleiteando o direito de tomar novas doses de outra vacina por pessoas que foram infectadas com o vírus. Pela quantidade e semelhança do teor das referidas mensagens tenho sérias dúvidas sobre a veracidade dos fatos nelas narrados.
Não sou virologista, mas teria muito orgulho se tivesse abraçado essa desafiadora profissão. Tenho profunda admiração e muito respeito pela ciência e pelos profissionais da saúde e principalmente por aqueles que estão na linha de frente dos hospitais, tentando por todos meios possíveis salvar as pessoas acometidas com a Covid-19, mesmo sabendo que suas vidas estão sob elevado risco de serem perdidas pelo contágio desse traiçoeiro e perigoso vírus.
Minha esposa e eu já tomamos as duas doses da Coronavac. Porém, continuamos seguindo as recomendações das autoridades sanitárias para evitar nova infecção e repassar o vírus para outras pessoas. Somos gratos aos pesquisadores e cientistas do Butantan pela oportunidade que nos deram de receber a vacina. Temos muito orgulho daquela instituição, que vem produzindo diversas outras vacinas para nossa população há mais de 120 anos. Sem ela o Programa Nacional de Imunização teria retardado ainda mais suas atividades de combate à crise sanitária. Pela sua história de sucesso ao longo desse período, temos a obrigação de reconhecer que o referido órgão é patrimônio nacional, que presta inestimáveis serviços à população brasileira. Mais que isso, temos o dever de enaltecer sempre a reputação profissional de seus colaboradores. Como se sabe, a Coronavac passou pelo rígido processo de avaliação técnica da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), recebendo aprovação unânime do colegiado, sem qualquer ressalva a respeito da sua eficácia e segurança. Tenho igual apreço pelo trabalho sério desenvolvido pela ANVISA, sempre norteado por evidências científicas. Na opinião de especialistas, três aspectos importantes devem ser considerados na questão da capacidade dos imunizantes. O primeiro deles é que todas as vacinas em uso no mundo contra a Covid-19 são classificadas como de primeira geração, portanto passiveis de aperfeiçoamentos futuros. Outro ponto, é que o período de duração da imunização de cada vacina ainda está em fase de avaliação. E, por último, temos que levar em conta que novas cepas surgiram aqui e em outros países, aumentando os riscos de agravamento da crise, inclusive com a possibilidade da chegada de uma terceira onda. Sendo assim, questionar agora a capacidade de imunização da Coronavac ou de qualquer outra vacina, nos parece ser uma atitude motivada por interesses que não correspondem à realidade dos fatos.
Ademais, dada sua pertinência com o tema em pauta, é oportuno mencionar que estudo preliminar divulgado na última sexta-feira (28/5) pelo Ministério da Saúde do Uruguai revela que a Coronovac reduziu em 97% a mortalidade por Covid-19 e que o imunizante oferece altíssima proteção contra internações em UTI, com redução em torno de 95%. No Brasil, como é público e notório, houve uma drástica diminuição do número de óbitos de idosos após a vacinação da população enquadrada na faixa etária acima de 60 anos de idade. Por outro lado, houve aumento de internações e de mortes de pessoas mais jovens causadas pela doença. Todos esses dados nos levam à constatação de que, mesmo que a vacina não impeça a infeção, ela tem um importante papel para que a doença não se agrave, conclui o estudo. Em face desses dados, finalizo com este questionamento: qual seria então a verdadeira motivação das suspeitas ora levantadas sobre a eficácia da Coronovac?
Nosso foco é o Brasil
Brasília, 30/05/2021 José Leite Coutinho
Be the first to comment on "QUESTIONAR A EFICÁCIA DA CORONAVC É QUESTIONAR A IDONEIDADE TÉCNICA DO BUTANTAN E DA ANVISA"