Mortes de gestantes crescem 65% durante a pandemia de Covid-19 no Ceará

Até 9 de junho, nove mulheres gestantes e oito puérperas – cujo parto ocorreu em até 45 dias – vieram a óbito por Covid-19 no Ceará. Em todo o estado, 239 pacientes dos dois grupos foram confirmados com Covid-19 no período da pandemia, segundo a Secretaria Estadual da Saúde (Sesa).

primeiro país a sofrer com a pandemia do novo coronavírus (SARS-CoV-2). Enquanto o país asiático divulga o número de 4.638 óbitos, segundo a Universidade de Medicina Johns Hopikins, dos Estados Unidos, a plataforma IntegraSUS, da Secretaria da Saúde já aponta 4.708 mortes no Ceará.

Na última terça-feira (9), 17 pacientes gestantes e puérperas, suspeitas e confirmadas com a doença, estavam internadas em hospitais da rede estadual, em hospitais de Fortaleza, Sobral e Quixeramobim.

Segundo a última atualização da plataforma IntegraSUS, na tarde desta quinta-feira (11), não havia nenhuma grávida ocupando Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs). No entanto, os leitos de enfermaria para esse grupo estavam 66,3% preenchidos.

Mesmo sem diagnóstico da doença, a profissional de Educação Física Kalyne Carneiro, 29, conta que tem passado a quarentena totalmente isolada em casa. Ela só sai para as consultas do pré-natal da gestação de 33 semanas do menino Ravi.

“Só agora, nos meses mais perto do parto, vou ficar indo direto. Quando vou, é de máscara, e assim que volto já tomo banho”, lembra. Kalyne deseja parto natural, por isso busca estar em dias com a saúde porque sabe que “a grávida fica com imunidade baixa”.

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O Ministério da Saúde incluiu, em abril, gestantes e puérperas no grupo de risco da Covid-19 por considerar que elas estão mais vulneráveis a infecções em geral. Contudo, segundo a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), ainda não há evidência de maior risco para as gestantes do que para a população em geral. No Ceará, a Sesa considera que gestantes de alto risco têm condições clínicas para desenvolver complicações.

O acompanhamento de consultas virtuais de março deu lugar a algumas consultas presenciais no pré-natal da professora Eliane Forte, 36, moradora de Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza. Ela, que gesta Mateus há 33 semanas e espera um parto cesáreo para 20 de julho, elogia os cuidados nas unidades de saúde para impedir a contaminação.

Segundo a Maternidade Escola Assis Chateaubriand (Meac), unidade do Complexo Hospitalar da Universidade Federal do Ceará (UFC), o atendimento às gestantes no local, segue “as devidas condutas de biossegurança para os profissionais de saúde e para as pacientes”. Também disse que já registrou partos de mulheres com confirmação ou suspeita de Covid-19, mas não informou quantos.

As grávidas internadas na Meac com sintomas de síndrome gripal são isoladas em enfermaria separada das demais. Às equipes de atendimento, a maternidade “fornece todos os EPIs (equipamentos de proteção individual) necessários”, além de capacitações específicas para procedimentos durante a pandemia.

Na visão da doula Yasmin Farias, mesmo sem contaminação direta, a Covid-19 impacta em maiores demandas emocionais das gestantes. “Isso pode influenciar diretamente no parto da mulher porque muito depende do quanto ela se sente acolhida e protegida e libere ocitocina para as contrações”, explica.

Com as rodas de conversa e atendimentos presenciais substituídos por teleconsultas, a doula tem percebido sobrecarga e ansiedade da mulher. “Sempre falo que é muito importante ela fazer o que estiver ao alcance. O resto é confiar e não deixar de viver, principalmente nesse momento, porque gerar uma nova vida é uma esperança”, ressalta.

Por causa das incertezas, a professora Eliane Forte prefere focar no trabalho, exercícios físicos, orações e na montagem do enxoval, escolhido online. Ela espera que a pandemia traga mudanças reais. “Quero que o Mateus encontre um mundo mais humano, melhorado, com humildade, solidariedade e fé”, pensa.

Confira a matéria na G1

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